domingo, 30 de novembro de 2014

Este mês em leituras: Novembro 2014

E termina Novembro, daqui a nada estamos no Natal, ena, o tempo foge... num instante chegámos ao fim do ano. Bem, acho que aproveitei bem o tempo que o mês me deu, e tive oportunidade de ler uma série de coisas giras, por isso estou satisfeita. O mês marca finalmente a entrada do frio a sério, e eu gosto mais deste tempo do que do calor (se bem que também não sou fã da chuva), pede mais que uma pessoa se enrosque com as mantas e passe a tarde a ler.

Livros lidos


Opiniões no blogue

  • Unteachable, Leah Raeder;
  • Colecção Universo Marvel #16 e #17: X-Women: Mulheres da Marvel, Chris Claremont, Marjorie Liu, Stuart Moore, Kelly Sue DeConnick, Milo Manara, Filipe Andrade, Nuno Plati, Mark Brooks, Ryan Stegman; Hulk: Cinzento, Jeph Loeb, Tim Sale;
  • Stone Cold Touch, Jennifer L. Armentrout;
  • O Ídolo na Escola, Meg Cabot;
  • Curtas: Siege: Embedded, Brian Reed, Chris Samnee; Batwoman vol. 1: Hydrology, J.H. Williams III, W. Haden Blackman; Saga vol. 1, Brian K Vaughan, Fiona Staples;
  • A Long, Long Sleep, Anna Sheehan;
  • A rainha manda...: Rebel Angels, Libba Bray;
  • Colecção Universo Marvel #18, #19 e #20: Wolverine: Evolução, Jeph Loeb, Simone Bianchi; Vingadores vs. X-Men 1: O Dia da Fénix, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman, Matt Fraction, John Romita Jr., Olivier Coipel; Vingadores vs. X-Men 2: E Então Restou Um, Matt Fraction, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Olivier Coipel, Adam Kubert;
  • My True Love Gave to Me, antologia editada por Stephanie Perkins;
  • Mortal Heart, Robin LeFevers;
  • Proposta Indecente, Patricia Cabot/Meg Cabot;
  • Let It Snow, Maureen Johnson, John Green, Lauren Myracle.

Os livros que marcaram o mês

  • Stone Cold Touch, Jennifer L. Armentrout - este marcou pela negativa, porque, bem, nunca vi uma maior confusão pegada, o que ainda é mais chocante vindo de uma autora que aprecio... até tenho medo de pôr as minhas mãos no terceiro livro da série, porque não me parece que vá ser melhor;
  • Saga vol. 1, Brian K Vaughan, Fiona Staples - uma história bem gira, com um bom cenário, personagens intrigantes e estou com vontade de ler o que se segue;
  • A Long, Long Sleep, Anna Sheehan - uma boa surpresa, pois não estava à espera da sua profundidade e dos temas abordados;
  • Mortal Heart, Robin LaFevers - um final muito bom para uma série que adorei seguir, e foi uma bela história, a da Annith, um pouco diferente do que se esperaria, mas surpreendente e estranhamente adequada.

Outras coisas no blogue


Aquisições

As aquisições em inglês do mês; o primeiro livro, Dash and Lily's Book of Dares, apanhei numa promoção do Book Depository, e era um livro que tencionava ler em Dezembro para continuar as minhas leituras com tema natalício, por isso aproveitei. All Broke Down é um livro da Cora Carmack, uma autora que tenho gostado de ler, e uma continuação duma série bem gira, razão para vir cá para casa.

Love and Freindship (é mesmo assim que se escreve) é uma edição lindíssima da Penguin Clothbound Classics, contendo o material escrito por Jane Austen na sua juventude, e foi uma oferta da mana - um beijinho e um obrigada para ela. Mortal Heart é outra continuação de uma série, o livro final, neste caso, e muito esperado.

Por outro lado, comprei The Rosie Effect porque gostei do primeiro livro, e a editora que o publicou em português, a Divina Comédia, parece ter morrido para o mundo. Não há publicações no Facebook, não há página oficial da editora, não há notícias recentes sobre eles, por isso só posso concluir que desapareceram. Quanto a The Bane Chronicles, finalmente sai em formato compilado para eu poder finalmente ler.

As aquisições em português: os primeiros dois foram comprados no Fórum Fantástico, Por Mundos Divergentes e Comandante Serralves - Despojos de Guerra, e ambos me suscitam alguma curiosidade. Os dois seguintes foram adquiridos com descontos em cartão: basicamente andava a trepar paredes para pôr as mãos no A Todos os Rapazes que Amei. Já A Prova do Ferro ganhei num passatempo - obrigada à editora Planeta e ao blogue Chaise Longue.

A banda desenhada do mês. As revistas Disney e as revistas Marvel, que pelos vistos vão acabar - coisa que me está a fazer saltar a tampa e uma dor de cabeça só de pensar em como posso continuar a ler as histórias que vão ficar penduradas. Estou com vontade de bater com a cabeça nas paredes só de pensar nisso.

De resto, os livros finais da colecção Universo Marvel; mais dois volumes da G Floy, que está a lançar novas séries em Portugal, Fatale e Tony Chu; mais os primeiros volumes de Velvet e Sex Criminals, que adquiri via Wook para aproveitar algum dinheiro que tinha no PPL.

A ler brevemente

Para o meu mini-desafio das leituras natalícias, espero ler Dash and Lily's Book of Dares e Contos de Natal - este último creio que já li há que tempos, há demasiado tempo para me lembrar, por isso seria adequado reler, porque vai ser como ler pela primeira vez.

Para o desafio pessoal da Meg Cabot, vou finalmente começar a ler a série Diário da Princesa, e tenho a certeza que vai ser uma leitura muito divertida. Tenho ainda A Revelação, que lerei como leitura conjunta. Gostaria de ler All Broke Down, para não ficar atrasada na série, e A Todos os Rapazes que Amei, porque estou mesmo curiosa, tenho mesmo de ver o que vai sair dali.

Quanto aos livros A Prova do Ferro e The Bane Chronicles, estão ali os dois, mas provavelmente vou só ler um. O próximo livro da Cassandra Clare só sai daqui a quase um ano (a sequela do A Prova do Ferro), e não sei bem quando sairá em português; o livro seguinte dela, estava previsto para o fim de 2015, mas é incerto. O que quer dizer que se ler os dois de enfiada vou ficar imenso tempo sem ler nada dela. Por outro lado, vai ser difícil resistir.

