terça-feira, 16 de setembro de 2014

Isla and the Happily Ever After, Stephanie Perkins


Opinião: Isla and the Happily Ever After foi uma criança de parto difícil. Passaram-se quase três anos desde a publicação do último livro da série, Lola and the Boy Next Door (dois anos desde que o li), e desde então a autora tem-se debatido consigo própria, com problemas pessoais e com o próprio livro para fazer dele algo à altura dos dois livros anteriores. É que, já aqui me tenho queixado, as expectativas são terríveis, e compadeço-me da Stephanie, que deve ter passado este tempo todo aterrorizada, receosa de não corresponder ás expectativas dos seus leitores, de não atingir a fasquia muito alta colocada pelo Lola e pelo Anna and the French Kiss.

Quanto a esta leitora, não precisava de se preocupar. Isla é uma história bem diferente dos seus antecessores, mas isso não é uma coisa má. Apreciei o tipo de história que Stephanie Perkins estava a tentar contar, adorei lê-la e deixar-me imergir nela, vivi os acontecimentos com os personagens intensamente, identifiquei-me com eles e compreendi os seus problemas e dilemas. Não podia pedir mais.

Isla é uma jovem introvertida e tímida, sem rumo na vida. Uma parte dos seus últimos anos tem sido guiada por uma simples paixoneta pelo Josh, pela observação de longe, sem nunca se atrever a meter conversa, a aproximar-se dele. E no entanto, durante o Verão em Nova Iorque, um encontro acidental aproxima-os, atira-os para os braços um do outro quando descobrem uma atracção mútua, que evolui para uma paixão intensa e consumidora.

E pronto, está aqui a razão pela qual gostei tanto do livro. Nos anteriores, os personagens debatiam-se com os seus problemas, que os afastavam até bem ao final; aqui a Isla e o Josh nada têm que os separe, aparentemente, e embarcam numa relação amorosa que lhes leva todos os minutos do dia, porque o foco está no outro, nada mais há que o outro, que conhecê-lo em todas as suas facetas. É esta intensidade que foi tão deliciosa de ler e acompanhar, e tão difícil de resistir.

Outro aspecto de eu ter gostado da história prende-se com a reflexão que a autora faz, de um amor adolescente que consome, e da falta de perspectiva que o acompanha. Há um momento de separação a meio da história, e parece o fim do mundo para ambas as partes, e é tão difícil não nos deixarmos envolver nesse sentimento, não deixar de compreender a dor da separação.

Além disso, a separação traz à tona algumas inseguranças da Isla, para quem esta é a primeira relação séria, e apesar de criarem um fosso entre ambos, e de ser frustrante esta parte da história... eram inseguranças que precisavam de ser expressas. A Isla precisava de ver o Josh não só como o objecto da paixoneta, paixão e amor que lhe tinha, mas como outra pessoa de carne e osso, com problemas e bagagem próprios. Por isso, apesar de todo o dramatismo da segunda parte do livro, senti que era uma coisa que precisava de acontecer, para que se tornasse mais fortes e mais maduros, como casal e como pessoas.

Suponho que outra das razões para ter gostado tanto do livro é o facto de, como pessoas, os protagonistas Isla e Josh serem aqueles mais próximos de mim, aqueles com os quais mais me identifico. Oh, identifiquei-me e compreendi os problemas dos protagonistas anteriores (provavelmente mais a Anna e o Étienne do que propriamente a Lola e o Cricket), mas sou inclino-me mais para as personalidades introvertidas e introspectivas da Isla e do Josh.

Entendi a incapacidade de escolher um rumo da Isla, e a frustração do Josh com o rumo que escolheu. A necessidade de aventura da Isla e de um meio de expressão do Josh. A insatisfação indistinta da Isla e a solidão do Josh. Adorei que a Isla tivesse pilhas e pilhas de livros pelo quarto fora, e que o Josh estivesse a trabalhar numa novela gráfica que detalhava os seus anos na escola secundária em Paris. (Matava para ler essa novela gráfica.)

Por falar na novela gráfica, quase sempre vemos o Josh pelos olhos da Isla, mas na dita cuja aquilo que ele escreve e desenha fala por si, e deu para apreciar a sua frustração com o estar a estudar em Paris, a solidão e separação escolhida por si quando se dá conta que vai perder o seu grupo de amigos, a felicidade que estar com eles traz, o furacão que foi a relação com a Rashmi... compadeço-me do rapaz, com tanto potencial para ser brilhante, mas decidido a enterrar-se o mais fundo possível. Foi preciso o ataque de insegurança da Isla para lhe dar um empurrão para ele ganhar juízo, e mais uma vez este ponto do enredo revela-se necessário, apesar de ser bastante espinhoso.

Desta vez, o local não é tão importante, porque o caso amoroso da Isla e do Josh domina toda a história, mas temos pequenas visitas a Nova Iorque e Barcelona, das quais gostava mesmo de ter lido mais. E devido ao quão consumidor o enredo Isla-Josh é, também não há tanto destaque para os personagens secundários... gostava de conhecer melhor o Kurt (talvez um livro só para ele? por favor, mil vezes por favor), e apreciei a dinâmica familiar entre a Isla e as irmãs - a Isla apercebe-se de algumas coisas que podia trabalhar, não só com as irmãs mas com o resto da sua vida, e aí o seu período de reflexão foi muito frutuoso.

Sou capaz de ter morrido de felicidade um pouco, quando vi antigos personagens, recordados com carinho, voltarem para uma visitinha. Sou capaz de ter guinchado um bocadinho quando uma certa coisa muito feliz acontece, que infelizmente não posso spoilar. Mas pronto, foi bom ver a Anna, o Étienne, a Lola, o Cricket, e a Meredith, e a sua dinâmica de amizade com o Josh. (Por falar na Meredith, não há um livro para ela, que bem merece? A moça está em Roma, vá lá, está uma história mesmo romântica a pedir para acontecer.)

O fim é sofrido, mas merecido. Apreciei a reavaliação de certas coisas, e uma certa releitura que levou a um final bem mais feliz. A novela gráfica toma um rumo que salta um bocadinho da ficção para a realidade, e foi engraçado de tentar prever o que ia acontecer.

Em suma, pode não ser um livro consensual, porque a história da Isla e do Josh é mais espinhosa, mais complicada de acompanhar e entender... mas sinto que era o que precisava de acontecer, e aprecio mais a Stephanie Perkins por contar uma história mais difícil, mas mais satisfatória por isso mesmo. A espera de dois anos valeu mesmo a pena, não me arrependo de ter esperado e de ter apostado na série (só me arrependo desta capa, mas já me queixei disso aqui), pois fez de mim uma fã da Stephanie, e tenho vontade de continuar a espreitar o que quer que ela tenha nas mangas para os seus próximos livros.

Páginas: 352

Editora: Dutton (Penguin)

Sem comentários:

Enviar um comentário