Vingadores: Cerco, Brian Michael Bendis, Olivier Coipel
Acho que gosto mais destes "eventos" que juntam vários heróis e que ocorrem transversalmente ao universo Marvel se não forem muito longos. O Vingadores: Para Sempre engonhou ao ponto que se tornou um pouco aborrecido, o Invasão Secreta era só uma desculpa para pormos os heróis a dar porrada em versões Skrull de si próprios... Cerco tem o tamanho suficiente como história, e por isso pareceu-me uma narrativa bem mais dinâmica, a que não é alheio o facto de a premissa ser bem mais interessante e a arte captar bem a atenção.
Cerco vem no seguimento de outros dois eventos da Marvel, Guerra Civil e Invasão Secreta e até, suponho que posso dizer assim, no seguimento das histórias que começaram em Thor: Renascido. O primeiro é importante porque os resultados que teve no universo Marvel ainda se fazem sentir; o segundo porque colocou o Norman Osborn à frente da HAMMER, a substituta da SHIELD; o terceiro porque colocou Asgard a flutuar em plenos EUA, o cenário da acção da narrativa.
É uma premissa engraçada de seguir, especialmente porque mal o Osborn mete na cabeça que tem de atacar Asgard, desse lá por onde desse, eu já estava a pensar que aquilo lhe ia rebentar na cara. Mas as ramificações e as intrigas de bastidores e todas as pequenas influências que puseram os personagens na posição em que estavam, bem, são interessantes de acompanhar. E assim que a batalha começa existem reviravoltas suficientes para tornar a coisa cativante, mas nada confusa de acompanhar.
Gostei de ver os Vingadores reunidos, incluindo os personagens de equipas secundárias, a trabalhar por um objectivo comum, e gostei de ver retomar o status quo. Foi engraçado ver a dualidade do Capitão América, com o Steve Rogers e o Bucky Barnes a lutar lado a lado. Apreciei ver explorados alguns personagens mais desconhecidos para mim. (E apreciei que o Homem-Aranha continue a lançar bitaites palermas a torto e a direito.)
A arte de Olivier Coipel é dinâmica, cativante para o olho, e improvisa de vez em quando com o planeamento das vinhetas, o que gera um belo visual. Também gostei dos artistas do prólogo, pelo estilo mais "pintado", é bem bonito. Por outro lado, é vergonhoso é que este edição tenha todo o capítulo 3 de Cerco com uma péssima qualidade, grande parte das imagens está pixelizada, especialmente nos contornos, o que quer dizer que pegaram em imagens de pior qualidade e "esticaram-nas" - é inadmissível.
Thor e Capitão América: A Essência do Medo, Matt Fraction, Stuart Immonen
Outro "evento" cuja premissa e execução acabam por ser cativantes. Gosto muito da ideia de haver entidades a semear o medo pelo planeta fora, e que esse medo seja fundado numa atmosfera sombria bem real, tirada das parangonas dos jornais. Aprecio o uso de mitologia nórdica, porque acho curiosa a apresentação que a Marvel lhe tem dado. E é fascinante a ideia de as coisas ficarem tão más que até os heróis desanimam, prestes a desistir.
Aqui nota-se um bocadinho mais a falta de leitura de revistas laterais aos eventos, porque, por exemplo, os "Dignos" são sete e parece-me que apenas seis são apresentados nestas revistas do evento principal (pelo menos fartei-me de passar páginas para a frente e para trás a contá-los, e não encontrei o sétimo). O Digno em falta aparece em Paris, creio eu, e por um comentário de passagem do Homem de Ferro foi ele que o enfrentou, e deve ser na revista dele que esse Digno aparece. Mas não custava nada uma mísera vinheta a apresentá-lo na história principal; é o que acontece com outros Dignos, por isso a falta deste é estranha.
Fora isso, adoro a atmosfera evocada, o medo, a ideia que o mundo vai para o inferno e ninguém consegue fazer nada. Não sou fã da atitude dos Asgardianos, principalmente de Odin, que acha que a maneira de resolver as coisas é esconder-se na toca a criar um exército, deixar o inimigo ganhar poder, e deixar lixar a Terra... custava muito enfrentar o inimigo? Afinal, se ele desse o peito às balas era capaz de ter poupado o filho. Digo eu. Portanto, fiquei ainda menos fã do Odin, e foi divertido ver o Steve Rogers e o Tony Stark darem-lhe uma valente descasca em ocasiões separadas.
