A leitura para Setembro escolhida pela Patrícia (Chaise Longue) para mim foi Os Pilares do Mundo, de Anne Bishop. Um livro à altura dos outros da autora no que toca ao mundo que criou e à história em geral, mas que peca um bocado nos que toca aos personagens e à construção da narrativa. Fiquei curiosa para ver que mais a autora tem em mente para este mundo, mas não é como os seus outros livros, não me deu uma urgência imediata para continuar a ler.
A leitura para Setembro que escolhi para a Patrícia foi Flashman, de George MacDonald Fraser, e podem ler as minhas perguntas sobre a leitura e o que a Patrícia achou do personagem titular aqui.
Ari é uma protagonista com um enorme poder mas, em comparação com Jaenelle, é menos sombria e complexa. O que achaste dela? Estranhaste esta protagonista tão doce e inocente?
Estranhar? Nem por isso. A Ari é um doce de pessoa, e quase a única que se aproveita no meio de uma data de gente egoísta, malvada, tortuosa, mesquinha e horrenda. É quase como um raio de sol num dia chuvoso, e por isso foi refrescante acompanhá-la pela história. É bom ler sobre alguém cuja bondade intrínseca não é abalada pelas circunstâncias.
Lucian e Dianna, os Fae: estes dois irmãos são muito controversos e conseguem bulir-nos com os nervos pela sua cegueira. Qual foi a tua relação com eles ao longo do livro?
Bem, comecei o livro intrigada com a potencial demanda que eles tinham à frente... mas isso foi rapidamente por água abaixo. O Lucian perde-se na procura egoísta de prazer, e a Dianna perde-se na exigência egoísta que toda a gente menos ela arrisque o pescoço, e na distribuição egoísta de culpas a toda a gente menos ela. Portanto, detestei-os tanto que no fim do livro já estava a ranger os dentes.
Adolfo, o Inquisidor: Louco, ele é um vilão que nos faz tremer, mas também irrita-nos. Foi um vilão suficientemente forte para ti, ou não te convenceu?
É difícil de explicar. É muito convincente como vilão, eu acredito realmente que ele odeia as mulheres em geral e as bruxas em particular, e é arrepiante considerar os planos e os esquemas que ele tem para levar a sua avante. No entanto, não fiquei convencida da sua existência como pessoa. Mesmo tendo aquele capítulo com as suas reminiscências, que dão uma base sólida para o seu ódio, não me pareceu uma pessoa a sério. Pareceu-me demasiado artificial. A Dianna e o Lucian são igualmente pessoas horríveis, mas pareceram-me mais credíveis nos seus defeitos.
Morag, a Morte: Talvez uma das personagens mais complexas de Anne, Morag tem uma posição muito difícil entre os seus. Conseguiste compreendê-la?A Morag é fantástica, fica ali no pedestal com a Ari. A sua posição única dá-lhe também uma perspectiva única sobre as coisas, e curiosamente é uma perspectiva mais bondosa e humanista que seria de esperar dum Fae, ou dum avatar da morte. Não é por ser a representante da morte que é assutadora ou mesquinha, apesar de toda a gente borrar as calças quando a vê. Quero dizer, em compreendo as pessoas, pensam sempre que a Ceifeira vem vê-los porque vem colher alguém e levá-lo para o outro mundo. Mas a pobre da moça não pode estar só de visita? Ou à procura de guarida? Ela precisa de sustento e companheirismo como toda a gente, caramba. Bem, acho que gostava que ela encontrasse um cantinho onde se sentisse sempre bem-vinda.
Do que já conheces da autora, foi tão complexo e sombrio como estavas à espera? Ou achaste-o demasiado doce e simples?
Errr não sei se posso pô-lo em termos tão simples. Quero dizer, a Anne Bishop é geralmente considerada sombria, pelos temas pesados que introduz por exemplo na Saga das Jóias Negras, mas eu não consigo reduzi-la e à série a esse termo, porque ela escreve com um certo sentido de humor, por isso para mim o sombrio e o humor balançam-se bem. E o resultado é que não estou automaticamente à espera que um livro dela seja sombrio. Se bem que aqui fez-me falta o sentido de humor dela.
Complexo, acho que posso dizer que sim. Uma coisa que admiro nos livros dela é as ideias-base com que constrói todos os seus mundos, que geralmente originam uma história e um mundo complicados mas fascinantes de acompanhar. Doce e simples, nem por isso. A ideia de Tir Alainn e da importância das bruxas para esse mundo, e como está tudo a desmoronar-se... é um pouco assutadora.
Anne tem uma grande capacidade para criar relações fortes entre as personagens, permitindo ao leitor ligar-se a eles e sentir sentimentos fortes por elas. Sentiste isso neste livro?
Conta o ódio que desenvolvi à Dianna, ao Lucian e ao Adolfo?
Agora a sério, não sei se posso dizer que sim. Não sei se é por ser o primeiro livro, mas muita coisa pareceu-me... superficial. Além disso, falei ali em cima do sentido de humor da Anne. É esse sentido de humor que ela tem a escrever sobre as relações interpessoais que a torna mais interessante de ler e fortalece as ligações entre personagens. Como não senti esse humor, fez-me falta para caracterizar as relações entre personagens.
Mais uma vez, temos uma trama incidida num tema matriarcal, mas desta vez a ver com a ligação à Terra Mãe. Achas que esse tema foi bem explorado?
