domingo, 23 de junho de 2013

Ponte de Sonhos, Anne Bishop


Opinião: Andei a espreitar os meus comentários anteriores aos livros da Anne Bishop, e dei-me conta que as leituras desta autora foram feitas em duas fases. Uma no Verão de 2010, em que foi a loucura, comigo a percorrer 7 livros da autora - o 2º e o 3º livros da Trilogia das Jóias Negras, Herdeira das Sombras e Rainha das Trevas, para além de mais 3 livros passados no mundo das Jóias Negras, Teias de Sonhos (livro de contos), Jóia Perdida e Anel Oculto; e li ainda Sebastian e Beladonna, ambos passados num novo mundo criado pela autora, Efémera. No Verão de 2011 voltei à carga, lendo Aliança das Trevas e A Senhora de Shalador, ambos do mundo das Jóias Negras, mas com outros personagens, e Despertar do Crepúsculo, antologia de contos e novelas focados nos SaDiablo.

O que é que eu posso concluir daqui? Que não me canso de ler a autora. Por um lado, porque adoro o seu sentido de humor a escrever os seus personagens, e por mais livros que ela escreva nestes ou noutros mundos acabo por voltar a eles e encontrar esse consolo. Por outro, as coisas que ela imagina... este mundo de Efémera é uma coisa tão complexa, e por vezes ainda tenho dificuldade em visualizar este mundo composto de paisagens fragmentadas, equilibradas pelas Paisagistas e ligadas pelos Construtores de Pontes, e em que os sentimentos e emoções modelam o mundo em que se vive.

Neste volume, a autora expande mais um bocadinho o seu mundo, e chegamos a partes do mesmo em que não se conhecem conceitos que já nos são familiares, como o de Paisagistas, mas no entanto existe o equivalente desses conceitos neste novo espaço, a cidade de Visão. É uma coisa que aprecio que a autora faça, a extensão do seu mundo para novas paisagens, com culturas e sociedades diferentes, mas com conceitos semelhantes. Por outro lado, apresenta-nos a um novo modo, igualmente complexo e fascinante, de uma paisagem "funcionar", com a cidade de Visão - cidade essa que é posta em perigo pela presença de velhos inimigos num novo lugar.

E conhecemos uma nova raça sobrenatural, as Tríades - e, uau, é de loucos só de imaginar a logística da coisa. A Anne fez um bom trabalho a descrever a transição entre as três partes da Tríade, e em criar uma sociedade com os seus mitos e tabus, mas gostava que tivesse desenvolvido mais como é que funciona o dia-a-dia destes seres, porque é uma coisa que influencia o final, e acho que a autora se esquivou a elaborar essa parte.

Este é o livro do Lee, que está a tentar lidar com o que aconteceu à irmã no livro anterior, e a reconciliar o que ela era no passado com o que é no presente. No meio da amargura cruza-se com alguns magos que desejam mal à Belladonna e na tentativa de a proteger, vai parar a Visão, sozinho e meio louco.

Tenho pena do Lee. Há muitas vantagens em termos um elenco de personagens deste tipo, em que são todos como uma grande família, com os seus momentos divertidos e a preocupação uns com os outros. Mas também têm desvantagens. Uma é o facto de não conseguirem manter-se afastados quando alguém precisa de fazer alguma coisa por si próprio (como a Belladonna no fim do último livro, e até em certa medida o Lee neste). Outra é às vezes certos membros da família (e os seus problemas) passarem despercebidos. Que é o que acontece com o Lee no início deste livro basicamente a vida toda dele.

Portanto isto acaba por ser uma espécie de emancipação para o Lee, ao ver-se sozinho e desamparado num local que não conhece e ao qual a família não pode aceder. É em Visão que encontra todo um novo elenco de personagens muito interessantes. Temos Sholeh Zeela a Zhahar, a Tríade que melhor ficamos a conhecer, com personalidades muito distintas. O Danyal, que é a modos que um colega da Belladonna, mas que ainda tem muito que aprender com o seu dom. A Kobrah, que já conhecemos em A Voz, e que curiosamente se cruza com o Provocador, de todas as pessoas. E muitos outros... uma coisa que eu gosto na autora é que consegue criar personagens bem diferentes que a mim me soam como pessoas diferentes.

Tenho de confessar, uma das minhas partes favoritas é quando os dois lados do elenco de personagens se encontra. Especialmente o Lee e a Belladonna, porque há uma cena mesma gira que parte desse encontro. A partir daí, o livro perde um bocadinho o gás, acho que a autora podia ter planeado melhor algumas coisas e não deixar as revelações todas para o fim, porque acabou por dar cabo do ritmo que o enredo levava.

Quanto ao fim... preferia que não ficasse tão em aberto. Como disse ali em cima, a logística do dia-a-dia das Tríadas não ficou bem assente, e como é uma coisa que afecta o final dos protagonistas, custa-me que se tenha deixado tudo tão vago. Por outro lado, dei por mim a desejar ler mais sobre alguns dos personagens, e a querer que também eles tivessem o seu final feliz, por isso adoraria que a Anne Bishop escrevesse sobre os mesmos.

Título original: Bridge of Dreams (2012)

Páginas: 448

Editora: Saída de Emergência

Tradução: Maria João Trindade

3 comentários:

  1. Nós temos de nos deixar de sintonias xD Vou ver se publico a minha hoje loool

    A questão das Tríades ficou mal explicada e isto acabou demasiado em aberto, o que significa que deve vir aí mais disto =p

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    1. Estamos a tornar-nos em gémeas literárias, lol. ^-^ Com tantas leituras sincronizadas, não admira que as opiniões também saiam ao mesmo tempo. :P

      Pois, fiquei a pensar nisso... talvez depois da série de fantasia urbana ela volte a pegar em Efémera, houve imensos personagens que ficaram em aberto - o Provocador, a Kobrah, até a Caitlin, que eu achava que ia aparecer mais do que apareceu neste livro. :S

      E estou morbidamente curiosa acerca da logística das Tríades - se a Zeela ou a Sholeh arranjarem um namorado, como é que vai ser? xD

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    2. De facto estámos!xD

      Também me parece... Ela não costuma deixar as coisas tão em aberto =S A Caitlin não apareceu quase nada!

      Não me fales nisso, até me arrepio só de pensar -.-'

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