domingo, 7 de setembro de 2014

The Giver - O Dador de Memórias, Lois Lowry


Opinião: Passei esta semana a debater-me com a composição de uma opinião sobre este livro. Por um lado, gostei bastante, foi uma história com temas provocantes e um mundo fascinante. Por outro, sinto-a como incompleta, e como se não tivesse muito a dizer sobre ela. Nada de importante, pelo menos, a não ser lamentar-me por achar que a história podia estar melhor apresentada.

Jonas vive num mundo de Igualdade. Não há conflito nem guerra, e cada aspecto da sociedade é altamente regulado, desde quem forma uma Unidade Familiar com quem, até aos bebés que recebem, às mulheres que concebem esses bebés, às profissões que cada um toma, ou à partida final de alguém quando se torna demasiado velho.

Neste mundo, os jovens vêem-lhes atribuida uma profissão ou actividade essencial para esta sociedade quando chegam aos 12 anos. Na Cerimónia do Jonas, ele recebe uma honra particular. Vai acompanhar o Dador de Memórias, e será o seu Receptor; e a maneira como vê a sua sociedade e o seu modo de viver nunca mais será o mesmo.

Em grande parte, achei tremendamente interessante a maneira como a Lois Lowry construiu este seu mundo. As pessoas não retêm as memórias do passado, à parte o Dador e o seu Receptor, e não conhecem certos conceitos como guerra ou conflito. Os problemas e mau comportamento são imediatamente resolvidos com um pedido de desculpas que é imediatamente aceite. As emoções são abafadas, particularmente as mais fortes; e as Unidades Familiares discutem as suas emoções do dia como forma de as processarem. Os sonhos são perigosos. A singularidade também, porque introduz conflito num mundo de Igualdade.

E no entanto, passei o tempo a questionar tudo. Queria saber mais. Perceber como esta sociedade evoluiu para isto. Compreender como é que nela coexistem o desprezo por sentimentos e emoções, a falta de respeito pelo valor da vida humana, a insistência no rigor e igualdade; com a presença de anomalias expressadas por personagens que rodeiam o Jonas, o carinho do pai dele pelos bebés que cuida, o desastre ambulante que é o Asher, a impaciência da Lily. Suspeito que é propositado da parte da autora, mas tenho também receio que parte disto seja desleixe dela, o que estragaria para mim boa parte do encanto do livro.

Adorei o conceito de haver alguém que guarda as memórias do antes, do que era bom e mau, porque é uma posição verdadeiramente trágica. Alguém que se apercebe do que há de errado com a sua sociedade devido às memórias que carrega, mas que não é capaz de fazer algo para o mudar. E será que o deve? Estes pessoas são autênticos zombies, mas vivem uma vida salutar e segura, sem doença ou problemas.

É interessante ver como o Jonas é apresentado a novos conceitos e como literalmente o seu mundo se expande ao começar a receber as memórias. O conceito de cor entra aqui, e é apresentado duma maneira deliciosa. Acho que ele muda demasiado rapidamente, e começa a recusar certas coisas da sua sociedade demasiado rápido, para quem foi toda a vida doutrinado num certo sentido. Sinto que as memórias que tinha recebido não era causa para essa reacção.

A autora escreve duma maneira mesmo cativante, introspectiva, bonita, mas acredito que não deixará de interessar os mais jovens. Os conceitos que apresenta são provocadores e vão pôr os miúdos a pensar. Creio que em partes ela é um pouco doutrinária, e dá as respostas às perguntas que faz, em vez de deixar o leitor responder por si próprio. E sei que retirei mais do livro por o ler agora, do que retiraria se o tivesse lido com a idade do Jones. Pude apreciar melhor o trágico que é certas coisas serem como são nesta sociedade.

Não estou completamente satisfeita com o fim. Gosto da ideia de ficar em aberto, e permitir a cada um interpretá-lo do modo que preferir. (Tenho as minhas próprias ideias acerca do assunto.) Mas não gosto muito do que sugere, que a revolta do Jonas em relação ao que ia acontecer, e a sua tentativa de corrigir o assunto, era infundada, e que mais valia ter ficado quietinho. Para um livro que pede aos miúdos que questionem o mundo e promove a singularidade, este fim vai muito na direcção oposta.

Ainda assim acho que vale a pena ler, em qualquer idade, por apresentar uma bela história e que pode fomentar a discussão. É bem interessante ver conceitos que se reconhecem doutras distopias seminais (a preocupação com a linguagem e como esta controla o pensamento das pessoas, de 1984, ou o controlo da natalidade, e de grande parte da vida das pessoas, de Admirável Mundo Novo), entrelaçados com uma nova perspectiva sobre memórias e o seu lugar no mundo emocional das pessoas.

Nota para a edição, que é lindíssima, bem encadernada, robusta. Gosto muito destas edições da Everest. (E afinal tinha muito para dizer. Ainda bem.)

Páginas: 240

Editora: Everest

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