quinta-feira, 13 de junho de 2013

Só te Amo até Terça-feira, Rosa Luna


Opinião: Um dia destes, eu e a minha irmã estávamos a falar da colecção/chancela Tiara, e inevitavelmente fomos parar a dois livros em particular da mesma - este e um da autora Matilda Wright, chamado Aposta Indecente -, por estarem algo envoltos em mistério. Ficámos convencidas que são ambos de autores/as portugueses/as usando um pseudónimo.

Ora vejamos: a ficha técnica de ambos os livros não faz menção a tradutores. (E tendo em conta a efabulação em torno de ambas as autoras, duvido que tivessem escrito o livro em português, se fossem realmente chilena e inglesa, respectivamente.) As biografias de ambas estão suficientemente cheias de pormenores para dar um ar de credibilidade, mas ao mesmo tempo podem ser apenas inventadas, ou parcialmente baseadas na vida real da pessoa que realmente escreveu o livro. Não se encontra nada sobre as autoras na Internet, nadinha mesmo, nem sites, nem referências lá fora... só os posts da blogosfera literária portuguesa, ou os tópicos para as autoras num fórum literário português. (E hoje em dia toda a gente deixa um rasto online, não há como escapar... a não ser que se use uma alcunha ou um pseudónimo.)

Encontrei uma entrevista com a Matilda Wright e com a Rosa Luna algures, mas para ser honesta o "inglês" usado em ambas as entrevistas pareceu-me desajeitado, mais como um português a tentar escrever em inglês do que propriamente um nativo falante de inglês, que teria outra fluidez a escrever. No tópico sobre a Matilda Wright do tal fórum, alguém tinha falado com a editora, que jurava a pés juntos que sim, a autora era inglesa mesmo, blablabla... sim, pois, este "diz que disse" não me convence. E no caso da Rosa Luna, faz lá algum sentido que a autora tenha adaptado "este romance ao nosso país, alterando nomes e lugares"?

Não é inédito, o uso de pseudónimos em Portugal para vender livros. Lembro-me que durante o secundário, um autor português foi falar à minha escola, pois escrevia policiais que eram publicados sob um pseudónimo em inglês - Dick Haskins. Parece que sempre houve a noção cá em Portugal que os nossos autores são uma treta, e que o que é bom vem lá de fora. E pelos vistos, ainda não é agora que isso vai mudar, infelizmente. Por isso compreendo, em parte, a necessidade de vender um livro desta maneira. Só que não sei se nestes casos a efabulação serviu para alguma coisa.

E pronto, foi assim que decidi comprar e ler Só te Amo até Terça-feira. Li-o convencida que estava a ler um/a autor/a português/esa, e (pondo de parte os nomes) até achei que a história se podia passar em qualquer lado, não necessariamente em Portugal. O enredo tem o seu quê de cliché, porque o esqueleto-base da história é o arquétipo da Cinderela, mas convenceu-me, porque tem alguns pontos  cativantes. Podia estar mais desenvolvida, que não lhe fazia mal nenhum, mas o estilo epistolar presta-se a melhor a histórias mais curtas.

O que se destaca principalmente na história é a voz narrativa, a da Mariana. Escrito num tom confessional, dirigido a alguém, mas não usando propriamente a 2ª pessoa do singular, dá-nos um retrato vívido da personagem principal. Achei a Mariana um bocadinho stalker a mais para o meu gosto no início (que obsessão é aquela com andar a ver o Facebook do Diogo todos os dias? ou a convencer a secretária do Diogo a contar-lhe a agenda toda dele?), mas eventualmente conquistou-me.

Pois a Mariana é uma pessoa tímida, sozinha, passando facilmente despercebida, mas tem um lado mais decidido e, digamos atrevido, que podemos comprovar em como se impôs à família para seguir um caminho diferente da irmã, ou em certas tiradas que lança em conversa com o Diogo - que ele merece, já agora - e que me puseram na risota. Adorei as partes em que ela conhece a Sofia e a Joana, em como com a amizade delas se "solta" um pouco e sai de casa, crescendo mais um bocadinho. Também me agradou o tom de reflexão da Mariana e alguns pensamentos que ela expõe no papel - algumas passagens são bonitas.

Não gostei do Diogo, e basta uma razão - o modo como ele trata a Mariana a certa altura. Que palerma. Alguém com a posição na vida que ele tem, e tendo em conta aquilo por que já passou, ele tinha a obrigação de ser mais responsável do que se mostra. Odiei essa atitude dele. Não fosse o "susto" que apanhou e ainda estava entrincheirado na sua palermice. (São precisos dois para dançar o tango, já agora.)

Contudo, até gostei bastante do fim. Não é perfeito e não termina com duma maneira toda cor-de-rosa, mas é satisfatório e fecha bem a história dos personagens. E justifica o título... o uso do título na própria história é bem giro.

Páginas: 200

Editora: Tiara (chancela do grupo Leya)

4 comentários:

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    1. Yup, é fofinho. :D Mas fez-me ficar a pensar na coisa dos pseudónimos, é pena como ainda há um certo preconceito contra os autores portugueses. :/

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  2. Ah, eu estava convencida é que a autora não era portuguesa e tentou aportuguesar o enredo, por assim dizer. Na altura em que li o livro, tinha lido informações nesse sentido. Por essa perspectiva, a minha opinião a esta livro parece parva. Mas gostei do facto de ser uma história leve. Eu não aprecio é o facto de haver pouca informação sobre o autor. Acho que é contra-produtivo, mas percebo também a tentativa do mistério.

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    1. Eu comecei o livro convencida do contrário - graças a todo o mistério feito em volta da autora, e a ausência de certos pormenores como o tradutor, meti na cabeça que a autora só podia ser portuguesa. xD

      Aquela referência na biografia que a autora tinha aportuguesado a história soou-me tão estranha... mas de resto não temos provas para duvidar de toda a "fábula" em torno da autora, por isso faz sentido criticar essa opção da "aportuguesação", porque é uma ideia mesmo estranha.

      Acho que o mistério acabou por funcionar contra eles e contra os livros... nos dias de hoje não me parece que se justifique muito usar pseudónimos. A ideia subjacente podia ser que um autor português não vendesse muito a publicar nestes géneros, mas um autor de quem nada se sabe também não deve incitar muito às vendas. :S

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