domingo, 27 de julho de 2014

Champion, Marie Lu


Opinião: Esta tem sido uma trilogia de certo modo única de explorar. Não sendo uma que me apaixone e leve aos píncaros e me faça cantar aos céus as suas virtudes, não deixa de ser por isso fascinante no modo como apresenta os seus temas e faz evoluir os seus personagens. É uma história que aprecio mais com a cabeça que com o coração, mas não há nada de mal com isso.

Neste volume, a Republic parece estar no caminho para um tratado de paz com as Colonies e para se tornar num melhor país para os seus cidadãos do que até agora o foi... mas uma reaparição da peste emperiga as conversações entre os dois países, e mostra quão frágil mesmo está a Republic. Cabe à June e ao Day ajudar o seu país a sobreviver aos inimigos que os parecem rodear de todos os lados.

Pensando na história dos três livros em geral, achei-os bastante optimistas, particularmente neste livro. Em tanta coisa que tenho lido nos géneros de distopia e pós-apocalíptico, muito é bastante passimista, explorando como o sistema, ou a sua falência, corrompe e destrói os seus membros. O que é parte quase essencial dos géneros, suponho. Mas também é refrescante quando alguém faz algo diferente, como a autora aqui faz. Apesar do que as pessoas passaram às mãos do sistema, ainda se mantêm elas próprias, os soldados não se perderam para o poder que o sistema lhes dava, as pessoas ainda lutam. É comovente de tão optimista (e algo ingénuo, também).

Outra defesa interessante que a autora faz é a defesa reconstrutiva, e anti-destrutiva do sistema. No primeiro e até no segundo livros, o pensamento era mais ingénuo, mais "vamos deitar tudo abaixo e começar de novo". Neste, evolui para um compromisso, uma perspectiva mais adulta de "ok, o sistema não funciona, mas vamos ver se conseguimos melhorá-lo, vamos tentar". É realista e sóbrio, e mostra uma evolução nos personagens, que assumem uma posição nesse sistema para tentar mudá-lo.

No livro anterior já tivemos um vislumbre do resto do mundo fora da Republic - nomeadamente, das Colonies e do sistema que vigora por lá; neste, somos introduzidos à Antárctida. Por um lado, fiquei desapontada por não ter tido uma maior espreitadela aos territórios do resto do mundo; por outro, achei a Antárctida bastante interessante como sistema. Especialmente porque à superfície parece ser um sistema simples, eficaz e bom, mas que rapidamente levanta questões éticas e morais - se as pessoas têm um comportamento bom para ganhar pontos, e não porque o comportamento bom beneficia a sociedade, podemos mesmo chamar-lhe um comportamento bom? E depois, quem decide o que é bom e mau? É um sistema que tem tudo para dar asneira e se tornar num sistema repressivo.

A June e o Day encontram-se em pontos cruciais da sua vida, é fascinante de os ver lidar com o que têm entre mãos. A June está a estudar para Princeps, mas é claramente uma coisa que ela detesta fazer, apesar de se esforçar para mostrar o que vale, nem ela podia fazê-lo de outra maneira. O Day debate-se com a "pequena" revelação no fim do livro anterior, e em como isso imprime uma outra premência às coisas que ele faz. Juntos, são uma equipa fabulosa, e deixam-se ceder ao que há entre eles (finalmente), mas também há algo que os separa, algo que podem não ser capazes de ultrapassar.

Entre os personagens secundários, acho que tenho de destacar o Thomas, que por muita porcaria que tenha feito, tem uma lealdade inquebrável à Republic, e é quase assustador vê-la em acção. Há que respeitar alguém que funciona deste modo. (Ou pelo menos ter medo dele.) A sua narrativa sobre certos acontecimentos do Legend é, bem, impressionante. Por outro lado, acho que acabei a ficar cheia de pena do Anden, por um lado pelo peso do que tem de suportar, e por outro porque o comboio dele já tinha partido, e por mais que o rapaz se esforçasse, não dava para apanhá-lo.

O capítulo final, curiosamente, foi algo comovente, pela sensação de... perda e dor que o permeava. Passei o tempo que o li completamente em baixo, aflita pelos personagens e pelo que a passagem do tempo lhes teria (ou poderia ter) feito. Não sou a maior fã duma certa coisa que a autora fez a um dos personagens, porque fiquei frustradíssima com aquilo... mas acabou por ser uma solução elegante ao dilema que se punha aos personagens desde o primeiro livro, juntamente com a separação temporal. Permitiu curar, ganhar distância e perspectiva das coisas para lhes permitir aprender a viver com as mágoas. Enquanto que o resto da trilogia foi mais acção e pensamento, este epílogo foi totalmente emoção, e deixou-me tremendamente satisfeita, apesar da melancolia e nostalgia inerentes. (Ou talvez por causa delas.)

Páginas: 384

Editora: Putnam (Penguin)

4 comentários:

  1. E eu com o primeiro por ler...

    Boas leituras!

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    1. Oh, está recomendado. ;) A trilogia pode passar despercebida ao primeiro olhar/leitura, mas quanto mais penso nela, mais gosto dela, e mais vou encontrando coisas que adorei ler nela. :)

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  2. A sinopse despertou-me a atenção, desde que a li que ando com vontade de ler esta trilogia. Cada dia que passa a vontade fica maior ...

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    1. Eu apoio essa vontade! ;) É uma história mais interessante que à primeira vista possa parecer, e tem umas ideias interessantes. :)

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