quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A rainha manda...: Rebel Angels, Libba Bray

A leitura escolhida pela Patrícia (Chaise Longue) para eu ler em Outubro para esta rubrica foi Rebel Angels, da Libba Bray. Uma leitura complexa e interessante, um trabalho soberbo e detalhado, muito ao estilo da Libba, com uma boa reflexão sobre o papel destas jovens na sociedade.


A leitura que escolhi para a Patrícia ler em Outubro foi Espera por Mim, de Gayle Forman, e podem ler as impressões dela aqui.

As meninas nunca foram perfeitas, mas sentiste neste livro mais os seus defeitos? O que pensas de algumas atitudes e formas de pensar, quer da Gemma, quer da Felicity ou da Anne?
A caracterização das protagonistas é a coisa mais maravilhosa e frustrante que a Libba faz. Digo maravilhosa porque ela retrata a amizade entre as meninas duma maneira realista. Há um senso de união, uma capacidade extraordinária de levar as coisas a bom porto quando se juntam, mas também há inveja, desacordo, e pressão. A amizade entre um grupo de mulheres é por vezes das coisas mais complicadas que há, e aprecio que a autora a retrate credivelmente.

Contudo, também é por isso que é frustrante de ler. Dá-me uns nervos dos diabos quando, por exemplo, a Felicity e a Ann começam a desconfiar da Gemma, a achar que ela faz de propósito para não as levar para os reinos, mas as viagens têm um efeito negativo na Gemma, por isso a pressão acaba por levá-la a emperigar-se quando não há necessidade. Gostava que as raparigas fossem mais compassivas umas para com as outras, mas imagino que isso seja algo que irão apanhando com a idade e a experiência, por isso não me consigo zangar com elas.

Não consigo encontrar faltas à Gemma, propriamente, porque ela é a protagonista e vemos a história pelos seus olhos, e pelos seus olhos é mais fácil encontrar faltas com as outras meninas. Suponho que posso dizer que gostava que o primeiro instinto da Gemma não fosse manter escondidas algumas informações que recebe, porque se as três jovens partilhassem e conversassem mais, resolviam os problemas mais rapidamente. Acho fascinante que a Gemma se debata com o seu papel na sociedade, porque ela sabe o que é esperado dela, mas não consegue identificar-se com isso, e essa situação deixa-a insegura e na dúvida sobre o futuro.

Quanto à Ann, custa-me que ela tenha tanta dificuldade em defender-se e acreditar nos seus pontos positivos. Falta-lhe auto-estima, mas não é algo que alguém possa resolvê-lo por ela, por isso fico a torcer para que ganhe confiança. Sobre a Felicity, acho-a uma pessoa bastante complexa, mas como a perspectiva que tenho dela é a da Gemma, tenho dificuldade em formar uma opinião sobre ela. Suspeitei de parte da sua biografia, e sei que isso conciona muito da sua postura, mas gostava de a conhecer melhor. Não tenho toda a informação necessária sobre a sua relação com a família e o seu passado, mas o que sei deixa-me interessada, e acho que a Felicity, nas condições certas, podia ir muito longe.

Há alguma personagem que gostarias de destacar, quer pela positiva ou pela negativa?
A vilã, da qual eu desconfiei muito cedo, mas que me confirmou as suspeitas quando a Libba se põe a falar de anagramas dos nomes e nos dá o nome completo da pessoa passado meia-dúzia de páginas. Ela tem um papel importante na coisa, mas não é a única jogadora, talvez nem a mais perigosa, e por isso temo pelas minhas meninas.

Gostei bastante de conhecer e explorar a sociedade londrina vitoriana pelo Natal, porque deu algum cenário às meninas, e permite compreender como a sociedade condiciona a sua postura.

Quanto aos rapazes que mostram interesse na Gemma, não creio que possa torcer por nenhum. O Simon seria apenas uma escolha segura, e um impedimento às grandes coisas a que a Gemma está destinada. Não me parece que compreendesse. Quanto ao Kartik, bem, eu vejo alguma atracção, mas não vejo uma ligação genuína com a Gemma, e para pessoas tão diferentes a química tem de estar lá, ou aquilo não vai a lado nenhum.

Neste livro temos algumas surpresas chocantes, em que algumas personagens se revelam diferentes do que pensávamos ou alguns dos seus segredos mais obscuros são descobertos. Surpreenderam-te estas reviravoltas?
Sim e não. Não eram coisas que eu soubesse antes de começar a ler, mas também foram coisas que deduzi à medida que a história se foi desenvolvendo. Creio que a Libba Bray faz um bom trabalho a equilibrar a manutenção do suspense nessas questões, e a plantar algumas pistas para o leitor.

