sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Rapaz do Pijama às Riscas, John Boyne


Opinião: Ok, a minha opinião vai ser na direcção contrária de todas as outras, mas este livro incomodou-me mesmo, e tenho de deitar isto cá para fora.

Costumo afastar-me das histórias que aconteçam na Segunda Guerra Mundial, porque são sempre tão tristes e promotoras de lágrimas, e eu dou por mim mais deprimida do que quando comecei o livro (ou filme). Mas aqui até teria agradecido chorar baba e ranho (estranho, eu sei), porque a alternativa foi sentir-me irritada, e estupidificada pelo autor, e ofendida pela história.

Muito se disse sobre a ingenuidade de Bruno. Não é credível num miúdo de 9 anos, filho dum oficial alemão, que toda a vida teria sido exposto a propaganda anti-judaica. (Ele nem sabe o que um judeu é.) O autor já tem defendido que "é uma fábula", e compreendo que esteja a tentar fazer um argumento acerca do perigo da ignorância.

O problema é que outros livros tocam nesse tema duma maneira que faz muito mais sentido. (A Rapariga que Roubava Livros vem-me à memória.) Aqui, a estupidificação de Bruno leva a que o leitor (neste caso, eu) se sinta tratado como um idiota pelo autor, porque toda a "efabulação" é tão óbvia, que afinal serve para quê, exactamente?

Nem vou discorrer muito sobre a insensibilidade de Bruno. Conhece o Shmuel, passa um ano a falar com ele (e entretanto deve fazer 10 anos... os miúdos de 10 ano NÃO SÃO tão estúpidos como o Bruno), vê-lo a definhar e passar fome, chega a levar-lhe comida, mas ups, come metade no caminho porque tinha fome? *suspiro* Acho que ao fim de um ano de convivência com o Shmuel ele ter-se-ia apercebido de muito coisa errada com aquela situação.

O final então é de gritos, e é a parte com que me senti mais ofendida. Deve um acontecimento trágico que envolve um pequeno rapaz alemão, dar dimensão ao sofrimento e assassinato de seis milhões de judeus, mais uns milhões de homossexuais, ciganos, e outras minorias? Sim, o que acontece ao Bruno é muito triste, mas muitas mais pessoas morreram nas câmaras de gás, e a ideia que este fim nos transmite é que o erro que leva este rapazinho para a câmara é que é trágico, e que as outras pessoas mereciam lá estar. Isto ficou-me entalado na garganta duma maneira que nem tenho palavras para exprimir a minha fúria quando acabei o raio do livro.

Quanto mais penso no livro, mais irritada fico com ele, se bem que a irritação se está a transformar lentamente numa tristeza por tê-lo lido. Nunca pensei ver o dia para tal, mas preferia mesmo não o ter lido, ao menos podia continuar ignorante e feliz da vida. Agora tenho mais uma razão para recear ler coisas sobre a Segunda Guerra Mundial, e não é pelo potencial de choradeira, é pelo potencial de exposição a outro desastre destes.

Enfim, é a minha opinião, vale o que vale. Não levo a mal quem gostou, até compreendo as razões para tal, por isso não me levem a mal por não ter gostado. Gostos são gostos, e o meu chocou contra este livro como um meteorito contra a superfície terrestre. Ou como os americanos dizem, it rubbed me in a (very) wrong way.

Título original: The Boy in the Striped Pajamas (2006)

Páginas: 176

Editora: Asa

4 comentários:

  1. «Se Isto É um Homem», de Primo Levi. Pesado, mas obra-prima, superiormente escrita.

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    1. Obrigada pela recomendação. É daqueles que está na calha há algum tempo, mas ainda não lhe cheguei.

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  2. Não me apercebi de teres lido este, mas coincidentemente vi o filme há umas semanas no Hollywood, e fiquei doente. O___O Eu nem sabia que a história era sobre o Holocausto (aliás, até pensei que o livro envolvia fantasia, não me perguntes porquê, era a ideia que tinha, nunca me dei ao trabalho de ler a sinopse) e quando me apercebi estive quase para mudar de canal, mas continuei a ver, e damn...
    Também me custou engolir como é que era possível o Bruno não perceber que o puto estava na pior das situações, e ia para a beira dele todo contente, como se nada de errado se estivesse a passar. Não sei... já não sei o que é ter 10 anos, será que eu no lugar dele chegava lá? Dunno. No filme não deu para perceber que se passa 1 ano, ele visita o Shmuel poucas vezes.
    A ideia com que fiquei é que a história só tinha como objectivo abrir os olhos do pai do Bruno. O que não faz grande sentido já que ele era só um oficial entre muitos. Nem que ele se demitisse do cargo, outro tomaria-lhe o lugar. So... pointless.

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    1. Pointless é uma palavra boa para a coisa. Estou a ver que o filme não melhora muito a história... estava com esperança que o fizesse. :/

      Acho que os miúdos de 9-10 são bastante perceptivos, não é que eu me lembre particularmente de ter essa idade, mas já passaram a idade dos porquês, e mais um par de anos e estão na puberdade. Ugh, toda a ingenuidade do Bruno é tão irreal e pouco credível.

      Bem, passa-se um ano desde que o Bruno chega a "Acho-vil" até à brincadeira com o pijama, creio que passam umas semanas desde que chega até conhecer o Shmuel... mas mesmo assim, é quase um ano. O livro também só mostra alguns encontros, e a certa altura diz que "passou um ano desde que o Bruno chegou a Acho-vil" e pronto. *encolhe os ombros*

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