Espero receber alguns livros durante o mês de Dezembro, mas aqueles que gostava mesmo de ler são Stay with Me, da J Lynn/Jennifer L. Armentrout - espero que não seja tão mau como o livro anterior da autora; e This Shattered World, de Amie Kaufman e Meagan Spooner, mas sei que esse vai ser difícil de me chegar antes do novo ano - o livro sai mesmo antes do Natal, e mesmo que o Book Depository o receba e mo envie antes de tempo, sei que os Correios vão estar ocupados perto do Natal e duvido que tenham a mesma celeridade que têm tido.

sábado, 29 de novembro de 2014

Let It Snow, Maureen Johnson, John Green, Lauren Myracle


Opinião: Let It Snow é um livro escrito a seis mãos, juntando três escritores contemporâneos bem conhecidos - Maureen Johnson, John Green e Lauren Myracle -, dos quais só conhecia o John Green, por isso foi uma boa oportunidade para conhecer o trabalho das outras autoras.

Cada autor escreve uma história, com o tamanho aproximado de uma novela, decorrendo num espaço partilhado e acontecendo as três cronologicamente pela ordem em que as lemos. Os protagonistas de cada conto aparecem ou são apresentados nos outros, e quando chegamos ao fim damos conta que aquela gente conhece-se toda. O que é engraçado, a cidade parece pequena o suficiente para isso, mas grande o suficiente para ter uma auto-estrada, e os personagens terem de a apanhar para ir para outra parte da cidade. (O ordenamento do território em terras americanas passa-me completamente ao lado.)

Tudo acontece em Gracetown, sobre a qual se abate a maior tempestade de neve dos últimos anos, e que faz as estradas fiquem intransitáveis, comboios parem, e fique tudo coberto e enterrado em neve. E a neve acaba por ser a base para os sarilhos em que os personagens se metem em quase todas as histórias... o que se pode tornar um tudo-nada irrealista. (Se bem que sem as premissas estranhas não tínhamos histórias para ler, eu sei.)

Quero dizer, eu nunca vi neve, e até eu sei que nem é boa ideia sair de casa a conduzir sem correntes de neve no carro ou com ténis calçados (John Green), nem me parece a melhor das ideias ser obrigada a sair de casa pelos pais, para viajar de comboio, no meio duma tempestade de neve, ou sair dum café perfeitamente aconchegado com um estranho para o meio da neve, sem conhecer nada em Gracetown, só para fugir a um bando de cheerleaders (Maureen Johnson). Quanto à Lauren Myracle, o problema do conto dela é com a personagem intragável que apresenta, mas já lá vamos.

Por outro lado, é um conjunto de histórias bastante giras, que me deu gosto ler, e apesar de não serem obviamente natalícias (suspeito que se podiam passar numa tempestade de neve qualquer, sem ser no Natal), acho que é por isso que gostei delas, por não serem enjoativamente natalícias. O desejo de estar com a família e amigos, e um ou outro milagre de Natal estão lá, mas dum modo temperado, nada sentimentalão, e é só o que peço numa história de Natal.

The Jubilee Express de Maureen Johnson, já disse, tem uma premissa parva. Os pais de Jubilee não conseguem estar em casa a tempo do Natal, e então ela é mandada para os avós, na Florida, a meio da tarde da véspera de Natal. Isto para já comigo nunca aconteceria, porque ninguém me tirava de casa e me metia num comboio no meio duma tempestade de neve a meio da tarde da véspera de Natal, porque até o meu eu adolescente veria logo que ia dar asneira.

Adiante. O comboio fica parado junto a Gracetown, a Jubilee sai do comboio para não aturar um grupo de cheerleaders excitadas, dá por si na Waffle House, as cheerleaders vão para lá, e a Jubilee aceita o convite dum rapaz que não conhece de lado nenhum para se refugiarem na casa dele. (Mais uma parvoíce.)

Ignorando as patetices, o conto até tem algum sentido de humor, talvez um pouco sarcástico, e auto-depreciativo, mas divertido. O percurso da Jubilee até perceber o palerma que o namorado é, é um percurso interessante, porque vamos percebendo aos poucos o quão desligado ele é, a par com ela. As revelações sobre o Stuart também são bem feitas, atempadamente. E o fim é fofinho, um pouco alimentado a hormonas, mas suponho que ambos estavam ali um para o outro no momento e lugar certos.

A Cheertastic Christmas Miracle de John Green é tipicamente Greeniano, com o seu humor e singularidade habituais, mas no bom sentido, porque me diverti bastante com ele. A premissa é pateta, os personagens saem de casa a correr para a Waffle House, onde as cheerleaders estão, porque um amigo lhes telefonou, e basicamente andam a patinar com o carro no gelo, e a espetá-lo contra coisas. (O susto, credo, quando certas coisas acontecem...)

Contudo, gostei bastante da relação entre o grupo de amigos, o sentido de humor, as referências de cultura popular... nesse aspecto, foram melhor trabalhadas que o que li anteriormente dele. O par que se forma é giro, e já o via à distância, mas foi muito engraçado de acompanhar as suas aventuras e peripécias pela neve.

O/A protagonista tem uma coisa engraçada, não dá exactamente para perceber o sexo dele/a durante a narração, e mesmo quando o seu nome é revelado fiquei na dúvida porque é um daqueles nomes que dá para os dois sexos. Por isso, foi uma situação intrigante, ler o conto desse ponto de vista. Não sei se é deliberado, porque o autor põe o/a personagem em situações e conversas e pensamentos que apontam ligeiramente para um dos sexos, mas lá que passei o conto toda trocada, passei. No fim ainda acontece uma coisa que me manteve na dúvida, e só no conto da Lauren Myracle a esclareci.

The Patron Saint of Pigs de Lauren Myracle é o conto mais ingrato de avaliar, porque tem das personagens mais horríveis e mais detestáveis que já encontrei. É uma miúda tão egocêntrica, tão focada nos seus próprios dramas e ignorando os dos outros, que dá vontade de arrancar cabelos. O problema é que começamos com uma das amigas a apontar-lhe o defeito, mas não, sua excelência não lhe podia dar ouvidos. Só entra naquela cabeça dura quando toda a gente que ela conhece lhe diz aproximadamente uma variação da mesma coisa.

Detestei esta personagem, que ainda por cima faz uma coisa horrível ao namorado, vai-lhe contar, e nem lhe dá tempo para reagir (ele é que devia ter o direito a reagir e decidir o que fariam), não, sua excelência decide que as coisas têm de ser assim e pronto. (Mais comportamento egoísta.) Portanto, não, minha cara, não tenho pena nenhuma que estejas a sofrer no dia de Natal. Deita-te na cama que fizeste e não me aborreças.