Eu gostei do tema. Como disse ali, geralmente gosto das ideias da Anne Bishop, porque são complexas e constroem mundos e histórias complicados e que dão gozo a explorar... e gosto muito da ideia de as bruxas serem o centro deste mundo, a âncora para Tir Alainn. Não gosto que as pessoas se tenham esquecido da importância delas e as andem a perseguir - mas aí é um "não gosto" pessoal e não de ter um problema com a história, porque é uma premissa bem interessante e que lança uma ideia semelhante à da Trilogia das Jóias Negras: a dum sistema matriarcal que foi pervertido e que em resultado o mundo em que se insere está a perder-se, e cabe aos nossos personagens tentar melhorá-lo. É outra coisa que gosto na autora, o explorar temas semelhantes de maneiras diferentes.
Em vez dos Sangue, aqui temos os Fae, com uma complexa hierarquia entre eles e uma ligação esquecida às bruxas. Achas que a sua caraterização foi bem conseguida? E a das bruxas?
Como disse, gostei tanto da ideia da importância das bruxas para este mundo. E sim, também encontrei interesse na caracterização dos Fae. Alguns deles assumem avatares arquetípicos de divindades, e é muito curioso ver isso explorado. Não gostei dos Fae serem uns patetas que se esqueceram da importância das bruxas e do que fundou o seu mundo e a boa vidinha que vivem, mas achei uma bela ideia, a de que viverem à sombra da bananeira os tornou ingratos e egoístas.
A autora aproveitou a magia deste mundo para trazer um dos horrores da nossa realidade para a fantasia: a Inquisição. Foi bem conseguida?
Em geral, sim. Os métodos dos Inquisidores são assutadores, e nem sequer falo propriamente da tortura. Falo dos outros métodos insidiosos que usam, como ter os bardos a espalhar músicas que vilipendiam as bruxas, ou toda a retórica que usam contra elas, ou usar os nobres gananciosos como maneira de conseguirem perseguir as bruxas e as terras que elas defendem. E o uso dos Inquisidores neste mundo de fantasia acaba por ser bem ancorado e bem usado no contexto da história, por isso é engraçado ver um elemento da vida real num contexto fantástico.
Este livro é diferente das outras trilogias da autora. A sua escrita brilhou da mesma maneira? Ou é menos sombria?
Again, não é mais nem menos sombria, é diferente. Se bem que posso dizer que estou algo desapontada, frustrada mesmo, com a maneira como ela desenvolveu a história. Primeiro porque algumas caracterizações de personagens me pareceram excessivas e pouco credíveis (ver: Adolfo).
Depois porque ela toma decisões narrativas que não fazem sentido. Mostra-nos claramente o que está errado com este mundo nas primeiras páginas... o que torna a história tão frustrante de ler quando os personagens só chegam à mesma conclusão 200 e tal páginas depois. Fez-me gostar ainda menos da Dianna e do Lucian, que pareceram tão idiotas por levarem tanto tempo a lá chegar.
E para além disso, a Ceifeira deixa alguém escapar no fim do livro que não fez propriamente sentido que deixasse escapar. Essa pessoa vai voltar para causar sarilhos, e a Ceifeira já mostrou que não tem problemas em levar alguém se for para proteger outra pessoa que merece, por isso para quê poupar este palerma? Só para podermos ter os livros 2 e 3 da trilogia? Pois...
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Aqui fica o livro que a Patrícia escolheu para eu ler este mês, e porquê:
Rebel Angels, de Libba Bray
Ora bem, eu escolhi este livro para a p7 porque senão ela nunca mais o vai ler e, muito sinceramente, eu não consigo suportar essa ideia. Eu sei que ela gostou do primeiro, mas o que eu sei que ela não sabe, é que este segundo livro é ainda melhor! E quero que ela tenha umas horas de leitura sofridas a redescobrir este mundo, para depois sofrer comigo até lermos o terceiro… Eu sei, estou a ser má, mas não quero sofrer sozinha. E estou a ajudá-la a acabar uma das séries que tem pendentes. Não sou uma querida?
És, Patrícia, és uma santa. *assobia para o lado* Tens consciência que se eu ler este livro, e por acaso quiser ler imediatamente o terceiro, basta-me encomendá-lo em inglês (é como estou a seguir a série), enquanto que tu tens de esperar pela edição em português (é como a Patrícia está a seguir a série)? Muahahahah...
Podem ver qual o livro que sugeri à Patrícia para Outubro, e o porquê de o ter escolhido, aqui.
Rebel Angels, boa escolha. Depois acabas tu de ler a série e torturas a Patrícia. ha!
ResponderEliminarA vingança serve-se fria, ou assim se diz por aí. xD
EliminarSe bem que ela tem razão, não me lembro duma boa razão para justificar o porque de ter adiado tanto. :P
Também tu Jen?? Também tu??;_; A razão porque não me importo de sofrer é porque isso significa que ela acabou de ler a trilogia em vez de a ter parada. Vou me dar por satisfeita. Horrivelmente triste, mas satisfeita na mesma.
EliminarIsso é porque NÃO há uma boa razão minha menina -.-'
Haha, I know, I know. Eu percebo o lado das duas, mas como estou de fora posso-me rir de ambas as situações xD (no entanto o karma já me lixou porque hoje entornei café no laptop xD)
ResponderEliminarEntretanto pode ser que tratem de publicar o último em português para o ano ;D