A minha opinião para a leitura conjunta deste livro, relativa à terceira parte (Capítulos XXVI a XXXVIII). Poderão ler a opinião da Rita no blog A Magia dos Livros.
O primeiro capítulo desta fase de leitura descreve-nos a tentativa de casamento de Jane e do Mr. Rochester. A Jane sente-se nervosa, nem se reconhece ao espelho; e o Mr. Rochester está apressado, quase bruto, até como que arrasta a Jane para a igreja. Mas naquele momento crucial do "falem agora ou calem-se para sempre", o Mr. Mason e um advogado intervêm: o Mr. Rochester já é casado! É mais uma das curiosas coincidências da narrativa: o Mr. Mason descobriu o casamento através do conhecimento que tem com o tio da Jane da Madeira, ao qual ela tinha escrito.
O Mr. Rochester confessa e Bertha, a esposa, é-nos apresentada: está louca, quase selvagem, e violenta. A Bertha pareceu-me quase um estereótipo do louco no século XIX. Tive um pouco pena dela, pois no nosso tempo seria tratada adequadamente e não seria reduzida a um estado quase animalesco.
Após isto, a Jane sabe que tem de se ir embora, mas é tão difícil fazer a coisa certa. Perdoa o Mr. Rochester, provavelmente mais facilmente do que é ao leitor perdoar-lhe por querer dar cabo da vida à nossa Jane. Ainda por cima põe-se a dificultar as coisas à rapariga, não a querendo deixar ir. Por vezes, a sua impetuosidade impede-o de pensar no carácter da Jane e de perceber se ela está confortável com uma situação ou não.
Depois o Mr. Rochester conta o seu lado da história e não é possível deixar de me compadecer com a sua história, especialmente pelo papel terrível que a própria família teve, enganando-o e levando-o a casar. Este capítulo é dos mais interessantes, pois para além da narrativa do Mr. Rochester, temos uma fala dele que nos mostra como vê a Jane. No entanto, a Jane sabe que para se respeitar a si própria e aos seus princípios, tem de sair de Thornfield Hall, ou não conseguirá resistir.
Foge. Mas por força das circustâncias rapidamente se vê desamparada e fraca, a passar fome. Providencialmente, é acolhida na casa dos Rivers, Mary, Diana e St. John (e já agora, que raio de pais é que chamam "S. João" ao filho?). Estes não tinham que a ajudar, mas auxiliam na sua recuperação e tratam-na como um dos seus - dá-se muito bem com as duas irmãs, estudando até com elas, e St. John arranja-lhe um emprego, como professora numa escola para as meninas da aldeia. Por esta altura ocorre outra coincidência, em que os Rivers recebem a notícia da morte de um tio John, que estava zangado com o pai deles, e que deixou 20000 libras a outra sobrinha (que não é outra senão a Jane).
O St. John Rivers tem um feitio... estranho. É muito inteligente, mas calado, meditabundo. Podia chegar longe com as suas capacidades, ainda para mais tendo o interesse de uma jovem, Rosamond Oliver, filha de um homem influente na região. Mas tem um espírito inquieto (à semelhança da Jane) e meteu à força toda na cabeça que há de ganhar o céu e tornar-se missionário na Índia, e nada o demove. Isto é, é casmurro que nem uma mula. É claro que depois de lidar com o Mr. Rochester, lidar com o St. John é canja para a Jane.
Entretanto, mais uma coincidência, o St. John vê o verdadeiro nome da Jane (ela tinha-se apresentado com um apelido falso) num dos papéis de desenho dela e cedo descobre que é a prima herdeira do tio da Madeira e apresenta-lhe a história dela, tal como a descobriu. A Jane devia herdar 20000 libras, mas acha que está mal o tio da Madeira deixar-lhe tudo a ela, e divide com os primos, cabendo 5000 a cada um (o que já é uma quantia considerável, a crer na Mrs. Bennet, que ia tendo uma coisa com as 5000 libras anuais do Mr. Bingley... sorry, história errada).
É aqui que, estando a chegar o tempo de ir para a Índia, o St. John tem uma ideia bastante ridícula: a Jane casar com ele. E é muito insistente no assunto, convicto que a Jane será uma boa esposa de missionário e feita para trabalhar e tal (devia ir com o Mr. Darcy tirar um curso de "Como fazer um pedido de casamento"... e mais um desvio à história errada). É claro que a Jane recusa, e sugere ir apenas como irmã, porque é quase isso para ele.
Mas o senhor Correcto diz que não, que pareceria mal, blah blah blah... (devia estar preocupado com as suas hipóteses de ir para o paraíso) e insiste, e insiste, e insiste, e insiste, e insiste. E a Jane recusa e volta a recusar. E muito bem, por sinal. A Jane sabe que com o feitio do St. John estaria presa, restringida, condenada. E deseja manter a sua independência de espírito e coração. É claro que o St. John não a compreende neste desejo e finalmente amua, tratando-a durante o resto do tempo com uma certa frieza.
Estes capítulos são algo intensos, graças ao feitio casmurro do St. John. Chega a uma altura que a sua insistência quase faz a Jane aceitar, mas mais uma daquelas coincidências estranhas ocorre e à Jane parece-lhe ouvir o Mr. Rochester a chamar por ela. É outra vez aquela ligação quase psíquica que eles têm. E ela parte rapidamente para Thornfield Hall, encontrando a mansão destruída.
Na estalagem da terra mais próxima, descobre o que aconteceu. Thornfield ardeu num incêndio ateado pela Bertha, que morreu. O Mr. Rochester, ao tentar com que toda a gente saisse, foi apanhado por um barrote ou algo do género e ficou cego e sem uma mão. A Jane dirige-se para Ferndean Manor, onde ele agora reside, e compadece-se de ver um espírito tão vivo assim restringido. Mas feliz por o ver, cedo se junta a ele. O reencontro é delicioso, a presença da Jane reaviva-o e até tem ciúmes ao saber do primo dela.
Entendem-se e casam. De certo modo, é um casamento mais acertado por tudo o que passaram. O Mr. Rochester expiou a tentativa de casamento bígama, e a sua vida devassa, com a tragédia em Thornfield. A Jane cresceu e tem algum dinheiro, pondo-a de certo modo em pé de igualdade com o Mr. Rochester, que já não precisa de a encher de vestidos e outros bens materiais. É em todos os modos um casamento de iguais, intelectualmente, emocionalmente, monetariamente, sem manipulações e patronizações, um casamento de harmonia, e felicidade.
O livro termina com uns parágrafos dedicados ao St. John, que viveu e morreu para a sua Missão, sendo um apontamento religoso que mostra como a posição da Jane é diferente neste aspecto. A Jane vive os pequenos prazeres da sua vida mundana sem culpas.
E... c'est fini. Não pensei que fosse levar tanto tempo, mas tinha muita coisa a comentar. Para todos os que ainda estão a ler, karma points! E obrigada por lerem.
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