Portanto, estou dividida. Até consigo louvar a maneira como a autora escreve, porque a sua caracterização é credível ao ponto de odiar a personagem, e consegue em certa medida criar um possível momento de redenção para ela. Ou pelo menos, um momento de viragem. Mas acho que foi um bocadinho apressado, ela passa grande parte do tempo em modo egocêntrico, e depois o questionamento do seu comportamento vem muito tarde, por isso a mudança do mesmo é repentina, e o ter feito uma coisa boa não apaga as asneiradas que já fez.

É um conto complicado, e não me parece que a protagonista mereça o final que tem. Final esse que só vale pela aparição de todos ou quase todos os personagens do livro. Contudo, no todo fiquei muito satisfeita com o mesmo, com o qual passei um bom tempo, e que me deu a oportunidade de apreciar os três autores, mesmo aquele que já conhecia. É uma boa leitura natalícia, e o melhor é que já a temos editada em português, com o título Quando a Neve Cai, mesmo a tempo para a época natalícia.

Páginas: 368

Editora: Penguin

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Proposta Indecente, Patricia Cabot/Meg Cabot


Opinião: Vou ter de me repetir, mas tenho vindo a ler os romances históricos da Meg Cabot publicados em português, e cada um tem me divertido mais que o anterior. Leio com a consciência que são os seus primeiros livros, publicados no início da carreira de escritora, ainda sob o pseudónimo de Patricia Cabot, e por isso não espero uma coisa fabulosa, mas os livros já têm algumas características típicas da sua escrita, e por isso tenho gostado bastante de os ler.

Proposta Indecente apresenta-nos Payton Dixon, uma jovem com três irmãos mais velhos e cujo pai tem uma companhia de navegação - o que quer dizer que a Payton cresceu no mar, entre os irmãos, aprendendo tudo quanto não é feminino ou "próprio". Só que a Payton cresceu, e agora é uma mulher, e os irmãos repararam e querem casá-la, quando tudo o que ela quer é o comando de um dos navios do pai. Entretanto, Connor Drake, um dos capitães do pai, ficou-lhe com o navio que ela tanto queria, o que é só piorado pela paixoneta que a Payton tem por ele, e pelo facto de o capitão Drake ir casar com outra.

E pronto, fartei-me de rir com o livro principalmente por causa da Payton e dos irmãos, que têm uma relação mesmo divertida. Não habituados a ter um criado particular, apoiam-se na Payton para lhes fazer os nós das gravatas, mas rapidamente se metem à pancada por um insulto feito por um deles, são valentes e desregrados, embebedam-se e arrependem-se no dia a seguir, mas gostam muito da irmã, apesar de terem alguma dificuldade em reconhecer que ela é capaz de fazer qualquer coisa que eles façam. São um pouco uma caricatura, mas uma não exagerada.

A própria Payton é uma protagonista de que é fácil gostar, pouco habituada a um comportamento "próprio", pois foi educada longe de Londres e da sociedade, e por isso revolta-se quando a família espera que se comporte como uma rapariga normal, arranjando casamento. Payton prefere navegar, como toda a vida fez, e não são os irmãos que a hão de impedir. Acho curioso que apesar da paixoneta pelo Drake, a Payton aceite o casamento iminente e não lhe dê para o drama, tentando impedi-lo em vão.

É claro que a Payton acaba por interromper o casamento, mas isso é o lançamento do resto do enredo, uma aventura em alto-mar entre piratas e inimigos. Foi uma história que me surpreendeu nesse aspecto, afastando-se de Londres e introduzindo um novo cenário, e dando uma nova dinâmica à narrativa.

Entre os personagens secundários, gostaria de destacar a avó do Drake, a Lady Bisson, que parecia gostar muito da Payton e incitá-la a certas atitudes, mas que por vezes me deixou na dúvida sobre o que queria dizer. E também a Georgiana, a esposa do irmão mais velho da Payton, que, pobrezinha, não imaginava a família em que casou, e que os atura com uma certa estoicidade.

Sinto que o final podia ser mais forte, porque não há assim nada grandioso no final, os vilões são apanhados fora da narrativa e da vista dos protagonistas, e apesar de ser interessante a sua estadia na ilha, gostava de ter visto os maus a apanhar o seu castigo. Ainda mais quando a Payton faz uma coisa patetinha, que não parece nada dela, e que volta para a assombrar.

Mais um romance histórico girinho, que entreteve bastante e me conseguiu agradar e divertir. Gostei de reconhecer o típico sentido de humor da autora, que pelos vistos permeia a sua obra, e a protagonista foi uma delícia de acompanhar, com a sua perspectiva pragmática e a sua impaciência para aquilo que esperam dela, sabendo o que quer e perseguindo-o obstinadamente.

Título original: An Improper Proposal (1999)

Páginas: 360

Editora: Quinta Essência

Tradução: Carmo Vasconcelos Romão

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mortal Heart, Robin LaFevers


Opinião: Nem acredito que estou a terminar mais uma série, ainda mais uma série que tanto gozo me deu ler, e que me cativou tanto ao longo das suas muitas páginas. Gosto muito do que a Robin LaFevers fez aqui, misturando acontecimentos históricos reais com a sua própria mitologia e personagens únicas, e tenho a sensação que vou gostar de acompanhar o que quer que seja que ela escreva a seguir.

Esta é a história da Annith, a terceira handmaiden (lamento, não tenho uma tradução boa o suficiente para isto) da Morte, uma de três amigas educadas num convento que venera um deus pagão, ou santo, dedicado à morte. E enquanto que as duas companheiras de Annith, Ismae e Sybella, já partiram do convento em missão, Annith continua lá presa, com previsão de assim ficar para sempre, pois a abadessa do convento tenciona que ela seja a profetisa do mesmo.

Gosto muito de ler as minhas previsões sobre o enredo na minha opinião do livro anterior, porque em parte estavam certas e em parte nem fazia ideia do que vinha aí. Tinha razão em ver a Annith como uma pessoa com uma personalidade luminosa, porque sobreviveu, tal como as outras meninas, a alguns tipos de maus tratos, no caso da Annith praticamente desde que nasceu, e essa foi a maneira que desenvolveu para lidar com as coisas. A história dela é comovente nesse aspecto, e enfureceu-me contra os que a magoaram.

