sábado, 22 de junho de 2013

Uma imagem vale mil palavras: Guerra Mundial Z (2013)

Portanto... estou para aqui a tentar perceber exactamente o que é que ia na cabeça das pessoas que estavam à frente dos estúdios que fizeram este filme, ao pagar os direitos cinematográficos ao Max Brooks para adaptar o seu livro, e depois fazerem uma coisa completamente diferente que tem muito pouco a ver com o dito livro. Pode-se argumentar que o que têm de comum é apenas o título e a premissa-base de mostrar um apocalipse zombie à escala global.


Porque tudo o resto? Nada a ver. Não é nada que não estivesse à espera disto, tendo em conta o que os trailers davam a entender, mas é definitivamente bizarro. Há filmes muito mais parecidos com certos livros, e os autores desses livros nunca viram um cêntimo. Quero dizer, fico contente pelo Max Brooks, deve ter ganho um dinheirão com isto.

Contudo, questiono a razão pela qual se afastaram tanto do livro. Acho que cinematograficamente ficaria fabuloso, num modo narrativo à Cloud Atlas, ou à filmes como o Love Actually (cuja temática não podia ser mais diferente deste, eu sei). Um falso documentário sobre pessoas que tinham sobrevivido à Guerra Mundial Z, e que tinham uma história interessante para contar. Uma espécie de tributo ao ser humano e à sua capacidade de sobrevivência.


No entanto, cheguei a apanhar na televisão entrevistas ao realizador e/ou aos actores, e um dos jornalistas perguntou se haveria uma sequela. Suponho que temos isso. Uma possibilidade de sequela, em que realmente o conteúdo do filme terá alguma coisa a ver com o livro. E mesmo que nunca a façam (a sequela), temos o livro a servir de sequela ao filme, o que faz sentido dum modo totalmente estranho.

Focando-me no filme, e esquecendo-me que era suposto ser uma adaptação dum livro... é relativamente satisfatório. Gosto particularmente que varie um bocadinho do habitual nos filmes de zombies, geralmente focados num grupo restrito de sobreviventes, e que em vez disso mostre o efeito global da pandemia zombie.


Preferia que o conteúdo fosse um mais coeso, porque se o dividirmos em três partes, elas acabam por ser díspares e não me parece que tenham uma boa transição entre cada uma. A primeira parte foca-se no Gerry e na sua família a verem-se apanhados no meio da turba zombie que começa a tomar a cidade onde vivem, Philadelphia. Tem um cariz mais "survivalista", pois vemo-los a tentar fugir da horda zombie, e a tentar arranjar mantimentos e a encontrar outros sobreviventes. É uma boa parte para mostrar o caos que se gera numa situação apocalíptica, apesar de se encostar demais a alguns clichés deste tipo de história.

A segunda parte é a minha favorita, quando o Gerry atravessa o globo para investigar a origem da vaga zombie e para tentar perceber se poderá haver uma maneira de a travar. É uma parte mais "investigativa", mas gostei dela por isso mesmo, por levar o personagem principal a outros locais e ver como as pessoas estavam a lidar com os zombies. Só peca por ser demasiado curtinha, porque passamos para a terceira parte do filme duma maneira um bocado quebrada, acho que se podia ter cortado pedaços da terceira parte e estendido o teor investigativo por mais um bocadinho.


Tem algumas estocadas políticas que se calhar podia dispensar. Acobardam-se de mencionar a China (que é oh, não sei, um dos maiores países do mundo), como se faz no livro, receosos de pintar o país sob uma luz menos abonatória, e lá se ia um país onde podiam mostrar um filme e ganhar rios de dinheiro. Mas depois lá mandam a estocada à Coreia do Norte (arrepiante, o que supostamente fizeram neste país), o que no livro também é feito, apesar de um modo diferente. E não resistem a pintar Israel duma forma relativamente abonatória. É irónico mas curioso o que este país faz para se proteger da invasão zombie (construir mais um muro). Mas depois é absurdo que o país que teve tal previdência não fizesse um esforço para fazer o mínimo de barulho, tendo em conta que a essa altura devia ser conhecido que o barulho incitava os zombies. Se bem que imagino que ninguém estivesse à espera do comportamento dos zombies nessa cena... e é uma cena visualmente fabulosa, o mar humano zombie a avançar rabidamente por cima do muro e ao longo da cidade.


A terceira parte é a que menos me agradou. Começa sensivelmente na cena do avião, e foi-me impossível manter o chamado suspension of disbelief. Toda a parte de o avião ser invadido por zombies, e o Gerry ter de lançar a granada, mais a muito improvável sobrevivência ao desastre... é ridículo, e foi uma cena desnecessária para contar a história.

