domingo, 9 de dezembro de 2012

Uma imagem vale mil palavras: Cloud Atlas (2012)

Gente, toca a ir ver isto. Vão ter de despender 3 horas da vossa vida, vão passar um bocado a aclimatizar-se às histórias, e a tentar perceber o que se passa e o que liga esta gente em tempos e espaços tão diferentes, mas no fim vai ser recompensador e engraçado ligar as 6 histórias, e hão de estar como eu, possivelmente, aqui a escrever a minha opinião e ainda a perceber paralelismos e maravilhar-me com o filme.

Ou então, se preferem acção e explosões e coisas que não vos façam pensar muito, saltem para a sala de cinema do lado e vão ver o Amanhecer Violento ou assim. (E, já agora, que obsessão é esta dos americanos com a violência? Ultimamente é demais. É só filmes em que um bando de tipos pega em armas, toma uma posição e vai dar tiros aos maus [ou os que eles acham que são os maus]. Mudem de cassete, por favor.)

De volta ao tema. Não li o livro, está na calha - porque a história é tão rica que gostava de ver o que o autor imaginou, e comparar ambos os meios. Sei que a estrutura narrativa do livro encaixa as histórias umas nas outras como uma matrioshka, mas calculo que seja uma coisa que não resulte muito bem em filme, por isso o modo como os criadores decidiram intercalar as várias histórias acaba por funcionar muito bem.

A narração de 6 histórias no mesmo filme é ambiciosa. Dá-nos muito menos tempo para nos ligarmos aos personagens, ou sequer para perceber o que se passa. Mas a existência de temas e percursos comuns torna as 6 histórias numa só, a história de seres humanos a tentar evoluir, melhorar e libertar-se da opressão das circunstâncias e da sociedade. Não é sobre um grande significado da vida. É sobre pequenos gestos, momentos das nossas vidas que têm repercussão através dos tempos, apesar da sua aparente insignificância.

A ideia de usar os mesmos actores nas diferentes histórias acaba por dar uma coesão narrativa interessante. Cria ligações mais significativas entre as histórias, quase como uma corrente kármica de reencarnação, ainda que não literal. E é tão divertido identificar os actores quando lhes mudam a etnia ou o sexo. A Doona Rae como ocidental tem um ar tão exótico. Não reconheci o Jim Sturgess na sua encarnação asiática. E as versões femininas do Hugo Weaving, do James D'Arcy ou do Ben Whishaw são tão engraçadas. A Halle Berry e o Tom Hanks também têm umas transformações curiosas.

Ironicamente, as minhas histórias favoritas são as que acabam menos bem. Gosto muito da narrativa passada em 2144. Agrada-me o seu tom distópico (as possibilidades que este mundo teria para se criar um livro à volta dele) e a viagem de descoberta por que a Somni passa. Também gosto da história do Robert Frobisher, um artista torturado decidido a terminar a sua obra-prima. Uma história passada em 1936, triste e dramática, apertou-se-me o coração por causa do Frobisher e do Sixsmith.

Mas as outras histórias têm também momentos fantásticos. Ri-me muito com as atribulações do Timothy Cavendish (2012)... aqueles idosos são tão fofos, as enfermeiras eram de doidos e a cena do bar foi hilariante. A história do Adam Ewing (1849) é algo comovente, estava mesmo a torcer para que ele sobrevivesse e chegasse aos braços da mulher. Gostei, na história do Zachry (2346), do aspecto pós-apocalíptico, duma escassa humanidade abandonada na Terra. O dialecto era bem giro, e o cenário era magnífico, quando sobem as montanhas. A história da Louisa Ray (1973) foi a que menos me interessou, o género thriller/mistério que toma interessa-me menos, mas gostei de como liga à história anterior, do Frobisher e do Sixsmith.

Os cenários são magníficos. Adorei a ilha do Pacífico e o navio em que o Adam Ewing viaja, gostei muito da Neo Seoul de 2144, e da ilha do Havai em que o Zachry vive em 2346. As caracterizações, também já disse, são impressionantes, ainda que não perfeitas (a textura da pele de algumas próteses era estranha), mas também são divertidas (já falei dos actores masculinos que viram mulher, mas também o Tom Hanks de 2012 é bem engraçado).

Também já falei do quanto o filme me pôs a pensar. Há uma riqueza de pormenores, detalhes e motivos que se repetem, e um monte de coisas que gente mais habilidosa que eu já pôs por aí na net, é só procurar. Mas acho que vale a pena espreitar o filme e verem por vocês próprios.

12 comentários:

  1. Não vi o filme, mas está na lista dos Piores do ano 2012 :S (segundo o blog "Portal Cinema").

    Agora tenho curiosidade, para ver quem tem razão. XD

    Cumps!