Também tinha razão sobre a abadessa, e há uma razão muito particular para ela não deixar a Annith sair do convento. Nunca esperei que fosse isto, mas faz estranhamente sentido, e deu uma personalidade e densidade à abadessa que nunca sonhei que uma antagonista tivesse. Apesar de todas as asneiras que ela fez, consigo respeitar e compreender as suas razões, e o ter-se mantido firme nas suas convicções.

Quanto à própria Annith, foi interessante perceber que ela não é uma handmaiden comum, tal como a Ismae ou a Sybella não o eram; só que a Annith é-o de uma forma completamente diferente. E foi fascinante vê-la perceber que o rumo que tinham dado à sua vida não era necessariamente aquele que ela queria ou para o qual estava melhor preparada, apesar de ser extremamente talentosa como seguidora de Mortain. Vislumbrei ainda outro caminho para ela que não o que tomou, e seria igualmente adequado para a sua tenacidade.

Quanto ao par para a Annith - e aqui vou ter muito cuidado porque parte da piada é descobrir a identidade dele a par com a protagonista -, mas posso dizer que gostei de conhecer o Balthazaar, e de vê-lo com a Annith, porque há ali um magnetismo e uma química bem giros de seguir; contudo, gostava de ter tido mais cenas com eles juntos, particularmente quando descobrimos a identidade dele, para podermos desenvolver mais a parte da Annith a aceitar a revelação, e a apaixonar-se por ele outra vez.  Por lado lado, tenho a dizer que o Balthazaar é o par perfeito para a Annith, tendo em conta a devoção e ferocidade dela como handmaiden da Morte.

Quanto à história do livro e como encaixa com os outros dois: bem, o Grave Mercy e o Dark Triumph seguiam-se um ao outro cronologicamente, com o segundo livro a estender as intrigas na Bretanha um pouco mais para além do primeiro; o Mortal Heart começa sensivelmente mais ou menos onde o Grave Mercy começa, talvez um pouco depois, mas tendo em conta que a história da Annith passa por alguns meses de inércia, seguidos de uma viagem que lhe leva mais tempo do que ela esperava, a Annith acaba por se encontrar com o elenco principal mais ou menos no fim do Dark Triumph.

O que é que isto quer dizer? Que no início do enredo temos a apresentação da protagonista e uma espécie de viagem de descoberta da mesma, conhecendo novas facetas da mitologia dos deuses, particularmente Mortain e Arduinna; e que quando Annith se junta a Ismae, Sybella (que bom foi revê-las e aos seus companheiros) e à corte, entra num momento em que a intriga está numa nova fase, e pode influenciar com a sua presença o desfecho do destino da Bretanha.

Gostei muito de como a autora explorou um período histórico riquíssimo para ancorar a narrativa destas três raparigas, e de como conseguiu seguir os eventos principais na biografia da Anne, a duquesa da Bretanha, nos seus esforços para a manter independente de França. Fez-me ter vontade de ler mais sobre o assunto, e ao mesmo tempo conseguiu apresentar o problema e analisar o tipo de intrigas que poderiam ter rodeado a Anne real, e que assolam definitivamente a Anne ficcional. (Que já agora, é uma personagem muitíssimo carismática, numa caracterização que nos faz esquecer que esta miúda tem apenas 13 anos.)

Outro aspecto que gostaria de destacar é a mitologia que a autora desenvolve, em que na Bretanha do século XV existe a veneração de um conjunto de deuses com características pagãs, e que convive a par com o cristianismo, que vem a ganhar terreno. Acho fascinante a veneração dos Nove, em como a autora incorpora facetas e histórias de cultos pagãos mais antigos para criar a sua versão; e gostei muito de descobrir melhor o que envolve a veneração de alguns deuses e as manifestações terrenas que estes podem ter.

Quanto à parte final, foi muito excitante ver a intervenção dos protagonistas, e o que isso implica, e em como a presença divina está mais presente do que se pensaria. Também foi uma boa solução ao imbróglio em que a Bretanha e a corte de Anne estava, e uma resolução próxima dos acontecimentos históricos, parece-me. Agora fiquei com vontade de que a autora pegasse nesta história mais para a frente, noutro momento de viragem da biografia da Anne.

Em suma, esta há de ser uma série que me há de ficar na memória. As protagonistas são fortes e dão gosto acompanhar, as pitadas de romance são deliciosas, a ideia do culto de Mortain e dos outros deuses é fascinante, e a autora complementa tudo com uma bela intriga com um fundo real histórico. Adorei e recomendo.

Páginas: 464

Editora: Houghton Miffin Harcourt

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: Mockingjay/A Revolta parte I (2014)

Confesso, estava um pouco céptica. Não sou nada fã desta história de me dividirem os livros finais de séries em dois filmes, só para espremer mais umas gotas de leite à vaca de fazer dinheiro. (Obrigadinha, Harry Potter, por teres começado a moda. Gosto muito de ti, mas agora toda a gente acha que tem de fazer o mesmo, raios.)

Ou seja, acho que foi melhor do que estava à espera. O que apanhei dos trailers deixou-me a sensação que iam dar cabo do tom da história, mas pronto, os trailers desta saga sempre foram um bocado enganadores; o tom até me pareceu relativamente adequado, entre a exploração do estado mental da Katniss depois dos segundos Jogos, e do que aconteceu ao Peeta e ao Distrito 12, e a sublevação dos Distritos e a preparação do Distrito 13 para a guerra.

No primeiro caso, vale sempre a pena mencionar a Jennifer Lawrence, que tem feito nesta série um trabalho fantástico a encarnar a Katniss e os seus variados estados de espírito, várias vezes sem abrir a boca. O estado de espírito da Katniss é particularmente difícil nesta parte da história, e acho que ela fez um bom trabalho com o mesmo.

No segundo caso, temos ainda assim algumas cenas de arrepiar. Aliás, eu passei o filme todo meio horrorizada com a sugestão do que a revolta e a guerra fez e está a fazer aos habitantes de Panem, e aí o filme conseguiu evocar o que senti ao ler o livro.

Contudo, o que quero destacar mesmo é as cenas em que visitamos o Distrito 12, e vemos a extensão do que lhe aconteceu; ou as cenas do Distrito 8, com o hospital, que são cenas de acção, mas também de perda, pelo resultado final da situação; ou as cenas em que as pessoas comuns tomam uma posição e tentam combater o Capitólio da maneira que podem (os madeireiros do Distrito 7 ou as pessoas na barragem, no que imagino que seja o Distrito 5).

