sexta-feira, 28 de junho de 2013

Brave New World, Aldous Huxley


Opinião: Há livros que nos deixam sem saber muito bem o que dizer acerca deles. Este é um deles. Por um lado, porque é o tipo de livro que é melhor saboreado (quero dizer, lido) sem se saber grande coisa e sem ideias pré-concebidas, porque nada do que possamos imaginar pela sinopse ou pelas palavras de outros se aproxima do que se passa realmente no livro.

Por outro, porque não quero spoilar ninguém, o que será difícil. Suponho que para contribuir para isso posso já avisar para não lerem, nunca, introduções sobre este livro (ou outro qualquer), e muito menos lerem o "Foreword" (Prefácio) do autor, escrito em 1946. É que ambos estão muito mal colocados antes da história começar.

O Prefácio do autor, porque spoila o destino de um dos personagens. (Ser spoilada pela autor, especialmente depois deste já ter morrido, é muito mau.) E porque o autor reflecte, 14 anos após a publicação do livro, e tendo em conta a 2ª Grande Guerra e o pós-guerra, sobre o que teria mudado no livro se o escrevesse naquele momento. Faz muito mais sentido ler depois de conhecer o livro em si; devia ser um pósfácio. As introduções também não deviam ser introduções, pela mesma razão - fazem mais sentido lidas depois, não antes.

E serviço público e boa acção do dia terminados. Não se metam nas introduções, que elas enganam e não são introduções nenhumas.

A outra coisa que tenho a dizer... é que vergonha é não haver uma tradução disponível deste livro à venda nas livrarias. Sei que a Livros do Brasil o publicou no passado, mas tendo em conta que o livro já não se encontra em lado nenhum, parece-me que está esgotado. E um livro destes não o merece.

Há que dizer que a construção desta sociedade é genial. Revela um certo conhecimento sobre a natureza humana, mas depois inverte completamente os valores da sociedade. É fascinante e algo doentio (e também é um momento a tender para o info-dump, mas não se pode ser perfeito em tudo) ler sobre a linha de montagem de bebés, e tudo o que implica o condicionamento destes futuros integrantes da sociedade. Há algumas coisas que hoje são capazes de não fazer sentido, mas o autor pensou em tudo com um detalhe abismal.

A estruturação da sociedade em castas é muito interessante, especialmente pelo que leva a que se faça de diferente na "linha de montagem de bebés". Mas todos estão felizes com o seu lugar, porque foram condicionados para se sentirem felizes com o seu lugar. E a questão do sexo gera situações hilariantes, em comparação com os valores da nossa sociedade. Num mundo em que "todos são de todos", uma pessoa é censurada por ter apenas um parceiro, não vários, e as conversas entre a Fanny e a Lenina são muito divertidas de seguir neste aspecto.

O choque de culturas também é um dos aspectos cativantes de seguir. Primeiro na personagem da Linda, que se vê entre os "selvagens" e nunca se adapta à sua sociedade. (Suspeito que o condicionamento mata qualquer capacidade de adaptação que um humano tenha.) Depois no personagem do John, que é apresentado à civilização... quando tudo o que conheceu são os "selvagens" e os seus valores. O choque é grande, e a falta de compreensão entre as partes não o colmata.

Para além do John, gostei bastante de outros dois personagens. O Mustapha Mond pelas opções que tomou para ficar na posição que tem nesta sociedade. E o Bernard Marx porque, coitado, é visto como defeituoso, por não se encaixar bem naquela sociedade, mas seria um integrante perfeito da nossa. Cobarde, susceptível à fama, vira-casacas, choramingas... mas não consigo zangar-me com ele por causa disso.

A evolução da história tem um ritmo bom, até certo ponto, quando a vila dos "selvagens" é introduzida. O que é interessante de um certo ponto... contudo, é um acontecimento que quase me soou estranho à história, porque lhe dá uma volta inesperada, mas demasiado conveniente. É uma transição estranha. Podiam haver outras maneiras de levar o John à civilização sem afectar o que acontece depois disso.

Enfim... acho que já perceberam. Ide ler este livro, que só fazem bem. Suponho que há de haver alfarrabistas que o tenham em português, se bem que é capaz de ser difícil. (Na Feira do Livro não o vi em nenhum.) E o inglês é acessível, talvez um pouco mais complexo do que o normal, mas permite seguir bastante bem a história.

Nota: ainda não percebi porque é que a capa deste livro disponível por aí é branca. A minha cópia é mais de fundo prateado. Pelo menos, o ISBN da minha cópia leva-me sempre à capa branca. Excepto na Amazon. Pois, pelos vistos a cor cinzento-prateada fica muito mal quando se vê no ecrã do computador. Mas de resto, a capa é perfeita para a história.

Páginas: 288

Editora: Vintage (Random House)

1 comentário:

  1. Tenho muita curiosidade em ler este livro..
    E é uma pena saber que já não se encontra à venda em Portugal..
    Beijinhos*

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