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    1. Suponho que é um filme hit or miss, ou se gosta ou se detesta... Também li algumas críticas menos boas, mas as razões que as pessoas davam para não gostar não fizeram sentido para mim, nem o filme me fez sentir como diziam. O que quero dizer é, acho que depende de cada um, e do quão se relaciona e emociona com o que estiver a ver. Um pouco como o Tree of Life, que passou nos cinemas o ano passado.

      Mas sim, vale a pena ires ver e formares a tua própria opinião, porque neste caso parece-me que toda a gente vai ter uma diferente. xD

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  2. Porque é que me fazes estas coisas?? Então eu já não tenho filmes demais para ver este mês e tu ainda me fazes querer ver mais um?? Ai desgraçada!loool

    É engraçado porque já no "Anna Karenina" há muitas discordâncias, penso que seja porque o espectador está sempre a espera do mesmo e quando há algo mais original não consegue assimilar ou juntar os bocados. Por exemplo, eu li o livro e geralmente detesto as adaptações cinematográficas mas a forma como o Wright colocou na visão dele a história do Tolstoi é tal e qual como eu imaginaria. Não quero spoilar-te mas acho que na televisão já se "chibaram" que é tipo peça de teatro, e é uma ideia tão gira que não percebo como é que podem ter achado o filme estranho.
    Para além disso o "Anna Karenina" já teve mais de 20 versões e com actrizes bem conhecidas como a Greta Garbo, a Vivien Leigh e a Sophie Marceau, por isso é normal que o realizador quisesse dar algo de seu à sua adaptação senão seria apenas mais uma versão.

    Bem não te chateio mais!xD

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    1. Muahahahahah! xD Bem sei, este mês é complicado... não faz sentido terem tantos filmes a estrear quando toda a gente anda a gastar dinheiro noutro lado, mas enfim. :P

      Já fui ver! :D Mas sim, já tinha sido spoilada para a coisa do teatro antes de ir. Acho que é uma opção muito gira, o Joe Wright já provou que adora coreografia e dança (aquela dança da Lizzy com o Mr. Darcy no OeP!), e ficou muito bem no ecrã. A teatralidade acaba por resultar em favor do tipo de história, mas isso são comentários para o post do filme. ;)

      As discordâncias é como em tudo, há de haver sempre pessoal a gostar e a não gostar... é claro que nestes casos, com abordagens um pouco diferentes do habitual, há mais pessoal a não gostar, ou criticar, ou assim. Já estive do lado de não ter gostado tanto de uma coisa que tinha um buzz enorme e que era muito elogiada, por isso tento compreender quando é o contrário. :/

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    2. Pois não!=O mas tenho de ver "O Hobbit", esse não dá mesmo para evitar xD

      Boaaaaaaaaaaaaaaa!!=D Ai pois é, a dança deles *.* ai que saudades!! Por falar nisso que achaste do Matthew como Stiva? Ele faz com cada papel pa. Então eu espero por esse comentário *.*

      Sim, eu também não gosto quando toda a gente gosta e vice-versa, sou do contra lool

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    3. Pois não dá, não. Por isso é que ando a ler o livro, é uma vergonha só conhecer a história por causa da BD. xD Ando mesmo com saudades da Terra Média, até estou com vontade de fazer uma maratona dos filmes do LotR em versão "extendida". :P

      Ahhh o Matthew é fabuloso em qualquer coisa que faça, o Stiva é tão incorrigível, acho que é impossível ficar zangada com ele muito tempo. xD Sabes quem é que ele me lembrou? O Ega dos Maias... aliás, toda a história me lembrou dos Maias, não sei se pela atmosfera ou pelos protagonistas drama queens... xD

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    4. Eu tenho de o ir comprar =x ups! Eu fiz há poucos dias!*.* sobe-me tão bem!

      Pois é *.* (por tua causa estive a rever a dança deles no OeP!) aquela personagem é genial =D Por acaso tens razão, se calhar é de terem sido escritos na mesma época =O drama queens...boa comparação xD

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    5. Lol, o filme sai já esta semana. xD Tenho de convencer a minha mana, que anda muito ocupada por estes dias.

      Pelo que pesquisei, acho que ambos os livros acabam por cair no mesmo movimento literário, e se pensarmos bem têm alguns temas em comum... crítica à sociedade, amor impossível, um fim trágico, ... protagonistas drama queens. xD

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  3. Tenho que ler o livro...provavelmente já não o apanho no cinema quando acabar a leitura xD

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    1. Estás a ler agora? Sempre podes comprar o DVD, nos EUA sai em Fevereiro, por isso calculo que não leve muito tempo para cá chegar. ^-^

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    2. Não, ainda não comecei a ler. :/ Ando intimidada com o tamanho do livro.

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    3. Oh, mas podes ir ver o filme antes. :D Acho que aqui não se perde muito em ver ou ler um ou outro primeiro. ;)

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