Em termos de enredo, é uma narrativa necessariamente mais calma, tendo em conta os temas que explora e a preparação para a segunda parte da história. E não tive problemas com isso, senti a história como mais ou menos equilibrada. A única coisa que me deixa mais na dúvida é o final. Acredito que foi a melhor maneira de terminar o filme, fechando alguns fios do enredo e deixando a porta aberta para explorar outros; e não foi um mau momento escolhido do livro para terminar.

No entanto, como é um momento do meio do livro, sinto que não faz um clímax suficientemente poderoso para terminar o filme mesmo satisfatoriamente; ficou-me a sensação que podia ser um bocadinho mais. Sei lá, terem explorado melhor a cena de acção do resgate, fazê-la um pouco mais grandiosa e longa, para funcionar melhor como clímax da narrativa deste filme.

No que toca ao elenco, é tão, tão maior, aparecem tantos personagens novos, e aqui não é para morrerem metade mal os Jogos comecem, porque não há Jogos. Suponho que posso dizer que se fez um trabalho decente a introduzir pessoas como o Boggs ou a Cressida e a equipa de filmagens. (Não me importava que a Natalie Dormer tivesse mais tempo de antena, que ela é carismática e rouba as cenas.) A presidente Coin vê sugerida a sua história passada, dando-lhe alguma dimensão, o que é de destacar.

Gostava tanto de ter visto mais do Haymitch, desgraçado, que anda meio desaparecido durante parte do filme (justificadamente), e da Effie, que mesmo assim já ficou a ganhar com o desempenho da Elizabeth Banks, já que a personagem mal aparece no terceiro livro. Mas esta Effie é tão divertida e vistosa e gosto tanto de a ver, e mesmo sem os vestidos e as perucas dá um show, dando uma leveza necessária a certos momentos, com os seus comentários engraçados. Dá cabo de mim nem termos uma fala da Johanna, esse furacão andante; já o Stanley Tucci aproveita muito bem os poucos momentos que tem como Caesar Flickman.

Ver o Philip Seymour Hoffman no ecrã parte-me o coração, porque este actor era um casting fantástico para o Plutarch, e credito-o totalmente com ter atraído mais importância para o seu personagem. Este Plutarch está mais enredado nas intrigas, puxando uns cordelinhos aqui e ali, gerindo bem a sua posição entre os principais jogadores da revolta em Panem.

Parece que à data da sua morte lhe faltava uma semana de filmagens, e reescreveram certas cenas para colmatar a sua falta; vai matar-me se uma dessas cenas for a última do Plutarch no livro, em que ele diz uma coisa tão pragmática e brutalmente descrente da natureza humana, que eu ando a salivar há um ano (desde que o vi no segundo filme) a imaginar a cena.

Dos três protagonistas, já falei da Jennifer Lawrence; as poucas aparições do Josh Hutcherson como Peeta são impressionantes, porque com uma ajudinha dos computadores vai aparecendo cada vez mais destruído, graças ao tratamento às mãos do Capitólio. Já o Gale, uma parte das suas cenas dão-me um bocado de vontade de lhe bater por ser um tolo e bruto insensível. Contudo, devo reconhecer o desempenho do Liam Hemsworth em dois momentos: um é quando voltam ao Distrito 12 e ele reconta o que aconteceu no ataque.

Outro é quando ele e a Katniss se beijam e o Gale diz em tom de lamúria que a Katniss só lhe presta atenção quando está magoado. Aqui louvo a maneira como ele o diz, porque me fez perceber duas coisas sobre o Gale. Uma delas é que não tolera fraqueza (algo que vemos noutros momentos, como quando critica o Peeta pela postura que toma quando está no Capitólio... querido, vai lá ser torturado durante semanas e depois logo falamos), e no seguimento dessa postura receber carinho quando está em baixo parece ser horrível para ele.

A segunda coisa é que ele não compreende de todo a Katniss que tem à frente. A Katniss já começou a trilogia tendo uma relação estranha com o amor que sente pelos que lhe estão mais próximos, e o sofrimento emocional inerente; e de certo modo as vivências nos Jogos exacerbaram isso. Por isso, para ela amor e dor estão demasiado próximos, e consegue exprimir melhor um quando reconhece o outro; daí a atitude dela para com o Gale. Que, volto a dizer, é um tolo. Mas eu nunca lhe percebi a piada, e deve ser por isso que só lhe encontro defeitos. (Ou então é mesmo porque ele é um pateta e totalmente errado para a Katniss. Adiante.)

Já mencionei como me senti com o final, e só me resta dizer que já que as filmagens dos dois filmes do Mockingjay já terminaram, é completamente ridículo que o próximo filme saia daqui a um ano. Uma espera mais curta, uns seis meses, seria mais adequado, até porque os espectadores casuais não têm obrigação de se lembrar da história deste filme para ver o próximo, e a verdade é que calculo que os dois juntos funcionem melhor como história. Já os espectadores interessados e fãs não merecem esperar tanto tempo para ver o final de uma série favorita.

sábado, 22 de novembro de 2014

My True Love Gave to Me, antologia editada por Stephanie Perkins


Opinião: My True Love Gave to Me é uma antologia de contos com tema festivo, subordinando-se à época natalícia e de Ano Novo para apresentar uma dúzia de histórias escritas pelo mesmo número de autores, sendo que a totalidade das histórias se encaixa na faixa etária YA (e todos os autores me parecem publicar maioritariamente YA, também).

Em jeito de visão geral, é um bom conjunto de histórias, que me agradou imenso. Os nomes dos autores são em grande parte meus conhecidos e por isso já me sinto confortável com a sua escrita e o seu estilo narrativo - se bem que não será essa a razão principal para eu ter gostado dos contos ou não, já que gostei de contos de autores para mim desconhecidos, por exemplo.

Fiquei surpreendida com o tom ligeiramente mágico de alguns contos. Não é que não o esperasse de alguém como a Laini Taylor; mas o meu primeiro conto "mágico" da antologia foi o da Kelly Link, uma autora que não conhecia, e não sei bem porquê, não me identifiquei com a maneira como a história foi contada. Também o segundo conto "mágico", o da Jenny Han, me soou um pouco estranho, talvez inacabado, mas fiquei curiosa por ler mais coisas dela.

Por outro lado, fiquei a conhecer a voz de novos autores, e gostei muito daquilo que li do Matt de la Peña, da Myra McEntire, e até da Holly Black ou do David Levithan. Cada um deu uma perspectiva única à sua história, e isso contribuiu para manter o meu interesse no conto.