Aprecio o crescendo final, em que a maré parece finalmente virar, e se vê pequenos momentos de esperança no meio do medo pelo mundo fora. E gostei de ver os looks novos que alguns super-heróis ganham. Não sou fã das mortes que acontecem, porque já sei que hão de ser desfeitas mais à frente, e lendo a história sabendo isso tira-lhes o interesse, a tragédia dos sacrifícios feitos. (Fiquei particularmente chocada com a primeira, que não estava à espera.) Em termos de arte, já conhecia de All-New X-Men, já gostava, e encontrei aqui razões para continuar a gostar.
Homem-Aranha e Vingadores: Contos de Fadas Marvel, C.B. Cebulski, Mindy Owens,
Ricardo Tércio, Niko Henrichon, Nick Dragotta, João Lemos, Nuno Plati
Ok... para começar, acho extremamente frustrante pegarem nas histórias de Spider-Man Fairy Tales e Avengers Fairy Tales, e escolherem colocar neste livro os números 1, 2, e 4 de cada título, mas não os números 3. Se eu quiser ler as outras histórias, vou ter de andar à mesma à caça dos livros que juntam ambos, porque falta uma história de cada um. (E nem sei como, porque os livros estão indisponíveis e out-of-print.)
Sei que a ideia era destacar os autores portugueses que participaram nesta iniciativa; mas também sei que os livros nesta colecção Marvel têm tido um número irregular de páginas - uns mais, outros menos - e gostava que este tivesse sido um dos casos do "mais páginas". E se era para juntar uma salganhada de histórias, preferia que pelo menos uma das histórias de um desenhador que não os portugueses (provavelmente a de Nick Dragotta para o Homem-Aranha) saísse, e que aparecesse pelo menos uma história de X-Men Fairy Tales. Esta colecção do Universo Marvel tem tido tanto peso nos Vingadores e nos "eventos", e apesar de eu apreciar ler eventos recentes no universo Marvel, estou a achar falta de mais um volume ou outro para os X-Men.
Enfim... apreciei as histórias no geral. Gosto muito de ver adaptações de contos de fadas, e creio que fizeram um bom trabalho com os mesmos e com a sua integração com os personagens Marvel. É bom ver pormenores do conto e da mitologia do super-herói retratado a integrarem-se mutuamente, criando um todo bem giro.
Das histórias do Homem-Aranha, gostei mais das duas primeiras. Fora do Caminho é uma adaptação do Capuchinho Vermelho, com uma boa mensagem, de como a Mary Jane e o Peter são iguais e derrotam o lobo juntos. A arte de Ricardo Tércio é incomum, mais geométrica e cartoonesca, mas do meu agrado. Os Espíritos da Amizade identifica o Homem-Aranha com o deus africano Anansi - parecem tão afastados, mas acabam por ter algumas coisas em comum. E o estilo artístico é detalhado, mas bonito, e combina bem com as cores.
Aquilo Que Se Deseja é uma adaptação da Cinderela que coloca o Peter nesse papel, e o pior do conjunto. A arte tenta emular o estilo clássico, o que não é mau em si, mas destoa num conjunto de estilos mais modernos. Além disso, apesar da inversão de papéis, a Gwen (a princesa) volta a cair no papel de vítima e de boneca do destino, sem direito a mais poder de decisão do que o homem com quem quer casar. Acaba por não trazer nada de novo.
As histórias com os Vingadores acabaram por me agradar todas. Era Uma Vez... reconta Peter Pan e visualmente é tão bonita. O estilo de João Lemos é incomum, sim, mas é o que mais se destaca neste livro, e é fantástico, adequa-se à história. Gosto da ideia dos Vingadores nos papeís principais, particularmente o Capitão América como Peter, porque há alguns paralelismos nas respectivas histórias.
Criados Iguais reconta Pinóquio com o Visão como protagonista, e usa algumas coisas da sua história e da do Hank Pym de maneira inteligente. A arte de Nuno Plati é um pouco peculiar, mas visualmente cativante e adequada ao lado mecânico da história.
A última história reconta O Feiticeiro de Oz com a Mulher-Hulk como Dorothy, o Thor, o Homem de Ferro e o Capitão América como os seus companheiros, o Feiticeiro como Magneto, a Feiticeira Escarlate como Bruxa Má do Oeste. É curioso ver os paralelismos entre os personagens da Marvel e do conto, e ver um momento importante dos mutantes recontado ("acabaram-se os mutantes").
Destaque ainda para as páginas finais, que recolhem alguns esboços e impressões dos desenhadores portugueses que trabalharam nestas histórias.
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