terça-feira, 21 de maio de 2013

O Tempo Entre Nós, Tamara Ireland Stone


Opinião: Um livro doce e romântico, Tamara Ireland Stone cria aqui uma história bem gira sobre um casal fora de tempo. Anna tem 16 e vive em 1995, em Evanston, Illinois, e Bennett tem 17 anos, vivendo em São Francisco, California. Um acaso faz com que se conheçam, pois Bennett consegue viajar no tempo e no espaço. Mas pode haver um final feliz para um casal que não vive no mesmo momento?

Gostei do ritmo da narrativa, mais calmo, pois permitiu-me apreciar a relação que se desenvolvia aos poucos entre a Anna e o Bennett. O aspecto das viagens no tempo, a capacidade do Bennett, é importante para a história, determinando certos acontecimentos, mas não a domina, fazendo da história um misto entre romance contemporâneo (vou considerar contemporâneo, apesar de se passar em 1995, porque tem ecos das histórias contemporâneas YA que já li este ano) e ficção científica.

A Anna é uma boa personagem. Sabe o que quer da vida, tem sonhos, que espera realizar no futuro. É uma miúda bem comportada, tem uma boa relação com os pais, e praticamente nunca se assusta ou se passa com a capacidade do Bennett, pensando no que ele lhe revela e percebendo a sua capacidade, já que a viu ao vivo. Houve um momento em que preferia que a Anna não tivesse pedido ao Bennett para usar a sua capacidade, ou que pelo menos se tivesse apercebido melhor da enormidade do que estava a pedir, porque mais tarde na história fica zangada com um par de coisas que ele faz e espera que ele perceba automaticamente que estava errado.

O Bennett mantém-se um pouco mais envolto em mistério como personagem, porque a história é vista do ponto de vista da Anna, mas podemos vislumbrar algumas coisas, e achei-o muito cativante. A relação com os pais parece ser difícil. Adora a irmã e a avó, e gostei muito da relação que tinha com elas. Gosto de o ver com a Anna, porque se complementam, e porque a sua história é feita de altos e baixos, momentos doces e zangas, como qualquer adolescente.

Achei interessante o aspecto das viagens no tempo e as suas restrições. Como disse, não domina a narrativa, mas a autora revelou o suficiente para eu ficar satisfeita. E creio que "as regras" fizeram sentido. O facto de o Bennett não poder viajar para trás do seu tempo de vida, o modo como volta atrás no mesmo local e "elimina" o seu eu anterior, o modo como se lembra das duas timelines, a antiga e a modificada. (E como estes factos se aplicam a outros personagens.) Gosto de histórias com viagens no tempo, mas às vezes a logística é tão complicada, especialmente quando metemos várias timelines ao barulho, e modificações dos acontecimentos e coisas do género. Por isso foi muito bom ver as coisas fazer sentido. Estava quase à espera que grandes alterações dos acontecimentos produzissem grandes cataclismos, mas acho que prefiro assim - a Anna apercebe-se à mesma das consequências das mudanças, e faz sentido, aquela consequência em particular. Fiquei com a sensação que a maior parte das mudanças gera um esforço da timeline para manter as coisas o mais iguais e estáveis possível (se é que isto faz sentido), mas também a maior parte das mudanças era muito pequena.

A reviravolta final, bem, não era nada que não estivesse à espera, mas foi curioso vê-la desenrolar-se e ver a Anna seguir um dos seus sonhos e não ficar presa à memória do Bennett. Acabou por resolver as coisas melhor do que ela esperava. Depois disto, e sabendo que temos um segundo livro, espero ver as complicações da decisão da Anna e do Bennett, e espero vê-los revelar coisas a quem deviam revelar, visitar e conhecer quem deviam conhecer, e aperceberem-se do que implica ficarem juntos.

Uma nota à tradução, que cometeu um dos meus pet peeves da tradução - traduzir "grilled cheese" por "queijo gratinado". (Ao menos o tradutor foi original e não traduziu por "queijo grelhado".) Mas custa muito fazerem uma pesquisazinha e repararem que estamos a falar de "tostas de queijo"? Cada vez mais noto que as traduções em Portugal são feitas dum modo mecânico, sem prestar atenção ao conteúdo e à lógica interna da história, e isso não pode ser, porque depois saem asneiras destas. Começo a achar que era capaz de fazer melhor trabalho que muitos supostos profissionais da tradução.

E outra nota para a edição, que está tão esquisita. Há partes em que parece que há um tamanho de letra, e partes em que parece que há outro. E partes onde há um espaçamento X e depois mais à frente há um espaçamento mais apertado. Até me dei ao trabalho de contar linhas em páginas diferentes da história, e não há consistência nenhuma no número de linhas por página. Não é uma coisa que incomode muito, mas é bizarra o suficiente para ter notado. E com tantas trocas e baldrocas, se o manuscrito estivesse homogéneo, talvez não fosse preciso haver texto na última página, que podia ter ficado em branco.

Título original: Time Between Us (2012)

Páginas: 320

Editora: Asa

Tradução: Ana Beatriz Manso

4 comentários:

  1. Eu sinceramente não estou a gostar muito. Até ao momento (180 páginas) parece-me bastante boring. Sem ritmo, os protagonistas e a história têm um quê de twilight... esperava mais tb de uma história com viagem no tempo. A forma como ele descobre o dom é totalmente "hã??" e o porquê de estar no passado é "what?" (ia a concertos de música com a irmã..). Quando ele fala dos pais, eles tb não parecem muito normais, sobretudo o pai.. Esperava algo mais elaborado sinceramente. A não ser que as restantes páginas me façam mudar de ideia.

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  2. (ia a concertos de música com a irmã e ela ficou presa no passado. A parte de ficar presa no passado muito bem, mas passar por aquele mau estar todo depois de "viajar" para irem a concertos de música...) tb não o vejo assim tão preocupado com a irmã, que pelo visto está desaparecida desde 94..

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