segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: Mockingjay/A Revolta parte I (2014)

Confesso, estava um pouco céptica. Não sou nada fã desta história de me dividirem os livros finais de séries em dois filmes, só para espremer mais umas gotas de leite à vaca de fazer dinheiro. (Obrigadinha, Harry Potter, por teres começado a moda. Gosto muito de ti, mas agora toda a gente acha que tem de fazer o mesmo, raios.)

Ou seja, acho que foi melhor do que estava à espera. O que apanhei dos trailers deixou-me a sensação que iam dar cabo do tom da história, mas pronto, os trailers desta saga sempre foram um bocado enganadores; o tom até me pareceu relativamente adequado, entre a exploração do estado mental da Katniss depois dos segundos Jogos, e do que aconteceu ao Peeta e ao Distrito 12, e a sublevação dos Distritos e a preparação do Distrito 13 para a guerra.

No primeiro caso, vale sempre a pena mencionar a Jennifer Lawrence, que tem feito nesta série um trabalho fantástico a encarnar a Katniss e os seus variados estados de espírito, várias vezes sem abrir a boca. O estado de espírito da Katniss é particularmente difícil nesta parte da história, e acho que ela fez um bom trabalho com o mesmo.

No segundo caso, temos ainda assim algumas cenas de arrepiar. Aliás, eu passei o filme todo meio horrorizada com a sugestão do que a revolta e a guerra fez e está a fazer aos habitantes de Panem, e aí o filme conseguiu evocar o que senti ao ler o livro.

Contudo, o que quero destacar mesmo é as cenas em que visitamos o Distrito 12, e vemos a extensão do que lhe aconteceu; ou as cenas do Distrito 8, com o hospital, que são cenas de acção, mas também de perda, pelo resultado final da situação; ou as cenas em que as pessoas comuns tomam uma posição e tentam combater o Capitólio da maneira que podem (os madeireiros do Distrito 7 ou as pessoas na barragem, no que imagino que seja o Distrito 5).

Em termos de enredo, é uma narrativa necessariamente mais calma, tendo em conta os temas que explora e a preparação para a segunda parte da história. E não tive problemas com isso, senti a história como mais ou menos equilibrada. A única coisa que me deixa mais na dúvida é o final. Acredito que foi a melhor maneira de terminar o filme, fechando alguns fios do enredo e deixando a porta aberta para explorar outros; e não foi um mau momento escolhido do livro para terminar.

No entanto, como é um momento do meio do livro, sinto que não faz um clímax suficientemente poderoso para terminar o filme mesmo satisfatoriamente; ficou-me a sensação que podia ser um bocadinho mais. Sei lá, terem explorado melhor a cena de acção do resgate, fazê-la um pouco mais grandiosa e longa, para funcionar melhor como clímax da narrativa deste filme.

No que toca ao elenco, é tão, tão maior, aparecem tantos personagens novos, e aqui não é para morrerem metade mal os Jogos comecem, porque não há Jogos. Suponho que posso dizer que se fez um trabalho decente a introduzir pessoas como o Boggs ou a Cressida e a equipa de filmagens. (Não me importava que a Natalie Dormer tivesse mais tempo de antena, que ela é carismática e rouba as cenas.) A presidente Coin vê sugerida a sua história passada, dando-lhe alguma dimensão, o que é de destacar.

Gostava tanto de ter visto mais do Haymitch, desgraçado, que anda meio desaparecido durante parte do filme (justificadamente), e da Effie, que mesmo assim já ficou a ganhar com o desempenho da Elizabeth Banks, já que a personagem mal aparece no terceiro livro. Mas esta Effie é tão divertida e vistosa e gosto tanto de a ver, e mesmo sem os vestidos e as perucas dá um show, dando uma leveza necessária a certos momentos, com os seus comentários engraçados. Dá cabo de mim nem termos uma fala da Johanna, esse furacão andante; já o Stanley Tucci aproveita muito bem os poucos momentos que tem como Caesar Flickman.

Ver o Philip Seymour Hoffman no ecrã parte-me o coração, porque este actor era um casting fantástico para o Plutarch, e credito-o totalmente com ter atraído mais importância para o seu personagem. Este Plutarch está mais enredado nas intrigas, puxando uns cordelinhos aqui e ali, gerindo bem a sua posição entre os principais jogadores da revolta em Panem.

Parece que à data da sua morte lhe faltava uma semana de filmagens, e reescreveram certas cenas para colmatar a sua falta; vai matar-me se uma dessas cenas for a última do Plutarch no livro, em que ele diz uma coisa tão pragmática e brutalmente descrente da natureza humana, que eu ando a salivar há um ano (desde que o vi no segundo filme) a imaginar a cena.

