segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Voz, Juliet Marillier


Opinião: A Voz é o livro final da trilogia Shadowfell, e nele acompanhamos Neryn enquanto tenta terminar o seu treino como Voz com os Guardiões que faltam, enquanto que o movimento rebelde depende dela para levar a insurreição a bom porto. Mas uma má notícia que emperiga o plano faz Neryn tomar uma decisão arriscada em nome da causa, levando-a a ver e fazer coisas que não gosta, mas que reforçam a sua determinação em ajudar a criar uma Alban mais justa.

Gostei bastante de como as coisas se desenrolaram neste livro. Primeiro com a visita à Dama Branca, porque é uma introdução a um Guardião que é diferente dos outros, e é algo original no modo como é apresentada. Adorei conhecer cada Guardião e como "funcionam", por isso esta parte não foi excepção.

Depois, porque a Neryn descobre uma certa coisa que a faz mudar de ideias quanto ao curso dos acontecimentos... e gosto de como isso muda a história e foge às expectativas. Além disso, as cenas derivadas desta decisão são muito interessantes, porque testam a resistência da Neryn e o seu compromisso com a causa, com a necessidade de criar uma nova Alban, em face de injustiças atrás de injustiças.

A Neryn fez uma bela evolução ao longo da trilogia, de coisinha assustada e fugidia para uma mulher adulta e responsável, capaz de decidir o seu rumo e com fibra para aguentar muito, para permitir-se não interferir em nome de um bem maior. É uma lição interessante para ela aprender, ainda mais com um grande poder nas mãos... e nesse aspecto creio que ela aprendeu muito bem a lidar com o seu poder e a tomar as decisões que lhe parecem as mais correctas, mesmo quando tudo lhe diz que devia ir na direcção contrária.

Quanto ao Flint... é tão complicado, coitado do rapaz. É bastante claro que está prestes a saltar-lhe a tampa, mas toda a gente está em modo "não, continuamos a precisar do nosso espião na corte"... questiono este ponto de vista. Um espião não serve de nada se for uma bomba prestes a rebentar, caramba. Mais valia terem-lhe dado férias.

Por outro lado, e aprecio muito os excertos em que temos os POVs dele... mas souberam-me a pouco. Fizeram falta em cenas cruciais, porque depois quando finalmente lhe salta a tampa, parece que isso vem completamente do ar. Tinha gostado tanto de ver o que lhe ia em mente nessa altura. E noutras também. É nisso que a Juliet peca; desenha um retrato psicológico dele muito interessante, com as suas circunstâncias invulgares, mas deixa-o a modos que incompleto.

O elenco de personagens secundários, apesar de cada um não ter grande tempo de antena, é fabuloso. Desde os Guardiões aos Boa Gente que os acompanham, desde os Boa Gente que sempre apoiaram a Neryn aos Rebeldes, que tanta falta me fizeram (Tali! que moça fantástica), mas compreendo a sua ausência, necessária para efeitos da narrativa. Incluindo os personagens novos, que seguem e guiam e ajudam Neryn na sua demanda.

O fim foi em parte esperado e inesperado. Havia aspectos dele que eu esperava que acontecessem, mas não sabia como é que as coisas se iam resolver, ou qual o papel da Neryn nos eventos. Suponho que posso dizer que fiquei satisfeita, porque foi de acordo ao que estava para trás... mas fico triste pelas perdas e pela necessidade de luta para mudar o mundo destes personagens.

Acho que o final só peca por ser um pouco abrupto. O objectivo da trilogia era mudar Alban, e vemos tão pouco do novo estado de coisas, que me sinto defraudada. Eu tenho direito a ver aquilo pelo qual os personagens, e eu com eles, sofreram tanto, raios! Isso, e acho que precisava de ver um bocadinho da vida futura dos protagonistas. O ponto em que ficam é satisfatório, mas algo indefinido, e eu precisava mesmo de saber se ficam bem, se têm direito à vida com que sonharam. Este talvez esperançoso não é bom para a minha paz de alma.

Bem, creio que posso dizer que uma das marcas de um escritor que me cativa é eu ficar tão investida nos personagens que preciso de saber mais, mais, sempre mais. E aqui a Juliet Marillier é irreprensível, não deixo de ficar fascinada, imersa nas suas histórias, nos seus mundos. A Voz é mais um dos bons livros a sair da sua pena, e como leitora continuo a seguir com avidez as suas histórias.

Título original: The Caller (2014)

Páginas: 456

Editora: Planeta

Tradução: Catarina F. Almeida

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