Vingadores: Para Sempre Parte 1, Vingadores: Para Sempre Parte 2, Kurt Busiek, Roger Stern, Carlos Pacheco
Geralmente, e este caso em particular não fugiu à regra, tenho dificuldades em gostar destas "sagas" alargadas. 12 revistas dá para muita história, e do que tenho visto, nestas sagas isso corresponde a imensa palha, em que o grupo de heróis anda dum lado para o outro, a distribuir porrada mas sem propriamente rumo certo. Narrativamente, é muito difícil manter os olhos na bola numa coisa deste tamanho, e o resultado é ter engonhanço e imensas tangentes, que não contribuem para um todo mais coeso.
A minha falta de entusiasmo por esta história também pode passar por eu conhecer menos bem os Vingadores e as suas histórias. A premissa é que são reunidos Vingadores de várias épocas, o que é uma ideia intrigante, mas depois é difícil acompanhar os personagens, de onde vêm e para onde vão, quando não os conhecemos assim tão bem. A história pede que se conheça alguma backstory dos Vingadores, e se normalmente até lido bem com isso nos comics em geral, e não tenho dificuldade em acompanhar... aqui, o livro está tão cheio de referências, que ler com a consciência de que nos estão a passar ao lado não é propriamente animador.
Por outro lado, reconheço o esforço tremendo que terá sido incluir estas referências todas. Suponho que não é por acaso que os livros nesta colecção do Universo Marvel que têm pequenas notas a explicar as referências todas... são livros cujo argumento é do Kurt Busiek. Não sei se isto é uma "coisa" em mais livros dele, mas gabo-lhe a minuciosidade necessária para incluir tantos pequenos detalhes. Ignorando a parte em que é irritante ter tantos pormenores que desconheço, também é fascinante ver como ele os incorporou dedicadamente na história. (Sou capaz de ter morrido a rir, no entanto, quando reconheci no Rick Jones mais velho dois pormenores de fatos de heróis da rival DC:)
Creio que posso dizer que, apesar de tudo, a escolha dos personagens, os Vingadores que vêm de vários pontos do tempo, é interessante, ou pelo menos a lógica por trás dela (que, sim, nos é explicada mais no fim, quando um personagem discorre sobre o papel de cada Vingador na trama). É bastante divertida a dualidade Vespão/Gigante do Hank Pym, curioso ver o Capitão América mais inseguro (e no entanto, é a segunda vez que o vejo destruir uma pedra de poder imenso... bolas, ele tem mesmo queda para a coisa), e refrescante ver a Vespa tomar as rédeas e liderar a equipa. A Rouxinol e o Capitão Marvel não posso comentar, que não conheço, nem o Rick Jones (e por isso é difícil preocupar-me quando o objectivo do vilão é matá-lo); já o Gavião Arqueiro, encaixa com a ideia que tenho dele, apesar do uniforme dele ser a coisa mais ridícula que há.
Em termos de arte, são dois volumes visualmente impressionantes. Vejo porque é que o desenhador Carlos Pacheco é tão conhecido. Um traço detalhado, as vinhetas sempre cheias de pormenores. É qualquer coisa de se ver. O trabalho de cor é mais dinâmico que nas décadas anteriores, há mais nuance,o que me agrada, mas ainda temos chachadas como trocar a cor do cabelo a personagens. (Ou então, o Gavião levou uns pacotes de tinta para cabelo para o contínuo espaço-tempo, para poder mudar entre louro e moreno conforme estivesse para aí virado.)
Dr. Estranho e Dr. Destino: Triunfo e Tormento, Roger Stern, Gerry Conway, Bill Mantlo, Mike Mignola, Kevin Nowlan, Gene Colan
Este volume é singular, no sentido em que é um mix de várias histórias, sem uma ligação muito forte. Algumas têm em comum serem do Dr. Estranho, algumas têm em comum serem do Dr. Destino, algumas têm em comum serem desenhadas pelo Mike Mignola... mas isso não quer dizer que, à semelhança de um diagrama de Venn, haja sobreposição total entre todas.
A história titular, Triunfo e Tormento, é definitivamente a mais interessante. O início é um pouco fraco, porque é uma tangente que explica como o Dr. Destino consegue que o Dr. Estranho o ajude... e que podia ter sido resumida em poucas vinhetas, começando antes a história in media res. Mas assim que se vai desvendando para que é que o Dr. Destino precisa de ajuda, e porquê, a narrativa torna-se mais imediata e cativante.
Quem leva a narrativa aos ombros é mesmo o próprio Dr. Destino, uma narrativa trágica, que envolve uma tentativa de salvar a alma da mãe do Inferno uma vez por ano. Dá-lhe uma perspectiva diferente, que não a de vilão, e é uma boa ideia para explorar, porque o resultado é muito interessante. A personalidade do Dr. Destino ainda está lá, e a sua dualidade mantém-se ao longo da narrativa, mas é engraçado ver o Dr. Estranho confrontar-se com as ideias que tinha acerca dele.
A arte é muito boa, porque não só temos o Mike Mignola a desenhar, que nos traz umas cenas brutais no inferno; como o trabalho de cores é algo diferente, mais em estilo aguarela, e aprecio um tipo de trabalho diferente e bem executado quando o vejo.
As duas histórias seguintes têm como protagonistas o Dr. Estranho e o Dr. Destino, respectivamente. A primeira não tem muita consequência para Triunfo e Tormento, por isso a sua presença aqui é questionável, mas a segunda mostra uma das tentativas falhadas do Dr. Destino para salvar a mãe. Creio que até fazia mais sentido vir antes de Triunfo e Tormento, porque depois já não tem sentido vermos uma dessas tentativas falhadas.
As últimas duas histórias têm como protagonista o Namor e são desenhadas pelo Mike Mignola. Começo a achar que o Namor é mais interessante sozinho e em nome próprio, porque quando aparece noutras coisas, parece que é só para arranjar sarilhos a outros personagens, por isso mais valia estar quietinho. Mas são duas histórias curtas bem montadas, que exploram bem a premissa no pouco espaço que têm. Quanto ao Mike Mignola, estes não são bem os cenários que tenho visto dele, mas trabalha bem o mar e as ondas, gostei de ver.
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