Opinião: Expectativas. Já disse o quão odeio expectativas? Por exemplo, sendo este um issues book, um livro contemporâneo com er, assuntos e experiências pelas quais um adolescente passa, achei que esta seria uma leitura emocional e comovente. O problema é, a nível intelectual sei que as situações pelas quais o Charlie passa são profundamente emocionais, mas a escrita não fez nada por mim. Não me fez sentir nada. E isso é um problema.
Quero dizer, em retrospectiva, percebo que a escrita desprendida e tão infantil (a sério, parece que estava a ler algo escrito por um puto de 8 anos e não 15-16) do Charlie seja um sinal do seu estado mental e uma pista daquilo que ele passou, mas aí reside outro problema. As pistas para a situação que é revelada no fim são quase inexistentes, e por isso mesmo quando ela nos cai no colo é uma surpresa e tremendamente anticlimática. E é mais difícil ligar-me e comover-me com a situação. Só quando estou aqui a escrever a minha opinião e a hiperracionalizar a coisa é que percebo a grandeza e a seriedade da mesma.
Acho que nestes aspectos este é um livro como Speak (Grita), da Laurie Halse Anderson. A narrativa desprendida ou a colecção de momentos da vida do protagonista sem haver um fio condutor ou clímax final tornam-me difícil ligar aos protagonistas e tenho de estar aqui a hiperracionalizar os seus problemas para os compreender no campo emocional. Eu não quero hiperracionalizar. Eu quero emocionar-me com a Melinda e o Charlie sem tem sequer de pensar, porque a sua dor é tão evidente e tão bem transmitida pelo escritor que eu fico torturada. Raios, não acredito que estou a dizer isto, porque normalmente detesto (e adoro) ser torturada por um livro ao ponto de chorar, mas bolas, eu quero que um livro destes me faça chorar!
Ainda há pontos positivos, perguntam vocês, depois desta retórica toda? Sim. Apesar da sua voz infantilizada, é possível perceber que o Charlie é um miúdo esperto e tem alguns pensamentos filosóficos interessantes, daqueles que dão boas citações. As suas observações sobre o mundo são de certo modo únicas, e consegue-se ver o Charlie a desabrochar um bocadinho ao longo da história. O Patrick e a Sam pareceram personagens bem interessantes e gostava de ler mais sobre eles. Gostei do mentor que o Charlie arranjou no professor de Inglês, que o levou a ler tanta coisa.
Estou com esperança de que o filme neste caso consiga colmatar algumas destas falhas... antes de ler o livro duvidava da escolha do Logan Lerman para um Charlie 2 a 3 anos mais novo que a Sam e o Patrick, mas aqui poderá funcionar a favor da história, talvez o Charlie saia menos infantilizado.
Páginas: 240
Editora: Pocket Books
Hmmmm... Confesso que estava com altas expectativas para este! Quis ver o filme mas quando me apercebi que se tratava de uma adaptação, decidi que partiria primeiro para o livro... mas tendo em conta o que escreveste, confesso que fiquei... desanimada, vá! Referiste o Speak e isso só serviu para me tirar ainda mais entusiasmo, principalmente porque foi um daqueles livros que li onde se poderia ter explorado tão intensamente todos os sentimentos e dores e angustias, e onde terminei a leitura sem sentir absolutamente nada.
ResponderEliminarTambém foi essa a razão pela qual me atirei ao livro. ;) A ironia da coisa é que acabei por não chegar a ver o filme quando esteve nos cinemas. xD
EliminarBem, se tiveste a mesma experiência que eu com o Speak, é capaz de este te deixar assim também... Por outro lado, pensa assim, agora vais para a leitura com menos expectativas, até podes vir a gostar mais por causa disso. ;)