Universo Marvel: Marvels, Kurt Busiek, Alex Ross
Há uns anos ouvi falar deste livro, e fiquei interessada em lê-lo, especialmente porque sabia que tinha havido uma edição recente em português. Só que como o meu timing para estas coisas é sempre genial, o livro já não se encontrava nas livrarias, e vi a minha tentativa de o ler gorada. Por isso, fiquei muito animada quando vi que o livro ia ser publicado nesta colecção, porque era agora a minha oportunidade de o ler.
E fiquei fascinada. Normalmente, os super-heróis metem-se em sarilhos com os vilões, destrói-se tudo na luta, e no fim os heróis vencem, e não há um momento para contemplarmos a destruição, e raramente vemos os seres humanos comuns e a sua perspectiva no meio disto tudo. Quero dizer, Nova Iorque é rotineiramente destruída, ou transformada numa Ilha das Aranhas, ou outra coisa igualmente bizarra, e nunca vemos os Nova Iorquinos a passarem-se da cabeça e expulsarem os super-heróis de lá, pois não?
Portanto, Marvels apresenta a perspectiva de um homem comum, Phil Sheldon, fotógrafo cujo trabalho vai frequentemente levá-lo a seguir estas maravilhas titulares e as suas aventuras. Desde os primeiros heróis da Marvel, antes da Segunda Guerra Mundial - o primeiro Tocha Humana, o Namor, o Capitão América -, até ao aparecimento dos mutantes nos anos 60, até à trágica morte da Gwen Stacy nos anos 70.
E é muito interessante ver sugerida uma possível reacção de um homem comum a estes eventos. O maravilhamento com as capacidades destes seres, e o receio do que serão capazes de fazer. O medo dos mutantes, ou a frustração com o resto do mundo por oscilarem entre agradecimento aos super-heróis quando fazem uma coisa boa, para logo a seguir crucificá-los por uma coisa menos boa. Aquilo que perdeu ou ganhou por ter dedicado a vida a seguir e fotografar estas maravilhas. O desapontamento com um fotojornalista freelancer por vender fotos do Homem Aranha ao J. Jonah Jameson (o jornalista, é claro, é o Peter Parker).
A minha parte favorita é a da recta final, em que o Phil conhece a Gwen Stacy, primeiro porque lhe é dada a ela a oportunidade de respirar como personagem, e depois porque marca a vida do Phil duma grande maneira, que fica destroçado com a morte trágica desta miúda, num acidente estúpido e às mãos destas maravilhas que tem seguido. Muda-lhe a vida, porque ele deixa de acreditar nestes super-heróis e neste mundo, deixa de se maravilhar com ele.
Gosto muito das referências e do modo como os autores incorporaram pequenos detalhes do mundo Marvel e do curso dos acontecimentos ao longo da história. Diverti-me tanto ao descobrir o J. Jonah Jameson mais novo, ou ao vislumbrar o Peter Parker apenas numa cena, ou ao ver juntar tantos heróis na cena do casamento da Sue Storm e do Reed Richards, ou ver como o fascínio pelos heróis neste mundo. se estende a haver uma colecção de roupa inspirada na Vespa. Pequenos detalhes que torna a obra rica.
Por fim, só tenho de fazer uma menção à arte do Alex Ross, tremendamente detalhada, linda, fantástica de observar por muito tempo. É um estilo único, mas que me delicia estudar, e que é tão realista, e tão interessante de ver num meio como o dos comics.
Thor: Renascido, J. Michael Straczynski, Olivier Coipel
Ok, a premissa é que o Ragnarok aconteceu, o ciclo foi quebrado, e os deuses nórdicos estão livres de voltar a encenar o ciclo. Para isso, Thor volta à Terra, numa ressureição que tem como objectivo uma demanda para encontrar um local para Asgard, e os outros asgardianos, que vivem dormentes em humanos por esse mundo fora.
