domingo, 2 de junho de 2013

Under the Never Sky, Veronica Rossi


Opinião: Isto nunca tinha acontecido, que eu me lembre, mas a leitura deste livro quase foi afectada pela leitura do anterior. Ou pelo menos o início da leitura. O Dead Silence matou-me a vontade de ler ali por uns dias, e a Veronica Rossi não facilita, atirando-nos directamente para este mundo sem explicações, e apresentando-nos um par de personagens de que não é fácil gostar ao início. Mas insisti, e acabei agradavelmente surpreendida com o que tinha em mãos.

Tanto a Aria como o Perry começam a história num mau momento. Ela preocupada com a mãe, que está desaparecida; ele convencido que será um melhor líder para a tribo que o irmão, mas incapaz de o desafiar pelo lugar. Não é fácil gostar das pessoas que eles são no inicio. Achei a Aria algo tontinha, e o Perry um queixinhas que não era capaz de enfrentar as suas circunstâncias. As boas notícias são: eles evoluem ao longo da história, fazendo-me gostar cada vez mais deles, aos poucos. É difícil um autor conseguir dar uma reviravolta destas, especialmente com personagens, porque se estes não foram interessantes e credíveis, para mim a história vai pelo cano abaixo.

Contudo, a Veronica Rossi consegue-o. Aliás, ela lembra-me uma autora, com a qual eu me vou arrepender de compará-la, de certeza, mas aqui vai. Lembra-me a Juliet Marillier, no modo como faz evoluir os personagens (o Perry quase que podia ser um herói da Juliet, selvagem mas com um bom coração), e no tipo de jornada pela qual os faz passar. Agora não se ponham a ler isto à espera duma Juliet Mariller, que em muitos outros aspectos as duas autoras não têm nada a ver, e depois saem desiludidos. (Bem, pelo menos eu avisei.)

Voltando à Aria e ao Perry... duas pessoas mais diferentes não podiam existir. E os primeiros dias da convivência forçada deles são algo patéticos, mas até divertidos de ver, com duas pessoas a tentar remar em direcções diferentes. É por isso que vê-los aproximar-se um do outro é tão delicioso de ver ler. É o tipo de coisa que se esgueira e me surpreende por estar a certa altura a torcer por eles. E o melhor é que continuam a ser duas pessoas diferentes, com diferentes objectivos e interesses, que não os sacrificam pelo outro.

Os personagens secundários fazem um elenco muito cativante, incluindo aqueles personagens que ainda não conhecemos. Adorei o Roar e fiquei mesmo curiosa por conhecer a ausente Liv, e por saber mais da história deles. O Cinder foi um miúdo que também gostei de conhecer, especialmente pela história (mais ou menos) triste dele.

A parte mais complicada, mas que ainda assim me deixou fascinada, é o worldbuilding. A autora conjuga ali uma série de elementos que caminham no limite entre "uau! que conjugação fixe de coisas" e "isto já não são coisas a mais?", e que equilíbrio ténue é esse, especialmente porque ela não explica as coisas, propriamente, preferindo deixar-nos tirar as nossas conclusões. Eu gostei do estilo, é algo subtil na maneira como nos dá as peças do puzzle, deixando-nos a tarefa de o montar, mas acredito que não agrade a toda a gente, especialmente porque no início dificulta a tarefa ao leitor (já que não há peças quase nenhumas para montar o puzzle). Quanto ao estilo de escrita, tenho ainda de mencionar que a autora tem um sentido de humor fabuloso a escrever que adorei.

Fiquei intrigada com a dualidade deste mundo - Dwellers, a viver em redomas de vidro metafóricas que os protegem do mundo exterior, e que vivem em mundos de realidade virtual para impedir o aborrecimento; e Savages, os que vivem no mundo exterior, sujeitos à inclemência do Aether. Achei muito curioso o conceito de Aether (pelas descrições da autora, imaginei-o como se o ar estivesse electricamente carregado, e de vez em quando descarregasse em tempestades destruidoras - se é que a minha interpretação faz sentido), e fiquei fascinada com o pormenor de alguns Savages terem sentidos mais desenvolvidos e apurados. A descrição que a autora faz do que os Scires (olfacto) e Audiles (audição) conseguem fazer é bem interessante.

Em suma, recomendaria? Sim, e recomendaria insistir mesmo se o livro estiver a parecer difícil de desvendar. Mas isto eu que raramente desisto de um livro, mesmo que esteja a dar comigo em doida. Podia ter dado para o torto? Podia, mas acabei por gostar muito dele. Vale a pena, no fim de contas é uma aventura fantástica de acompanhar, com uns personagens eventualmente cativantes e um mundo intrigante.

Páginas: 400

Editora: Atom (Random House)

3 comentários:

  1. LOL, tivemos a mesma reacção a este livro. xD Começa estranho e fraquinho mas depois lá convence. É mesmo esquisito como a autora consegue fazer---como dizes---a reviravolta, não é? eu houve uma altura em que já não dava nadinha por este livro mas ainda bem que não desisti. Fascinou-me o casal odiar-se tanto e durante tanto tempo, isto para quem já mal aguenta insta-love é um achado.

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    1. Yup! =) Estou tentada a usar as nossas reviews para convencer as meninas no read-along, parece que está tudo pendurado no início do livro. :/

      Ah, as reviravoltas que ela dá ao livro... parece que nem é o mesmo livro, pelo menos se me lembrar do que estava a pensar no início, e comparar com o fim. xD

      O Perry quase que dava comigo em doida com aquelas queixinhas todas sobre o irmão e a situação dele, e a Aria foi tão pateta a lidar com o Soren e o pai. E a Aria e o Perry davam-se tão mal, lol, eram tão preconceituosos um com o outro. Quase como a Lizzie e o Darcy, na verdade. ^-^

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  2. Mesmo, é um PP distópico. xD Preconceitosos e tinham mesmo nojo um do outro, credo, nunca vi tal coisa. Mas de súbito a Aria lá começa a cheirar-lhe bem e tal... xD

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