Não que as cenas seguintes, as na instalação da OMS, sejam melhores. Tinha ouvido dizer que tinham refilmado o último terço do filme, sensivelmente, e até me agrada o ritmo mais calmo e o fim mais reflectivo. Mas teria custado muito arranjarem um consultor científico? 


SPOILER DO FINAL DO FILME
A ideia de os zombies evitarem pessoas doentes é boa, mas depois vem a ideia do Gerry de se infectar com alguma coisa mortal para confirmar a teoria. Custaria muito haver algum planeamento antes de avançarem com a ideia? Do género mostrarem os cientistas com que o Gerry fala preocuparem-se em aconselhá-lo num agente causador de doença mortal que a) tivesse cura, e que esta estivesse presente na instalação; b) tivesse um período curto de incubação, porque há coisas com um período de uma semana de incubação e não estou a ver o Gerry a estar à espera esse tempo todo.

Não preciso que nomeassem um agente causador de doença em específico, mas ver cientistas a ter um comportamento absolutamente passivo em relação a esta ideia do Gerry parece-me impossível. Em vez disso, temos o Gerry a injectar-se com qualquer coisa e a rezar para que funcione. *facepalm* Parece-me que como cientistas, e tendo em conta uma ideia tão louca como esta, quisessem controlar o máximo de variáveis desta "experiência" que pudessem, para que se resultasse pudessem ter uma ideia do que fazer dali para a frente no que toca a desenvolver algo que travasse a propagação da doença zombie.
FIM DE SPOILER


Enfim... esta terceira parte arrastou-se. Podia ser mais curta, e evitar as "coboiadas" científicas. Só melhora na cena final, pelo tal tom reflectivo e por reunir Gerry com a família. Deixa espaço para a tal sequela que mencionei ali em cima. E eu fico a suspirar pela mesma. O filme entreteve, e tem os seus momentos, mas o que eu queria mesmo era a tal adaptação do livro.

2 comentários:

  1. Excelente crítica. Acho que levas muito gente para falar sobre filmes, Cat, mesmo!

    Eu gostei do filme, pessoalmente gostei, mas eu estou para zombies tal e qual como estava para o Little Pony aos 4 anos de idade. :D
    *.* olhos brilhantes *.*

    Acho que sim, que uma sequela, agora sim, baseada no livro, fará todo o sentido até porque, confesso, não estou a ver como se faria o relato dos sobreviventes sem uma premissa coesa, flash backs não seriam o suficientea , creio.

    China, grande falha. Coreia do Norte, chapada de luva branca. Oriente, tão absurdo quanto emocionante. Basicamente concordo contigo.

    Já a última parte, bem aquilo tinha de ter suspense e acho que tentaram por aí. A cena do avião é ridícula... lembro-me de olhar para o boy e dizer *filmes!*. Quer dizer, com tanta gente saudável sobrevive a maneta e o herói?! 0.o
    Ele injectou H1N1, Gripe A, pelo menos foi com a sensação com que fiquei - rápido contágio, fácil propagação, mortal, mas facilmente tratável ---> Já viste a sorte dele?! *novo olhar para o boy*

    Mas pronto, apanhei uns sustos, matei a minha saudade de zombies e ainda dei umas gargalhadas com a aquela zombie negra final. Lindo*

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    1. Obrigada! :D

      Ohhh, temos fã de zombies. :D Pessoalmente nunca lhes tinha ligado muito, acho que foi o Guerra Mundial Z, o livro, que me estreou no género.

      É sempre a mesma coisa, os filmes americanos fazem sempre por evitar mencionar a China para não ferir sensibilidades... é mais irreal não os mencionarem, mas enfim. :reviraosolhos: A parte da Coreia do Norte é arrepiante, mas gosto mais do que aconteceu no livro, em que se pensa que as pessoas foram para bunkers subterrâneos... lembro-me sempre disso cada vez que este país se põe a "brincar" com mísseis e a pregar um susto ao resto do mundo.

      Eles falam de H1N1, entre outras coisas, quando os cientistas estão a discutir a ideia do Gerry, mas nunca fica estabelecido nada, e depois quando ele está no "vault 129" dá a sensação que pega num frasco ao calhas e vá de injectar aquilo... nunca mostram o rótulo, ou mostram? Além disso, Gripe A num adulto saudável sem factores de risco, como o Gerry, dificilmente seria mortal, parece-me. :/

      A atitude dos zombies vistos ao perto era divertida de ver... na minha sala rimo-nos muito com aquele que estava à espera que o Gerry saísse da sala de contenção, com aquela coisa de bater os dentes e tal. xD

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