Dos três protagonistas, já falei da Jennifer Lawrence; as poucas aparições do Josh Hutcherson como Peeta são impressionantes, porque com uma ajudinha dos computadores vai aparecendo cada vez mais destruído, graças ao tratamento às mãos do Capitólio. Já o Gale, uma parte das suas cenas dão-me um bocado de vontade de lhe bater por ser um tolo e bruto insensível. Contudo, devo reconhecer o desempenho do Liam Hemsworth em dois momentos: um é quando voltam ao Distrito 12 e ele reconta o que aconteceu no ataque.

Outro é quando ele e a Katniss se beijam e o Gale diz em tom de lamúria que a Katniss só lhe presta atenção quando está magoado. Aqui louvo a maneira como ele o diz, porque me fez perceber duas coisas sobre o Gale. Uma delas é que não tolera fraqueza (algo que vemos noutros momentos, como quando critica o Peeta pela postura que toma quando está no Capitólio... querido, vai lá ser torturado durante semanas e depois logo falamos), e no seguimento dessa postura receber carinho quando está em baixo parece ser horrível para ele.

A segunda coisa é que ele não compreende de todo a Katniss que tem à frente. A Katniss já começou a trilogia tendo uma relação estranha com o amor que sente pelos que lhe estão mais próximos, e o sofrimento emocional inerente; e de certo modo as vivências nos Jogos exacerbaram isso. Por isso, para ela amor e dor estão demasiado próximos, e consegue exprimir melhor um quando reconhece o outro; daí a atitude dela para com o Gale. Que, volto a dizer, é um tolo. Mas eu nunca lhe percebi a piada, e deve ser por isso que só lhe encontro defeitos. (Ou então é mesmo porque ele é um pateta e totalmente errado para a Katniss. Adiante.)

Já mencionei como me senti com o final, e só me resta dizer que já que as filmagens dos dois filmes do Mockingjay já terminaram, é completamente ridículo que o próximo filme saia daqui a um ano. Uma espera mais curta, uns seis meses, seria mais adequado, até porque os espectadores casuais não têm obrigação de se lembrar da história deste filme para ver o próximo, e a verdade é que calculo que os dois juntos funcionem melhor como história. Já os espectadores interessados e fãs não merecem esperar tanto tempo para ver o final de uma série favorita.

4 comentários:

  1. Também fiquei lixada quando vi que iam dividir o filme. Ainda por cima um livro tão pequeno não se justifica nada.
    Só o vou ver no fds e agora com a tua review ainda consegui ficar mais ansiosa.
    Beijinhos

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    1. Pois, também foi essa a minha dúvida, o livro em si é curtinho... aqui no filme acrescentaram ou desenvolveram algumas coisas, mas raramente senti enfado com as mesmas ou que estavam a engonhar, ao menos isso. :)

      Boa sessão! Espero que gostes. ^_^
      Beijinhos e boas leituras. ;)

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  2. Sempre que ouço dizer que vão dividir um filme em duas partes, também fico como tu. Mas, não sei porquê, saio sempre da sala de cinema, com a sensação de que até foi uma boa ideia dividirem porque deu para explorar melhor a história. Então do Mockingjay ainda bem que o fizeram porque eu não gostei lá muito do livro (ainda o hei-de reler mas quando li pela 1ª vez, não gostei muito) e acho que acabei por gostar muito mais do filme, não sei bem porquê!
    Concordo totalmente contigo! 1 ano é muito tempo para esperarmos por uma 2ª parte de um filme -.- Já que copiaram o HP na cena de dividirem em duas partes, podiam fazer o mesmo com as datas de estreia! Acho que passaram pouco mais de 6 meses quando saiu a 2ª Parte dos Talismãs da Morte! :/

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    1. Acho que o único caso mais óbvio do contrário, da divisão em filme ter resultado pessimamente, foi o Breaking Dawn/Amanhecer. Pelo menos comigo... lembro-me que saí da sala depois do primeiro filme completamente aborrecida. :/

      Também tenho um bocadinho de receio quanto ao Allegiant/Convergente, não tenho a certeza se a história se presta a ser dividida... mas o único que à partida eu tinha a certeza que tinha pano para os dois filmes foi mesmo o Harry Potter, por isso, acho que duvido mesmo de tudo. xD

      Espero que tenhas oportunidade de voltar a lê-lo. Sei que é um livro difícil de gostar, comigo tive a sorte de encaixar bem com ele. :D

      Tens razão, foi um período mais curto, foi bem mais fácil de esperar... aqui no caso do Mockingjay nem se percebe, ao que sei as filmagens terminaram há algum tempo, dá a sensação que têm mais do que tempo para a pós-produção e ainda lançar o filme daqui a seis ou sete meses. :S

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