sábado, 27 de setembro de 2014

Sexta Campa Além do Abismo, Darynda Jones


Opinião: Mal posso acreditar que já passou quase um ano desde que li o último livro da Darynda Jones. Desta vez não por engonhanço da editora, felizmente, apenas porque estavam à espera que o sexto livro da Charley Davidson saísse na edição original, em Maio. O que, pensando nisso, foi um trabalho bastante rápido, tendo em conta que já o tinham disponível na revista de Agosto do Círculo de Leitores. E nem me posso queixar que a rapidez tenha dado asneira... não notei propriamente erros de tradução ou revisão, por isso desta vez foi um trabalho bem feito.

Neste sexto volume da série, Charley não tem mãos a medir. Um idoso nu que não sabe dizer pelo que é que está à espera para partir, um fantasma no seu apartamento que deixa toda a gente nervosa, um cliente que vendeu a alma a um demónio num jogo de póker, um grupo de mafiosos que quer que Charley encontre alguém, uma mãe que desconfia que o seu filho ainda está entre nós, um pai com uma crise de meia-idade que diz que vai velejar, um tio e uma melhor amiga que não têm coragem para se convidar um ao outro para sair, um par de miúdos falta às aulas e o seu paradeiro está incerto, um novo demónio está no horizonte, e mais ameaças futuras revelam-se.

Que mais é que Charley podia pedir? Na verdade, a miríade de enredos que a autora envolve nos livros é uma das razões pelas quais eu gosto tanto da série. Normalmente, a Darynda Jones consegue equilibrar muito bem os vários fios do enredo e revelar as coisas no momento certo, intercalando muito bem os vários assuntos, nalguns casos resolvendo tudo no mesmo livro, noutros plantando as sementes para os próximos livros.

Achei bem interessante a razão pela qual o cliente do jogo de póker tinha vendido a alma. É algo até bastante valoroso e dá nuance à situação. A Charley é uma mole e está sempre a tentar salvar toda a gente, e por isso tenta ajudar este cliente mesmo com o potencial de perigo. O enredo do idoso nu também é engraçado, por causa das piadas inapropriadas que gera, mas também da razão pela qual ele estava à espera. (Teve uma história de vida bem gira.) O enredo do Angel, que tem vindo a ser exposto ao longo de vários livros, finalmente resolve-se, e é uma história bem comovente - gostei de como a senhora Garza lidou com a situação.

Ri-me tanto com o esquema que a Charley arranja para o tio ter ciúmes e finalmente convidar a Cookie para sair. Eu desconfiei logo como é que aquilo ia terminar, tendo em conta algumas reacções do tio, mas nem por isso deixei de me divertir com o resultado final. Também gostei muito dos pedaços com a Amber e o Quentin, que são uns miúdos adoráveis, e porque ficámos a ver o Quentin a tentar lidar com as suas capacidades. (E voltamos a ver as freiras, que se preocupam tanto com o miúdo, tão fofas!) Além disso, os miúdos são o mote para um pedaço de enredo mesmo triste, que lança a Charley noutra missão de salvamento, pela qual eu estava mesmo a torcer.

Acho que o enredo menos necessário era o dos mafiosos, mas sem uma situação que colocasse a Charley em perigo mortal, isto não era um livro das Campas, pois não? E permitiu voltar a ver a agente Carson, do FBI, que por outro lado já tinha dado um certo dossier de um certo caso à Charley, relacionado com alguém que ela conhece. E creio que a Charley, sem revelar muito, põe a agente Carson na pista correcta, por isso espero ver este ponto explorado no próximo livro.

Entre coisas que não ficaram resolvidas, temos o Mr. Wong, que uma série de gente anda a vê-lo e a ficar nervosa com o que vê dele, o que me deixa a mim nervosa só de pensar no que a Darynda tem em mente para ensarilhar ainda mais a Charley. (Ou então pode ser uma Chekov's gun, pronta para resolver algum problema mais tarde.) De qualquer modo, estou intrigada. Assim como gostava de saber o que é que o pai da Charley está a tramar... tendo em conta o que ele já fez, não me parece que seja propriamente coisa boa.

Gostei da introdução do Dealer, um antagonista cuja posição é ambígua, e que pode ou não vir a ser útil à Equipa Charley nas ameaças sobrenaturais vindouras. Parece-me um personagem interessante e com potencial. Falando nas ameaças vindouras, a mitologia da Ceifeira e dos problemas que esperam a Charley é algo desenvolvida neste volume, o que me deixa sempre um pouco nervosa. Tenho a sensação que se está a preparar tudo para este grande evento no futuro, e só espero mesmo que seja grandioso, e não desaponte.

Continuo a adorar o elenco de personagens secundários, que compõem um belo ramalhete, cheio de idiossincrasias próprias, sempre fantasticamente caracterizado, e que me diverte imenso. Não há personagem que eu não me divirta a seguir, e todos merecem um bónus por terem de aturar o humor pateta e por vezes inapropriado da Charley. É outra coisa em que a autora se tem especializado, trabalhar bem múltiplos personagens secundários com mestria.

Quanto à Charley... continua com o mesmo humor bizarro que me põe a rir que nem uma perdida, se bem que assumo que o humor dela não é para todos, é consumido melhor em pequenas doses, e que quem não a conhece há de ficar a olhar a tentar perceber o que lhe saiu da boca. Um gosto adquirido, portanto. Mas é tão divertida, e tão dedicada a ajudar tudo e todos, mesmo com prejuízo próprio.

Que é uma das coisas que o Reyes lhe aponta, e aqui tem mesmo razão. E por falar nele, estou a gostar finalmente mais do Reyes, porque finalmente percebeu que a melhor maneira de lidar com a Charley não é tentar pará-la ou esconder-lhe coisas, mas sim dar-lhe espaço e ajudar quando é necessário - o que acaba por ser mais frequente do que se esperaria. Diverti-me com a parte do enredo em que a Charley o fez sofrer um bocadinho no que toca a um certo assunto, mas o Reyes também aproveitou a situação para se meter com a Charley.

É satisfatório vê-los finalmente a encontrar um território comum enquanto casal (heh, tendo em conta o que acontece aos respectivos quartos...), a habituar-se aos ritmos um do outro, e a trabalhar em equipa (quando a Charley não se lança às coisas sem pensar, isto é). Também vejo o Reyes mais bem humorado, a integrar-se nesta grande família que gira à volta da Charley Davidson, e a lidar relativamente melhor com o seu passado, sendo um pouco menos reclusivo nesse assunto. Tendo em conta que isto eram aspectos da sua personalidade que achava problemáticos e que me faziam não gostar muito dele, está a subir na minha consideração.

O fim é um pouco ominoso, não por terminar mal ou em cliffhanger, mas é revelada uma situação que não sei muito bem como é que a autora vai explorar. De qualquer modo, estou super curiosa e intrigada com toda a coisa. Aguardo por novos desenvolvimentos.

E pontos bónus para a edição, que inclui no fim uma cena do livro sob o ponto de vista do Reyes. Não é sempre que incluem estes extras, por isso fico contente.

Título original: Sixth Grave on the Edge (2014)

Páginas: 312

Editora: Círculo de Leitores

Tradução: Ana Lourenço

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