Aproveitando as férias natalícias das protagonistas, a Libba dá-nos um retrato mais detalhado da vida londrina da época e, principalmente, dos papéis das jovens na sua sociedade. Achas que foi enriquecedor para a história? Deu-te uma melhor ideia da época?
Sim, foi bastante mais esclarecedor que o primeiro livro nesse aspecto. Uma escola em regime de internato é uma micro-sociedade - bastante interessante por sinal -, mas não permite ver a imagem geral. A verdade é que a sociedade em que cresceram e em que se movem dita o tipo de comportamento que a Gemma, a Felicity e a Ann têm - e o comportamento que é esperado delas. É assustador, até, pensar em como esta época sufocava as suas jovens, pessoas inteligentes, competentes, cheias de ideias e sonhos. Por isso, sim, a autora dá uma bela descrição da época, bem certeira.

Existe uma certa aura de mistério em redor desta história. Isso atiça a tua curiosidade? Ou faz-te sentir perdida?
Bem... deixa-me uma sensação dual. Por um lado, o mistério que envolve os reinos é o que faz a narrativa avançar, que força as meninas a investigar, e quero muito saber o que passa com os reinos, e o que ainda vai acontecer com eles. Mas por outro lado, a história avança devagar, por vezes demasiado devagar. O mistério principal é revelado com demasiada calma, fazendo parecer que ou as raparigas não estão com pressa nenhuma em resolver as coisas, ou são demasiado tontinhas para perceber as coisas.

Se no primeiro livro a ideia dos Reinos parecia um pouco obscura, neste somos confrontados com alguns povos que aí residem, para além, de nos ser apresentada uma ideia mais palpável do que são os Reinos e daqueles que os querem controlar. Sentiste isso? Achas que foste esclarecida ou ainda existe algo que te confunde neste mundo?
Bem, posso dizer que a questão dos Reinos foi mais desenvolvida e melhor esclarecida, sim. O espaço dos Reinos foi explorado pelas meninas, e conhecemos novos locais e novos habitantes deles. Em termos de magia, deu para compreender melhor como os Reinos e o que contêm funcionam, que tipo de transformações podem ocorrer aos que neles habitam, e o que pode ser trazido para o mundo real. Deu para perceber ainda quem está interessado em controlar o poder dos Reinos, e acima de tudo, foi definitivamente estabelecido que a magia tem consequências, algo bastante importante no esquema geral das coisas.

A escrita da Libba destaca-se por ser bastante envolvente apesar das ideias abstractas que transpõe para o seus livros. Sentes o mesmo? Gostas da escrita dela?
Gosto bastante. É uma escrita complexa, densa, mas que lança como que um feitiço sobre o leitor, e é impossível deixar a história a meio por causa disso. Pode dar um nadinha de trabalho a desbravar, por vezes, mas por isso o prazer é maior quando se chega ao fim. E gosto muito de como ela envolve vários temas e aspectos numa mesma narrativa, trabalhando-os fantasticamente, sem falhas.

-----/-----

O livro que a Patrícia escolheu para eu ler no próximo A rainha manda... é:

North and South, de Elizabeth Gaskell
Escolhi este livro para a p7 porque é um dos meus clássicos preferidos e evoca tudo o que ambas gostámos num livro. Penso que ela se irá deliciar com as discussões de Margaret e Mr. Thorne, bem como pela forma inteligente como a autora mostra a dicotomia desta sociedade. Espero que seja uma leitura tão maravilhosa para ela como foi para mim. Afinal, já temos Orgulho e Preconceito, bem como Jane Eyre em comum... Porque não termos uma tríade?

No entanto, o próximo post da rubrica será para Janeiro. Vamos fazer agora uma pausa durante o próximo mês e meio, pois entre a época festiva e terminar alguns desafios pessoais, vamos andar relativamente ocupadas, e então achámos melhor recomeçar no novo ano para podermos dedicar todo o nosso tempo aos respectivos livros.

Podem ver qual o livro que sugeri à Patrícia para Janeiro, e o porquê de o ter escolhido, aqui.

4 comentários:

  1. Realmente, ainda não leste o N&S, então!? Mr Thornton awaits! (Mas já deves ter visto a mini-série, não?)
    A explicação da Patrícia fez-me rir porque ela escreveu Thorne, e eu imaginei o Thorne da Cress muito triste a dizer "No one loves me, no one cares for me, but you, mother!" haha xD

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, a série já vi. O livro, bem, suponho que estava a guardar para um rainy day. ;)

      Oh, lol, nem tinha reparado! xD Sim, a ideia do Captião Thorne a lamuriar-se é assim para o divertida. :P

      Eliminar
    2. É muito bom, e o final é ligeiramente diferente mas igualmente romântico, mesmo sem o northbound train a tocar no fundo.

      Ahah, logo o Thorne que é um convencido de primeira e acha que é o centro do universo xD

      Eliminar
    3. Hmm não sei, acho que me vai fazer falta aquele fim totalmente adorável da série. :D

      Oh, isso é tudo fachada, o Thorne no fundo, lá bem no fundo, é um lamechas, vais ver. xD

      Eliminar