Das autoras que já conhecia, adorei reler a Rainbow Rowell, a Stephanie Perkins, a Gayle Forman, a Kiersten White, a Ally Carter, e a Laini Taylor. Qualquer uma destas senhoras é capaz de escrever uma boa história, e apreciei acompanhá-las, encontrando novas histórias e um estilo já conhecido e confortável.

Midnights de Rainbow Rowell é uma história adorável sobre dois amigos, um rapaz e uma rapariga, que se juntam nas passagens de ano em 4 anos sucessivos. Gostei do formato (ano após ano), que permitiu ver a evolução da relação deles, e foi deliciosamente frustrante esperar que pelo menos um deles se apercebesse do que tinham.

The Lady and the Fox de Kelly Link foi uma história que tive dificuldade em acompanhar. Não sei se por causa do tom ou da escrita. A ideia é interessante, um ser mágico que ano após ano aparece a uma família, preso a uma figura misteriosa, mas o tom não encaixa propriamente com o tema natalício, e a premissa precisava de ser melhor desenvolvida para funcionar.

Angels in the Snow de Matt de la Peña foi uma boa surpresa. Gostei da voz que o autor deu ao protagonista, pois senti-a muito credível, e era possível acreditar nas dificuldades e tristezas que carregava. Além disso, a história pega num tema apropriado à época, com duas pessoas que nunca se cruzariam a aproximarem-se graças à mesma.

Polaris is Where You'll Find Me de Jenny Han é uma história estranha. Fez-me confusão pegar-se nos habitantes do Polo Norte, torná-los reais, e ainda criar uma protagonista humana que cresceu educada pelo Pai Natal e rodeada de elfos. A história pareceu-me inacabada, por deixar uma situação em suspenso, mas também foi isso que me intrigou.

It's a Yuletide Miracle, Charlie Brown de Stephanie Perkins conta com dois protagonistas encantadores, e com uma química bem credível, mesmo ao jeito da autora. Gostei muito da exploração do passado dos protagonistas e como isso faz deles o que são. Cada um tem as suas particularidades, mas fazem um belo casal, e acreditei na sua aproximação.

Your Temporary Santa de David Levithan consegue sugerir muito com pouco, e apresentar uma história fofinha - o protagonista veste-se de Pai Natal para permitir a uma menininha continuar a acreditar no mesmo. Pontos bónus por apresentar um casal gay naturalmente. O fim parece um pouco fraco, mas apreciei vislumbrar as dúvidas do protagonista.

Krampuslauf de Holly Black funcionou bem para mim, pois mantém a aparência de realismo, só sugerindo o mágico, e revelando-o mais no fim. Acabou por ser interessante pela determinação da protagonista e pelas peripécias que ocorrem. A narração é singular - no início nem dá para perceber de que sexo é a personagem principal, e o seu nome só é mencionado no fim.

What the Hell Have You Done, Sophie Roth? de Gayle Forman é curiosamente nada dramático. Consegue apresentar os problemas da protagonista, fazer perceber onde ela tinha razão e onde podia melhorar. Gosto da voz sarcástica dela. É engraçado, porque apresenta a questão da discriminação dum novo ponto de vista, virando a posição dos dois personagens principais.

Beer Buckets and Baby Jesus de Myra McEntire tem um tom tão, tão divertido. O personagem principal é um ensarilhado e admite-o sem pedir desculpas. Dá para vislumbrar como é que a vida fez dele o que é, e as peripécias da história levam-no a desejar ser uma melhor pessoa, e a esforçar-se nesse sentido. Alguns personagens secundários surpreendem, no bom sentido.

Welcome to Christmas, CA de Kiersten White tem o bom humor da autora na sua concepção, mas também consegue desenhar um bom retrato do mundo interior da protagonista, do que a frustra e daquilo que falha em ver. Numa lição natalícia, acaba por apreciar melhor o que tem e aproveitar o que vem ao seu encontro. E a noção duma vila natalícia é hilariante.

Star of Bethlehem de Ally Carter tem uma premissa que roça o difícil de acreditar, mas que a autora faz resultar, tal como nos seus livros de Gallagher. A protagonista precisava de um bocadinho de paz, de encontrar um refúgio, e a família que a acolhe é fantástica nesse aspecto. Consegue ainda esboçar os problemas que afligem alguns personagens em poucas palavras.

The Girl Who Woke the Dreamer de Laini Taylor era o único conto que eu à partida tinha a certeza que ia ser bom, porque tudo o que sai da cabeça da Laini é fascinante e cativante. Sem entrar em muitos detalhes, a personagem principal tem uma vida complicada, num local que já de si é duro, e num momento de desespero pelo futuro incerto, inicia uma coisa mais fantástica e maravilhosa que alguma vez podia imaginar. Com o toque de magia habitual, a autora faz duma história simples uma bela aventura.

Páginas: 336

Editora: St. Martin's Press (MacMillan)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Colecção Universo Marvel #18, #19 e #20: Wolverine, Vingadores vs. X-Men

Wolverine: Evolução, Jeph Loeb, Simone Bianchi
Uma história que apresenta um novo inimigo do Wolverine, enquanto se debate com um inimigo já bem seu conhecido, Evolução tenta adicionar mais alguns pormenores à mitologia do personagem, desenvolvendo ainda o seu passado.

É intrigante ver revelados certos pormenores sobre o passado do Wolverine e sobre um tal Romulus, que eu já tive oportunidade de conhecer e ler sobre, em histórias mais à frente. Contudo, não sou totalmente fã da narração com flashbacks, que é um pouco confusa e convoluta.

A questão da Evolução também me faz duvidar se seria completamente necessária para apresentar o Romulus; possivelmente sim, mas gostava que tivesse sido explorada doutra maneira. No entanto, gostei bastante da narração interna do Logan, que deu algum interesse à história.

A arte é visualmente muito interessante, talvez um pouco escura, mas bastante enérgica; a composição das pranchas e a organização das vinhetas nelas confere alguma dinâmica à acção. Só não sou completamente fã dum aspecto visual tão escuro.

Vingadores vs. X-Men 1: O Dia da Fénix, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman, Matt Fraction, John Romita Jr., Olivier Coipel 
Vingadores vs. X-Men 2: E Então Restou Um, Matt Fraction, Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Olivier Coipel, Adam Kubert 
Já disse por aqui que não sou muito fã das sagas longas, porque tendem a arrastar e a engonhar, sem sim à vista; mas este Vingadores vs. X-Men até fez um bom trabalho em manter a minha atenção. O enredo corre a um bom ritmo, e em vez de termos os heróis a correr dum lado para o outro sem rumo (bem, até temos um bocadinho disso), há um acontecimento aproximadamente a um terço ou a meio da história que muda o foco e os desígnios dos super-heróis , e que ajuda a dinamizar a narrativa.