É uma ideia interessante, e gostava de vir a ler o enquadramento deste livro. Ou seja, gostava mesmo de ver o ciclo anterior de Ragnarok, e como a Marvel o interpretou, e como este ciclo foi quebrado. E também gostava de ler para a frente, que o fim do livro termina num certo cliffhanger, que não me diz nada sobre o destino do Thor ou dos deuses asgardianos.
Adoro a ideia de Asgard se reconstruir no meio de nenhures, no Oklahoma, e em como os habitantes da cidade vizinha lidam com isso. Há uma certa burocracia, e um certo humor na maneira como o argumentista descreve a reacção dos comuns mortais à presença de Asgard. Aliás, gosto bastante do modo como ele desenvolveu a história neste volume. Adoro como ele escreve o reencontro do Thor com o Homem de Ferro, que ocorre mesmo após a Guerra Civil. Convenhamos que o Tony se mete mesmo a jeito para levar do Thor, quero dizer, toda a porcaria que fez na Guerra Civil, e ainda vir com uma atitude arrogante para um deus asgardiano... *facepalm* Estava a pedi-las.
Estou muito curiosa para ver como os deuses asgardianos vão interagir com o resto do mundo, agora que estão a voltar, e que mudanças vão provocar nele, e na pequena cidade de Oklahoma que os acolheu. (Espero que não queira dizer que a pequena cidade vai ser destruída rotineiramente como Nova Iorque consegue ser...)
Não tenho muito a dizer sobre a arte, geralmente é agradável ao olho, e tem alguns planeamentos de pranchas e vinhetas interessantes. A imagem de Asgard é fantástica. Não sou muito fã de como o artista desenha o Thor (muito... compacto e largo? não sei, fica estranho), gosto mais do Donald Blake. Não achei piadinha nenhuma a uma prancha no início, com uma cena de guerra, em que uma mulher/deusa asgardiana tem apenas uma armadura de metal... nos seios, como biquini. Até pode ser uma personagem conhecida (não a reconheci), com design definido, mas a sério, todos os artistas de comics americanos deviam ser obrigados a usar umas cuecas feitas de ferro até perceberem o quão desconfortável é, e pararem de desenhar armaduras ridículas às mulheres.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, Chris Claremont, John Byrne, John Romita Jr.
Já conhecia a história titular, creio que a li num dos livros duma colecção dos clássicos da banda desenhada do Correio da Manhã há uns anos, mas esta é uma boa colecção de histórias, que acaba por incluir o Dias de um Futuro Esquecido.
Gostei muito de ler a primeira história, Elegia, porque se passa após a morte da Jean Grey como Dark Phoenix, e faz um bom resumo da história dos X-Men desde o início até ali. Apreciei aperceber-me que até conheço grande parte das histórias mencionadas, e que tenho quase todas os livros que são referenciados nesse capítulo como contendo essas histórias.
A história titular é interessante pelo seu estatuto icónico, e por apresentar o conceito de futuros paralelos que nunca se concretizarão, coisa em que os X-Men parecem exímios em explorar. A ideia de um futuro distópico em que os mutantes morreram ou são controlados no território dos EUA, e em como a presença dos Sentinelas está prestes a lançar o mundo numa guerra nuclear... gosto. Tem o grau certo de tensão e drama, e equilibra bem futuro e presente, mostrando o que acontece com os personagens em ambos.
Entre as outras histórias, gosto daquela dedicada ao Nocturno, e à sua incorporação do inferno de Dante, gosto da apresentação dos super-heróis mutantes canadianos, especialmente a Pássaro de Neve, que tem um poder intrigante, e que daria para escrever uma história muito boa - aquilo que é explorado já é bem cativante -; e em geral, gosto muito de como a Kitty Pryde é apresentada e explorada, de como esta menina vai crescendo e aprendendo com os X-Men - a última história, em que ela luta contra um monstro na Escola Xavier, sozinha, é tão boa - go, Kitty!. Faz-me feliz ver que ela evoluiu para uma jovem segura e decidida, professora e directora (pelo menos, assim o é por estes dias) da Escola (agora) Jean Grey.
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