domingo, 28 de setembro de 2014

Uma imagem vale mil palavras: The Maze Runner (2014)

Nem acredito que estou a dizer isto, mas o filme foi mesmo melhor que o livro. É raro, mas acontece, e este é um dos casos. Em geral, a adaptação cinematográfica de The Maze Runner foi uma experiência muitíssimo mais satisfatória que a leitura do livro, e conseguiu trabalhar melhor os aspectos que me irritaram (que ainda foram alguns), resultando numa história melhor contada. Portanto, cuidado, que este comentário vai ser dominado pelas comparações.

O filme mexe em imensos detalhes, rearranjando um pouco os eventos, mas as coisas principais estão lá, a sequência de acontecimentos cruciais estão lá. Aquilo que as mudanças permitem fazer é mexer no ritmo do enredo, que era um dos grandes problemas que eu tive com o livro. As coisas correm a um ritmo menos "caracolesco", mais adequado a uma história de acção. Enfim, há menos "enrolanço". E uma vantagem de se mexer nos detalhes é que puderam tirar aqueles aspectos que não fazem sentido nenhum, ou que não contribuem nada para a história. O filme ainda sofre um bocadinho da fraqueza narrativa do livro, porque é impossível corrigirem todos os problemas, mas em geral soube-me melhor, a história.

Esta mudança no ritmo, combinada com a falta da narrativa interna do Thomas, acaba por conferir uma maior tensão dramática aos acontecimentos, o que acaba por melhorar a história geral. Cheguei à conclusão que a narrativa do Thomas não ajuda nada. Para além de ser muito tell, pouco show, o Thomas pelas suas circunstâncias singulares, mesmo não se lembrando de nada, conhece o labirinto, e nada que aconteça o espanta ou assusta. Para mim leitora, foi difícil que os acontecimentos me surpreendessem ou assustassem por causa disso. O filme, ao afastar-se da cabeça do Thomas, foca a experiência no espectador, e foi muito mais fácil manter-me investida no desenrolar dos acontecimentos.

Continuam a usar a infantilidade das "palavras substitutas de asneiras", mas curiosamente usam-nas muito pouco, e depois mais à frente os personagens dizem uma ou outra asneira de viva voz, por isso: a) os produtores viram que isto era parvo ou b) esqueceram~se de continuar a usá-lo. De qualquer modo, não me posso queixar da inconsistência, porque foi uma das coisas mais patetas que encontrei no livro.

Como filme em geral, eu gostei do trabalho na acção e nos efeitos especiais, que ajudaram a que entrasse na história. Fiquei fascinada com o conceito diferente do labirinto, mas que resulta muito bem visualmente, e as cenas no labirinto não deixam de ser excitantes. (Algumas cenas na Clareira também estão à altura.) Os Magoadores são finalmente assutadores - é que o autor no livro fez-me imaginar uma lesma gosmenta que lançava uns espigões de vez em quando, e bem, isso não é propriamente assustador. A solução da produção do filme é bem melhor e mais interessante.

Entre o elenco, acho que não tenho queixas, os miúdos fizeram um bom trabalho a fazer-me acreditar na história, e encaixam bem no que imaginava. Tenho pena que o Chuck não tenha tanto destaque como no livro, porque as cenas dele acabam por não ter tanta ressonância emocional; mas o Gally está melhor. No livro o seu antagonismo é levado ao exagero, aqui é mais subtil, mas continua a fazer resultar o seu papel na história. A Teresa continua a ter pouca relevância, mas tem uma ou outra cenas bem giras, como aquela em que ela acorda e deixa os rapazes todos da Clareira a tentar perceber como hão de lidar com uma rapariga.

O Thomas tem um pouco menos aquela aura de "uh, ele é perfeito, sabe tudo sobre o labirinto", talvez porque não temos presente a narrativa do livro, que nos esfrega vezes de mais na cara esse aspecto. E o actor tornou bem mais fácil de acreditar nas emoções pelas quais o personagem estava a passar, ao ser exposto a uma miríade de situações (aparentemente) novas para ele, alguém sem memória e que acorda num sítio completamente novo e desconhecido...

E pronto, sendo o filme uma adaptação do livro, continua a revelar pouco, muito pouco sobre o mundo e os porquês de isto estar a acontecer, que foi uma coisa que me desapontou no livro. Das duas pessoas que foram comigo ver o filme, ambas não tinham lido o livro, e ambas também acharam isto algo frustrante. (Uma delas é a Patrícia do Chaise Longue, podem ler a sua opinião aqui.) E é pena, porque a premissa é super interessante e tem tanto potencial, mas a falta de revelações enfraquece-a.

Em suma, não fiquei lá muito bem impressionada com o James Dashner como escritor e contador de histórias, porque vendo o filme ainda fiquei mais ciente das fraquezas do livro. O filme não é perfeito, e sofre com alguns problemas narrativos, mas consegue melhorar a história e tornou-a numa melhor experiência para mim. Não garanto que toda a gente vá gostar, possivelmente quem não conhece a história pode ficar mais frustrado com ela, mas recomendaria mais facilmente o filme que o livro. Bem, de qualquer modo só com o livro eu ainda estava disposta a ler o segundo livro, precisamente por causa da falta de respostas quanto à premissa, mas o filme deixou-me bastante mais animada para o The Scorch Trials/Provas de Fogo.

4 comentários:

  1. Ainda tenho de ver, mas realmente o livro tem todo o potencial para dar um bom filme, e a experiência ser muito mais satisfatória do que a leitura do livro, deve dar para evitar toda a narração mais chatinha do cromo do Thomas, aqueles longos períodos de confusão e em que ele tem de ficar a perceber como tudo funciona lá no Maze, deve ser muito mais giro ver isto (ainda por cima os efeitos especiais parecem estar brutais) do ler as descrições dele.

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    1. Yup, a narração é péssima. Eu até gosto do Thomas, mas o autor faz um péssimo trabalho com ele. -.-

      É muito melhor ver as coisas a acontecer no filme, porque não tens a narração, é tudo mais imediato, e não passamos dias e dias à espera que aconteça alguma coisa (porque quase tudo parece só acontecer de noite no livro, raios), por exemplo. Não é perfeito, mas foi uma melhor experiência, para mim. :)

      Entretanto descobri que a série tinha uma prequela - The Kill Order, que eu achava que era uma novela, mas afinal é um livro inteiro, mesmo. E que o autora vai escrever mais outra prequela... *medo xD*

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    2. What the...? Também não fazia ideia que havia uma prequela. Honestamente nem sei se vou continuar a série. Quando terminei o Maze Runner estava com a pica toda, mas entretanto não me deu para comprar logo o livro seguinte e agora já passou tanto tempo que não me apetece. Acho que vou esperar pelos filmes (sacrilégio! haha).

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    3. Loool se é sacrilégio, também gostava de me juntar ao clube, só que sou curiosa e masoquista demais, por isso vou pelo menos espreitar o segundo livro, a ver se resolve alguns dos problemas que me queixei. xD

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