A história geral é responsabilidade de cinco argumentistas bem conhecidos (Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman e Matt Fraction), que se revezam a escrever cada número individual da história. Fazem um trabalho decente a criar um todo coerente, suponho; não conheço os estilos narrativos respectivos o suficiente para os identificar, mas deu para notar que cada número tinha um estilo diferente.

A premissa em si é bastante interessante, com os dois grupos titulares a discordar acerca de um assunto que lhes é muito caro - a vinda da Fénix, presumivelmente para encarnar na Hope Summers, e o caos que poderá vir daí - e a história que daí resulta até entretém, e se acompanha bem. Contudo, é daquelas premissas que se eu me puser a esmiuçar cai logo abaixo - creio que se os dois grupos se sentassem a uma mesa a discutir o assunto em vez de partir para a agressão imediatamente, não tínhamos tido tanto drama. Por outro lado, se toda a gente não insistisse em ser tão irracional, não tínhamos história, portanto...

Tenho a sensação que os Vingadores se fartaram de pôr o pé na argola vezes sem conta, em termos tácticos, o que é um pouco estranho, tendo em que conta que são liderados pelo Capitão América, que é supostamente um bom líder militar e uma pessoa razoável. E por falar no Capitão, a militarização da situação inicial parece-me totalmente descabida. Esperaria essa atitude dum Nick Fury, mas do Capitão? Bah.

Outro que faz uma asneirada de todo o tamanho é o Tony Stark. Para o génio que é suposto ser, como??? Como é que ele comete uma argolada como aquela com a Fénix? Podemos argumentar que tudo o que se segue é culpa dele, que foi fazer de Deus sem ter a certeza do que estava a fazer - o que não me parece nada típico do Homem de Ferro, mas enfim.

O acontecimento a meio da narrativa leva as coisas para novo território, e torna-se interessante seguir o Quinteto da Fénix. Porque a ideia inicial que têm, de melhorar o mundo em que vivem é fantástica; mas como acontece frequentemente com quem possui muito poder, as boas intenções degeneram. É curioso observar como os personagens resistem ou não ao poder da Fénix, mantendo a sua personalidade ou exacerbando-a até ao ponto de desequilíbrio.

Agrada-me a ideia final do que acontece à Fénix. A verdade é a história para trás deste evento é longa e complicada, indo bater pelo menos até à Dinastia de M, e aquilo que a Wanda/Feiticeira Escarlate fez nessa história teve repercussões durante muitos anos. Portanto, é adequado que ela tenha um papel na resolução do conflito, e que seja peça essencial no equilíbrio das capacidades da Hope.

Sobre uma certa morte ali para o final, bem, já disse que estou à espera que o personagem volte a todo o momento, por isso não me aquece nem arrefece. Ainda por cima o momento é tão anticlimático, ocorrendo depois dum momento grandioso, e tão inglório - querem mesmo que eu acredite que esta pessoa não saberia fazer melhor que cutucar uma fera enfurecida? É quase como se fosse culpa dele, bolas. A situação diz mais sobre a psique do perpetrador e de como se sentia em relação à sua vítima - de forma exacerbada pela Fénix.

Aprecio perceber finalmente o estado de algumas coisas nos primeiros números do Marvel NOW!, há muita coisa que faz agora sentido, como a tensão entre o Pantera Negra e o Namor. E percebi porque é que o casamento do Pantera com a Tempestade acabou, ainda que seja por uma razão estúpida - estarem de lados opostos do conflito não me parece suficiente, muito menos ele culpá-la pelo que o Namor fez, mas enfim...

Quanto ao trabalho artístico, está bem representado, entre três desenhadores bem conhecidos (John Romita Jr., Olivier Coipel, e Adam Kubert); só lhes notei a diferença porque o primeiro desenha caras e expressões num estilo mais cartoonesco e menos realista. Uns (Olivier Coipel, parece-me) têm mais queda para brincar com a organização das páginas e o posicionamento das vinhetas, mas no geral o trabalho apresentado conseguiu manter o meu interesse.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A rainha manda...: Rebel Angels, Libba Bray

A leitura escolhida pela Patrícia (Chaise Longue) para eu ler em Outubro para esta rubrica foi Rebel Angels, da Libba Bray. Uma leitura complexa e interessante, um trabalho soberbo e detalhado, muito ao estilo da Libba, com uma boa reflexão sobre o papel destas jovens na sociedade.


A leitura que escolhi para a Patrícia ler em Outubro foi Espera por Mim, de Gayle Forman, e podem ler as impressões dela aqui.

As meninas nunca foram perfeitas, mas sentiste neste livro mais os seus defeitos? O que pensas de algumas atitudes e formas de pensar, quer da Gemma, quer da Felicity ou da Anne?
A caracterização das protagonistas é a coisa mais maravilhosa e frustrante que a Libba faz. Digo maravilhosa porque ela retrata a amizade entre as meninas duma maneira realista. Há um senso de união, uma capacidade extraordinária de levar as coisas a bom porto quando se juntam, mas também há inveja, desacordo, e pressão. A amizade entre um grupo de mulheres é por vezes das coisas mais complicadas que há, e aprecio que a autora a retrate credivelmente.

Contudo, também é por isso que é frustrante de ler. Dá-me uns nervos dos diabos quando, por exemplo, a Felicity e a Ann começam a desconfiar da Gemma, a achar que ela faz de propósito para não as levar para os reinos, mas as viagens têm um efeito negativo na Gemma, por isso a pressão acaba por levá-la a emperigar-se quando não há necessidade. Gostava que as raparigas fossem mais compassivas umas para com as outras, mas imagino que isso seja algo que irão apanhando com a idade e a experiência, por isso não me consigo zangar com elas.

Não consigo encontrar faltas à Gemma, propriamente, porque ela é a protagonista e vemos a história pelos seus olhos, e pelos seus olhos é mais fácil encontrar faltas com as outras meninas. Suponho que posso dizer que gostava que o primeiro instinto da Gemma não fosse manter escondidas algumas informações que recebe, porque se as três jovens partilhassem e conversassem mais, resolviam os problemas mais rapidamente. Acho fascinante que a Gemma se debata com o seu papel na sociedade, porque ela sabe o que é esperado dela, mas não consegue identificar-se com isso, e essa situação deixa-a insegura e na dúvida sobre o futuro.

