quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Four: A Divergent Collection, Veronica Roth


Opinião: Depois de ler o Allegiant, fiquei interessada no Four como narrador. Acho que ele é um personagem bastante interessante, que me deixou intrigada com o seu modo de ver as coisas, e a maneira como as executava. Além disso, é um personagem em progresso, até mesmo no fim do Allegiant, com uma série de coisas por resolver que ele precisava mesmo de resolver para eu ficar completsmente satisfeita. E por isso, fiquei curiosa por ler esta pequena antologia.

A antologia tem quatro contos, três que descrevem como o Four decidiu mudar de facção e como é que a sua iniciação correu. É engraçado vê-lo viver as mesmas coisas que a Tris viveu no Divergent, e comparar como enfrentaram os desafios, cada um à sua maneira. O quarto conto ocorre ao mesmo tempo que o Divergent e mostra o que é que o Four andava a fazer quando nós (ou a Tris, que era a narradora) não o víamos. Para além disso, temos ainda três cenas do Divergent contadas do ponto de vista dele, que mostram a sua perspectiva sobre a Tris.

Tudo o que estes contos e cenas extra fizeram por mim é voltar a dar-me a vontade de ter o Four como um dos narradores da trilogia. Seria uma história talvez diferente, mas pergunto-me se não seria melhor, se o ritmo do enredo da trilogia não avançaria doutra maneira, podendo mostrar a perspectiva dele e aquilo que ele descobre que não é imediatamente visível à Tris e ao leitor. A história funcionaria doutra maneira, permitindo mais flexibilidade narrativa, e creio que apesar disso os temas e morais apresentados podiam ser semelhantes, que aquilo que retiramos da história fosse essencialmente o mesmo, porque a Tris e o Four debatem-se com algumas questões semelhantes, ainda que de maneiras muito diferentes.

Outra coisa que tenho a apontar é a conclusão a que cheguei acerca do Four, e que não sei se sei explicar muito bem, mas aqui vai. (Vou tentar não entrar em muitos pormenores do Allegiant.) Essencialmente, descobrimos no Allegiant que há um certo determinismo em se ser divergente, e que se é ou não é dum modo muito específico. Mas o Four, apesar de não ter esse determinismo, acaba por ser divergente também, por resistir aos soros e ser capaz de resistir à classificação de facções. E creio que isso acontece em parte por uma espécie de força de vontade, talvez por fruto das circunstâncias do seu passado, que o formaram duma certa maneira que o levou a ver o mundo assim. E isso é fascinante de considerar.

The Transfer relata os dias antes e depois da cerimónia de escolha de facções para o Four. Gostei de seguir o seu processo de pensamento sobre a facção que ia (ou não) escolher, a decisão desesperada que tomou para fugir do pai e do passado, e como se deu no primeiro dia de iniciação nos Dauntless. É aqui que surge a alcunha/nome de Four e aparece também o Eric, que conhecemos tão bem do Divergent.

The Initiate conta mais sobre o processo de iniciação para o Four, o que é engraçado, porque com o bom auspício de apenas ter 4 medos, acaba por mostrar ser muito bom nas outras componentes da iniciação, quando dada a motivação adequada. Adorei quando ele deu um enxerto de porrada no Eric, bem merecido por sinal, que desde o início se mostrou antagonístico e agressivo. (Um Peter, a modos que.) Também o vemos a fazer amigos entre as pessoas da facção (a Shauna e o Zeke, por exemplo), e conhecemos o Amar, nome que só vai ter significado para quem leu o Allegiant.

The Son apresenta a vida do Four depois da iniciação, quando é escolhido como um dos potenciais futuros líderes da facção, e como é que o Four lida com isso. Também é aqui que ele vai descobrindo algumas coisas que vão desabrochar no Divergent (este conto ocorre dois anos antes) - vê-se um vislumbre do que a Jeanine, o Eric e o Max andam a tramar, por exemplo. É interessante ver como apesar de se integrar tão bem nos Dauntless, o Four ainda se sente à parte, sentindo que não pertence exactamente ali, e como se isola em resultado disso. Também é aqui que vemos como o Eric se põe a jeito para se tornar líder, e o que faz o Four decidir abandonar a corrida.

The Traitor acontece, como já disse, ao mesmo tempo que o Divergent. É super divertido e adorável ver a visão que o Four tem da Tris (complementada pelas cenas extra), e como se relaciona com ela, como a sua ligação se desenvolve. O conto também mostra como o Four tem feito por perceber o que o Eric e os outros andam a tramar, e consegue mesmo perceber melhor o que vai acontecer, tentando mesmo evitá-lo, ainda que as suas acções acabem por não ter efeito. Vemos ainda aquilo que o Four pensa sobre a iniciação e as mudanças que aconteceram, e a sua frustração crescente com os líderes dos Dauntless ao ver como as coisas estão a evoluir na iniciação, a brutalidade entre iniciados. A sensação de ter falhado quando certas coisas acontecem. Por outro lado, morri a rir com uma certa cena que envolve um bocadinho de intimidação bem merecida ao Peter. Apesar de ser um solitário, o Four tem bons amigos na facção.

Em suma, é um bom complemento para quem tenha gostado da trilogia e esteja curioso acerca deste personagem. Continuo a manter que ele é um narrador fascinante, por isso recomendo, creio que vale a pena tentar percebê-lo um pouco melhor, como personagem e como pessoa.

Páginas: 304

Editora: Katherine Tegen Books (HarperCollins)

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