Opinião: Em Quem Vê Caras Não Vê Espiões, Cameron "Cammie" Morgan está a prestes a começar um novo ano no Colégio Gallagher para Raparigas Excepcionais (um eufemismo para "futuras espias"), mas antes disso faz uma visita à sua amiga Macey, num comício político. O pai da Macey, o Senador McHenry, está a fazer campanha para as eleições presidenciais, onde se ganhar se tornará vice-presidente. Uma altura tensa para a Macey, portanto, que tem de fazer de filha perfeita, o que se torna ainda mais complicado com uma tentativa de rapto a que a Macey e a Cammie mal escapam incólumes.
Esta tem sido uma série com um tom predominantemente leve, mas que neste volume introduz alguma seriedade derivada da tentativa de rapto. Sempre que tem havido situações complicadas para as meninas enfrentarem, elas têm a rede de segurança de suspeitar que são exercícios orquestrados pelos professores; mas aqui na tentativa de rapto, torna-se logo claro que não é coisa da escola.
E portanto esta é uma luta pela própria vida, em que a Cammie e a Macey têm de usar as capacidades aprendidas no Colégio Gallagher para fugirem aos raptores. O evento deixa sequelas fisicas, e até psicológicas. O susto é grande e vemos as duas a tentar lidar com o tipo de coisa que vão ter de enfrentar diariamente, se se tornarem espias de profissão. Aprecio ver que a situação teve um impacto nelas, mas que sendo jovens e estando a ser preparadas para uma vida dura, têm ferramentas para lidar com este tipo de coisa. (E falo aqui mais no sentido mental e psicológico.)
O resto do livro é passado a tentar deslindar a tentativa de rapto e a perceber quem serão os culpados, enquanto que o nosso grupo de espias se esforça para proteger a Macey de novas tentativas. Aqui tenho uma queixa a fazer: os adultos sabiam claramente mais que as meninas, e decidiram mantê-las no escuro, mesmo quando elas têm um historial de ser pró-activas, de investigar as coisas e se escapulir da escola se assim for necessário. Foi bem mais perigoso, esconderem-lhes certas coisas, porque sei que a Macey e a Cammie teriam sido muito mais cuidadosas se soubessem nem que fosse um bocadinho da verdade. Enfim, é daquelas coisas estúpidas que só acontecem porque o enredo o exige, mas que me deixam a revirar os olhos.
No livro anterior louvei a maneira como a autora escreve sobre as raparigas do colégio, e continuo a fazê-lo, porque é fantástico vê-las a trabalhar juntas com um objectivo comum, sem rivalidades. A Cammie fala muitas vezes na irmandade de Gallagher, no sentido de que as alunas de Gallagher, actuais e antigas, se protegem mutuamente. É um bom sentimento de ver, quando em tantos livros temos antagonismos e invejas entre mulheres e raparigas. Não que estes não hajam na vida real, mas na ficcional, são muito mais representados que a amizade e cooperação. É uma péssima mensagem a passar.
Gosto imenso do grupo central da história: a Cammie, a narradora que está mais confortável no seu papel de Camaleão, como é conhecida, mas que cada vez mais se vê fora da sua zona de conforto; a Bex, sempre confiante e dura, a impedir que as outras desanimem; a Liz, que desafia o estereótipo de loura burra e resolve as coisas quando se trata de procurar informação e criar novas formas de realizarem as suas "missões"; e a Macey, a mais nova na escola, mas que absorve como uma esponja, e se mostra à altura do legado Gallagher.
Entre personagens secundários, adorei conhecer a Abby, a tia da Cammie, agente secreta extraordinária e que fascina as alunas de Gallagher com as suas histórias; e o Preston, o filho do futuro presidente e que passa muito tempo com a Macey. Ele suspeita que as meninas não raparigas normais, mas respeita o segredo delas. Gostava que fosse um personagem a manter, porque é um bom contraste ao Josh, o ex-namorado da Cammie de fora do mundo dos espiões, e quero ver como a Macey lida com ele. O Zach aparece pouco, pouquinho, só o necessário para continuar a ser muito misterioso, o que me dá vontade de lhe arrancar os segredos todos do pêlo, grrrrr. Ele está definitivamente envolvido em tudo isto, mais do que aparenta.
Apreciei as passagens que decorrem na corrida presidencial, porque a autora se consegue manter neutra, sem mencionar partidos, mas dar uma bela imagem dos bastidores, e do que seria para os filhos dos candidatos andar nesta roda viva. Também gosto de começar a ver fios do arco de história da série, vislumbrar o antagonista, e deduzir coisas sobre motivos e suspeitar que muito disto está ligado com o passado. A autora tem feito um bom trabalho ao desvendar as coisas aos poucos, deixando o leitor tirar conclusões por si próprio - mas eu gostava de saber que raios se passa aqui, oh se gostava.
Mencionei a tradução na opinião do livro anterior, em que achava que lenda era a tradução para alias. Pelo título original deste livro (Don't Judge a Girl by Her Cover), suspeito agora que lenda seja a tradução para cover. Continuo a manter que é uma péssima tradução para o conceito, mas admito que é uma coisa difícil de traduzir. Fora isso, acho que não tenho queixas.
Esta série está a revelar ter um bom balanço entre leveza e seriedade, entre momentos de acção e missões secretas, entre desvendar segredos e levantar mais perguntas sem resposta. Apesar de me deixar um tudo-nada frustrada, reconheço que a Ally Carter está a revelar as coisas num ritmo adequado para o tamanho da série, e que me parece que ela tem as coisas bem planeadas. Suponho que só me resta torcer para que o momento em que possa colocar as minhas mãos no próximo livro não leve muito tempo a chegar.
Título original: Don't Judge a Girl by Her Cover (2009)
Páginas: 272
Editora: Booksmile
Tradução: Rita Figueiredo
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