Quanto à Ann, custa-me que ela tenha tanta dificuldade em defender-se e acreditar nos seus pontos positivos. Falta-lhe auto-estima, mas não é algo que alguém possa resolvê-lo por ela, por isso fico a torcer para que ganhe confiança. Sobre a Felicity, acho-a uma pessoa bastante complexa, mas como a perspectiva que tenho dela é a da Gemma, tenho dificuldade em formar uma opinião sobre ela. Suspeitei de parte da sua biografia, e sei que isso conciona muito da sua postura, mas gostava de a conhecer melhor. Não tenho toda a informação necessária sobre a sua relação com a família e o seu passado, mas o que sei deixa-me interessada, e acho que a Felicity, nas condições certas, podia ir muito longe.

Há alguma personagem que gostarias de destacar, quer pela positiva ou pela negativa?
A vilã, da qual eu desconfiei muito cedo, mas que me confirmou as suspeitas quando a Libba se põe a falar de anagramas dos nomes e nos dá o nome completo da pessoa passado meia-dúzia de páginas. Ela tem um papel importante na coisa, mas não é a única jogadora, talvez nem a mais perigosa, e por isso temo pelas minhas meninas.

Gostei bastante de conhecer e explorar a sociedade londrina vitoriana pelo Natal, porque deu algum cenário às meninas, e permite compreender como a sociedade condiciona a sua postura.

Quanto aos rapazes que mostram interesse na Gemma, não creio que possa torcer por nenhum. O Simon seria apenas uma escolha segura, e um impedimento às grandes coisas a que a Gemma está destinada. Não me parece que compreendesse. Quanto ao Kartik, bem, eu vejo alguma atracção, mas não vejo uma ligação genuína com a Gemma, e para pessoas tão diferentes a química tem de estar lá, ou aquilo não vai a lado nenhum.

Neste livro temos algumas surpresas chocantes, em que algumas personagens se revelam diferentes do que pensávamos ou alguns dos seus segredos mais obscuros são descobertos. Surpreenderam-te estas reviravoltas?
Sim e não. Não eram coisas que eu soubesse antes de começar a ler, mas também foram coisas que deduzi à medida que a história se foi desenvolvendo. Creio que a Libba Bray faz um bom trabalho a equilibrar a manutenção do suspense nessas questões, e a plantar algumas pistas para o leitor.

Aproveitando as férias natalícias das protagonistas, a Libba dá-nos um retrato mais detalhado da vida londrina da época e, principalmente, dos papéis das jovens na sua sociedade. Achas que foi enriquecedor para a história? Deu-te uma melhor ideia da época?
Sim, foi bastante mais esclarecedor que o primeiro livro nesse aspecto. Uma escola em regime de internato é uma micro-sociedade - bastante interessante por sinal -, mas não permite ver a imagem geral. A verdade é que a sociedade em que cresceram e em que se movem dita o tipo de comportamento que a Gemma, a Felicity e a Ann têm - e o comportamento que é esperado delas. É assustador, até, pensar em como esta época sufocava as suas jovens, pessoas inteligentes, competentes, cheias de ideias e sonhos. Por isso, sim, a autora dá uma bela descrição da época, bem certeira.

Existe uma certa aura de mistério em redor desta história. Isso atiça a tua curiosidade? Ou faz-te sentir perdida?
Bem... deixa-me uma sensação dual. Por um lado, o mistério que envolve os reinos é o que faz a narrativa avançar, que força as meninas a investigar, e quero muito saber o que passa com os reinos, e o que ainda vai acontecer com eles. Mas por outro lado, a história avança devagar, por vezes demasiado devagar. O mistério principal é revelado com demasiada calma, fazendo parecer que ou as raparigas não estão com pressa nenhuma em resolver as coisas, ou são demasiado tontinhas para perceber as coisas.

Se no primeiro livro a ideia dos Reinos parecia um pouco obscura, neste somos confrontados com alguns povos que aí residem, para além, de nos ser apresentada uma ideia mais palpável do que são os Reinos e daqueles que os querem controlar. Sentiste isso? Achas que foste esclarecida ou ainda existe algo que te confunde neste mundo?
Bem, posso dizer que a questão dos Reinos foi mais desenvolvida e melhor esclarecida, sim. O espaço dos Reinos foi explorado pelas meninas, e conhecemos novos locais e novos habitantes deles. Em termos de magia, deu para compreender melhor como os Reinos e o que contêm funcionam, que tipo de transformações podem ocorrer aos que neles habitam, e o que pode ser trazido para o mundo real. Deu para perceber ainda quem está interessado em controlar o poder dos Reinos, e acima de tudo, foi definitivamente estabelecido que a magia tem consequências, algo bastante importante no esquema geral das coisas.

A escrita da Libba destaca-se por ser bastante envolvente apesar das ideias abstractas que transpõe para o seus livros. Sentes o mesmo? Gostas da escrita dela?
Gosto bastante. É uma escrita complexa, densa, mas que lança como que um feitiço sobre o leitor, e é impossível deixar a história a meio por causa disso. Pode dar um nadinha de trabalho a desbravar, por vezes, mas por isso o prazer é maior quando se chega ao fim. E gosto muito de como ela envolve vários temas e aspectos numa mesma narrativa, trabalhando-os fantasticamente, sem falhas.

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O livro que a Patrícia escolheu para eu ler no próximo A rainha manda... é:

North and South, de Elizabeth Gaskell
Escolhi este livro para a p7 porque é um dos meus clássicos preferidos e evoca tudo o que ambas gostámos num livro. Penso que ela se irá deliciar com as discussões de Margaret e Mr. Thorne, bem como pela forma inteligente como a autora mostra a dicotomia desta sociedade. Espero que seja uma leitura tão maravilhosa para ela como foi para mim. Afinal, já temos Orgulho e Preconceito, bem como Jane Eyre em comum... Porque não termos uma tríade?

No entanto, o próximo post da rubrica será para Janeiro. Vamos fazer agora uma pausa durante o próximo mês e meio, pois entre a época festiva e terminar alguns desafios pessoais, vamos andar relativamente ocupadas, e então achámos melhor recomeçar no novo ano para podermos dedicar todo o nosso tempo aos respectivos livros.

Podem ver qual o livro que sugeri à Patrícia para Janeiro, e o porquê de o ter escolhido, aqui.