segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Leitura Conjunta - Jane Eyre, 2ª parte

A minha opinião para a leitura conjunta deste livro, relativa à segunda parte (Capítulos XIV a XXV). Poderão ler a opinião da Rita no blog A Magia dos Livros.

Esta parte desenvolve melhor a curiosa relação que se cria entre a Jane e o Mr. Rochester. Enquanto que este é pouco convencional e peculiar, a Jane não se deixa intimidar nas trocas de ideias que têm, sendo esperta e retorquindo sem medo às ideias "doidas" do interlocutor. Creio que é aqui que se forma um laço especial entre eles, pois o Mr. Rochester fala com a Jane como uma igual, quando o normal na época era desprezar uma mulher, ainda para mais uma perceptora.

A Jane aprende bastante com a sua experiência de viajar e sonha ela própria fazê-lo; uma coisa que achei significativa é que já aqui a Jane consegue fazer uma avaliação certeira do Mr. Rochester e dos seus defeitos, mas também lhe encontra qualidades redentoras. Entretanto, a pequena Adèle, francesa, fraca falante de inglês, vaidosa, mimada, é por um lado desprezada pelo próprio tutor à frente dela, mas por outro ele esforça-se para cuidar dela quando não o tinha de fazer - é uma situação que me deixa algo perplexa.

Pelo meio, estão a acontecer coisas muito estranhas na casa, gargalhadas pelo ar, atribuidas a Grace Poole, uma empregada que vive à parte do resto da casa. Mas quando Jane salva o Mr. Rochester de morrer queimado na própria cama, não deixa de se perguntar em relação ao mistério da casa, não deixando no entanto de ser discreta (e é aqui que eu me irrito com o enredo, porque se a Jane tivesse sido mais desconfiada nestes momentos não teríamos tanto coração partido lá para a frente).

É nesta altura que a Jane se apercebe dos seus sentimentos para com o dono da casa, mas consciente do muito que os separa, tenta escondê-lo. Chega a Thornfield Hall um grupo de pessoas amigas do Mr. Rochester, no qual se inserem as Ingram. Que senhoras tão arrogantes, mal educadas para aqueles abaixo delas (como uma perceptora) e tão más para com a Adèle, que não tem culpa nenhuma da educação que teve antes da Jane. A Mrs. Ingram chega a lembrar à Jane a tia, a Mrs. Reed, e a Miss Blanche Ingram tem tudo para fazer sofrer a Jane, ao correrem rumores que o Mr. Rochester e ela se vão casar.

Um estranho, Mr. Mason, chega a Thornfield e deixa o Mr. Rochester aflito. Durante a noite mete-se em sarilhos com o ser doido no quarto escondido (que a Jane pensa ser a Grace Poole), e caramba, nem mesmo assim a Jane tenta perceber o que se está a passar. Entretanto é chamada a Gateshead, por causa da tia, que está a morrer. Lá, encontra as primas muito mudadas e quase não as reconhece.

A tia, por sua vez, teve aquilo que passa por um ataque de arrependimento e conta à Jane que esta tem um tio por parte do pai que a procurou, e que tem fortuna. A tia disse-lhe que ela havia morrido, por pura vingança contra a Jane e as últimas palavras que dissera à tia em criança. (A sério, ficar ofendida pelo que sai da boca de uma criança? Que grande flor de estufa, esta tia...) A Jane perdoa-lhe, admitindo que em criança era exaltada, mas não vingativa. A tia morre, e a Jane dá-se conta que não tem pena de que tenha acontecido, mas sim do quantidade de sofrimento envolvido na morte da tia.

Jane regressa a Thornfield, sentindo-a já como sua casa, e finalmente um acontecimento ridículo (no bom sentido) e muito esperado acontece, o Mr. Rochester pede a Jane em casamento. Por um lado, que rufia, ele, fazendo a Jane pensar que se ia casar com a Miss Ingram para a fazer morrer de ciúmes; por outro, achei interessante que nesta parte da leitura, e especialmente neste momento, a autora sugira que há algum tipo de ligação psíquica entre os dois, com uma quase leitura de pensamentos.

Outra razão para eu classificar o Mr. Rochester de rufia é a maneira de ele lidar com a Jane, que parece demonstrar que não a conhece assim tão bem. Quase que tenta sufocá-la com presentes, quando ainda nem estão casados, e a independência da Jane não deixa que tal aconteça. Felizmente ela sabe lidar com ele, comparando-os mesmo a fogo e gelo ou algo parecido. Também gostei duma comparação deles que a autora faz com um castanheiro em Thornfield, que foi rasgado por um relâmpago, mas cujas duas partes continuam entrelaçadas. Creio que é bastante ilustrativo de toda a sua história.

A Jane decide escrever ao tio, mas entretanto a sua atenção é desviada para o casamento, particularmente para algo que acontece duas noites antes: um espectro (a "Grace Poole", que coitada apanha com as culpas de tudo) entra-lhe pelo quarto adentro e rasga-lhe o véu. E aqui, quando a Jane confessa ao Mr. Rochester esta coisa que aconteceu e os sonhos (premonitórios, diria) que teve, fico outra vez com vontade de esganar o Mr. Rochester: sabendo o que ele está a esconder, só queria que ele tivesse a coragem de confessá-lo à Jane.

E esta parte acaba com a Jane a acordar no dia do casamento. Como sei o que aí vem, estou preparada para a desgraça. E para ter vontade de esganar o Mr. Rochester outra vez...

Sem comentários:

Enviar um comentário