Uma imagem vale mil palavras: A Branca de Neve e o Caçador (2012)

Ao reunir os meus pensamentos sobre este filme, dei-me conta que seria divertido se eu pudesse de algum modo gravar aquilo que me passou pela cabeça durante estas duas horas e despejá-lo aqui, em estilo stream of consciousness. É que assim sei que não me vou lembrar de tudo, e tenho aqui um monte de ideias à chapada umas com as outras para ver qual é que sai primeiro. Por consequência, isto há de estar pilhado de spoilers.

Assim sendo, vou ver se atiro cá para fora primeiro aquilo que desgostei. Houve partes em que me estava a aborrecer e resmungar cá para mim "andem lá com isso!" por causa do andamento lento da narrativa, devido provavelmente ao argumento e à montagem. O argumento podia ser melhor no que toca ao desenvolvimento de personagens. Achei irónico que se esteja a tentar fazer um argumento sobre beleza interior quando o visual (isto é, a beleza exterior) do filme é uma coisa tão cuidada e proeminente. E (isto é mais uma queixa vinda de TODOS os filmes baseados neste conto que eu já tenha visto) porque é que se atribui nomes normais a todos os personagens, mas depois temos que chamar Branca de Neve/Snow White à personagem principal, que é um nome tão complicadinho? Podia-se transformá-lo numa alcunha ou cognome ou algo do género, e salvar a audiência de ter de chamar à rapariga Branca/Snow, que soa tão ridículo.

Pronto, as resmunguices já lá foram. *atira-as pela janela* A primeira coisa boa é a ideia genial que os criadores tiveram de transformar o conto numa fantasia medieval, e uma bem gira por sinal. Acho que foi o género por que comecei no fantástico, por isso foi divertido reconhecer alguns clichés (anões mineiros, um arqueiro, um tipo com um machado, uma floresta negra, uma floresta encantada, fadas, uma batalha, um assalto ao castelo, ...). Gostava no entanto que os criadores se tivessem dado mais ao trabalho de explicitar o espaço-tempo da narrativa. Alguns dos anões tinham um sotaque inglês, o Chris Hemsworth andava com um sotaque que imagino que seja o normal dele, mas mais ninguém tinha sotaque aparente. A Branca de Neve reza o Pai Nosso no início do filme, uma coisa que acho difícil conciliar com a quantidade de magia e seres mágicos que aparecem no filme.

Visualmente, o filme está magnífico. As florestas (as fadas! as alucinações!), os cavaleiros de cristal, o envelhecimento e desenvelhecimento da rainha, o espelho, a rainha a "emergir" dos corvos, os vestidos dela, etc., etc. ... A história em si, apesar de algum engonhanço, é bem interessante e uma boa adaptação do conto. Gostei da ideia de ter a Branca de Neve com um papel mais activo na salvação do reino e de ter de enfrentar a rainha. Gostei do modo como a rainha se insinuou no reino, e da sua backstory, se bem que achei o irmão dela completamente inútil. Tudo o que ele sabia fazer era fazer um comentário maldoso ao caçador, irritar o caçador e levar porrada do caçador.

A Kristen estava mais ou menos. Quero dizer, ela estava fofinha, e teve algumas cenas boas, mas logo a seguir parecia que ela se esquecia que devia estar a actuar e voltava à cara de enjoada que já conhecemos. Por outro lado, grande parte dos outros actores esteve bem. Os anões estavam muito divertidos. A Charlize Theron convincente como a Rainha má e doida. O Chris Hemsworth tocante como viúvo desgostoso e brutamontes. O Sam Claflin como o amigo de infância adoravelmente preocupado. E ainda bem que o filme não envereda pelo drama adolescente amoroso que teria se isto fosse um livro, porque eu explodiria de irritação. É mais divertido preencher coisas com a minha imaginação.

A batalha final foi bastante absorvente, com os cavaleiros de cristal e a Branca de Neve à porrada com a rainha. Se bem que a certa altura a minha voz interior estava a berrar: "O QUE É QUE ELA PENSA QUE ESTÁ A FAZER NUMA BATALHA SEM UM ELMO???". Um exército de homens de barba rija, e nenhum foi capaz de lhe meter um elmo na cabeça para não morrer com uma pancada na cabeça. Se era para vermos o penteado bonito a Branca de Neve podia tirá-lo quando entrou no castelo para enfrentar a rainha. Como disse, gostei de ela ter de enfrentar a rainha e não ser uma donzela em apuros, e ter literalmente sangue nas mãos. Dá mais peso e importância à cena final da coroação, retirando-lhe o travo enjoativo a "felizes para sempre".

Um bom filme, com algumas falhas, mas um delírio para a minha cabeça fantasiosa. Gostava de poder ver no futuro DVD algumas cenas cortadas e coisas sobre a concepção e criação do filme.