sexta-feira, 17 de maio de 2013

Destinos Interrompidos, Lissa Price


Opinião: Num futuro incerto, uma guerra de armas químicas deixou vivas apenas duas faixas etárias - os Iniciantes, crianças e adolescentes com idade abaixo dos 18-20 anos, e os Terminantes, com idade acima dos 60, até próximo dos 200. Callie é uma jovem de 16 anos que vive nas ruas com o irmão Tyler, de 7 anos, e com uma infecção pulmonar grave, e com Michael, o melhor amigo. É então que Callie ouve falar da Destinos Primordiais, uma empresa que em troca do aluguer do corpo de Callie a Terminantes ricos por curtos períodos de tempo, lhe promete rios de dinheiro. Uma proposta irrecusável, que permitirá a Callie ajudar o irmão doente.

Este é um livro com uma premissa que me deixou bastante curiosa. A ideia de um conflito geracional entre jovens e idosos é muito interessante, especialmente quando se introduz a ideia da Destinos Primordiais, uma empresa que permite alugar corpos de jovens a idosos ricos por um período de tempo, permitindo aos idosos viver como um jovem outra vez, fazendo desportos radicais, conduzindo carros topo-de-gama e frequentando discotecas. A ideia é um misto de Dollhouse com Surrogates (Os Substitutos), e sugere uma série de questões éticas que vale a pena analisar. (Mas achei inútil o pormenor de as pessoas viverem até aos 200 anos, porque não contribuiu grande coisa para a história. Era igual se vivessem até aos 100 ou 120 anos, parece-me.)

Por outro lado, preferia que alguns aspectos do worldbuilding estivessem mais desenvolvidos, particularmente a parte da Guerra dos Esporos (o que é que ocorreu no passado para levar a esta? a autora foi vaga neste ponto) e as repercussões que teve na geração dos dois grupos etários. A autora admite no seu site que alguns membros da faixa etária mediana (20-60 anos) sobreviveram porque conseguiram a vacina que protegeu os outros dois grupos, mas há outros aspectos a ter em conta. Primeiro, porque duvido que os cientistas que desenvolveram a fabulosa vacina não lhe tivessem feito testes antes, testes esses que possivelmente indicariam que todos os grupos etários estariam vulneráveis aos Esporos, não só os jovens e idosos, e assim não sei se haveria a triagem que favoreceu os jovens e idosos. E depois porque, por mais mortal que um agente patogénico seja, há sempre alguém que consegue resistir, por isso a dizimação vista no grupo etário mediano pareceu-me excessiva.

Um ponto positivo da história é o ritmo do enredo, que em grande parte flui muito bem, ao estilo thriller, fazendo com que viremos as páginas rapidamente para descobrir o que vai acontecer a seguir. Mas paradoxalmente, achei que houveram momentos na história, em que a Callie anda para trás e para a frente sem saber muito bem o que fazer, ou anda a explorar o que o dinheiro da Helena, a sua locatária, lhe traz, e que cortam o fluxo da história e nada contribuem para avançar o enredo.

Gostei da Callie como protagonista, era muito determinada e decidida a proteger o irmão, fazendo tudo por ele. E tem uns momentos fabulosamente badass, que me deixaram a torcer por ela como se não houvesse amanhã (a cena com o senador... naquele tipo de cena nunca ninguém cumpre o que promete, por isso foi refrescante ver a Callie a fazê-lo; e as cenas na Instituição; ou basicamente todas as cenas da fase final da história). Contudo, tive alguma dificuldade em concordar com certas decisões da Callie, especialmente naquelas cenas que menciono no parágrafo anterior (na parte inicial da história). É uma parte mais fraca do livro que merecia mais algum trabalho.

Achei que a parte do romance era algo desnecessário e cliché, não havendo nada que destaque a Callie e o Blake como casal. A única coisa boa deste romance é algo que descobrimos no fim, e que dá toda uma nova perspectiva à relação, mas também a mata, a meu ver. Achei que o Michael, o melhor amigo e talvez-algo-mais, tinha bastante potencial, mas infelizmente não aparece muito, espero que isto se inverta no livro seguinte.

Em suma, gostei, é um livro giro e que permite passar umas boas horas, mas tem algumas coisas que podiam ter sido melhor trabalhadas, tendo em conta o seu potencial. Conto ler o próximo livro, no entanto, porque me deixou muito curiosa com aquele fim.

Título original: Starters (2012)

Páginas: 352

Editora: Planeta

Tradução: Catarina F. Almeida

5 comentários:

  1. Isto da sintonia começa a ser grave... Até quando não combinámos fazemos destas coisas!!loool

    Concordo contigo claro mas gostei dela não incidir tanto no romance até porque...bem tu sabes porquê xD

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    1. Ahhh lol, também publicaste a tua! xD Bem, as nossas leituras andam sincronizadas, não admira que depois as opiniões também. :D

      Bem, o meu problema não é bem romance a mais ou menos, é mesmo ser tão cliché... "uhhhh, acho que temos um ligação especial!" *facepalm* É claro que as interacções deles ganham um interesse especial quando vemos o que está por trás, mas é por causa disso que gostava que as interacções deles não fossem tão genéricas.

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    2. Epa ya xD Mas somos as únicas! O pessoal deve pensar que combinámos lool

      Sim, acaba por ser muito bahhh e merecia algo mais aprofundado digámos assim mas pronto a senhora não deu para mais

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  2. Curioso falares na série Dollhouse, pois também pensei várias vezes nela ao longo da leitura.

    Quanto à guerra dos esporos, a autora está prestes a apresentar um mini-livro (à falta de melhor designação)para descrever o que aconteceu. Vai-se chamar "Portrait of a Spore".

    Relativamente ao romance, ao longo da leitura achei o mesmo, mas a reviravolta final deixa perceber que a preocupação da autora era outra e isso dá uma força muito interessante ao livro.

    Vamos lá ver o que nos revela o próximo e último volume =)

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    1. Estás a falar de um dos contos/novelas que ela escreveu para acompanhar a série, certo? Bem que gostava de os ler, mas em e-book na Amazon aparecem-me uns preços que me parecem caros para uma história de 15-30 páginas... :/ Vou esperar para ver, pode ser que juntem à edição do próximo livro em português. *faz figas*

      A parte boa do romance foi essa, a revelação final... que coisa arrepiante. Gostava de ver o que a autora tem preparado para o próximo livro neste aspecto, ao menos deixou-me intrigada. :)

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